Ao contrário do que o titulo sugere, que a
presidente Dilma está governando o país ao lado de Collor e Sarney, isso não é
nenhuma observação original e brilhante. Não é isso que este artigo pretende
esboçar. A recente pesquisa de (in)popularidade do governo deixa prever duas
perspectivas politicas principais para os próximos três anos: o impeachment ou
a “sarneyzação”. Esta última mais provável.
Imbicado rumo ao solo, o governo expressa
poucos sinais de forças para uma arremetida. Os resultados econômicos ruins já
estão previstos até pelo menos a metade do mandato e dada a atual composição
politica do Legislativo, pelo menos até as eleições de mesa diretora que devem
ocorrer também no meio do mandato, não se vislumbra mudança positiva no cenário
político. Sem falar que é quase certo que um vetor de desidratação eleitoral do
PT deve influir decisivamente nas eleições municipais de 2016.
Considerando essa realidade, a presidente
Dilma terá apenas dois anos para recolocar o governo em uma posição favorável.
Se solucionar os problemas econômicos, for capaz de recompor a base do governo,
absorver com dignidade os resultados das eleições municiais de 2016 e ainda
promover ações efetivas que permitam uma retomada de popularidade em bases
reais.
São difíceis as condições de uma retomada
da posição do governo e de seu partido. Os atos e manifestações dos movimentos
“sociais” controlados, com discursos em defesa da Petrobras e contra a corrupção,
são ridículos e só contribuem para piorar o quadro. A força das ruas e a
posição da oposição parlamentar conservadora podem ser decisivas. O governo
depende de resultados de outros jogos para se classificar. Se as forças das
ruas se ampliarem, a balança pende para o impeachment; se não, a tendência de
maior força politica é a “sarneyzação”.
O termo “sarneyzação” é utilizado para
explicar um quadro politico marcado pela força da oposição nas ruas e na
institucionalidade, de tal forma que não seja forte demais para derrubar o
governo, mas forte o suficiente para paralisá-lo. É uma espécie vitória por pontos,
diferente de um knock-out. Quanto mais tempo o governo e o PT permanecerem
nessa posição, paralisado, acuado nas cordas, mais seu desgaste ampliará e mais
certa será sua derrota na contagem final dos juízes dessa luta, os
eleitores.
O termo talvez não se aplique com precisão
por que o governo Sarney herdou o Brasil recém-saído de uma ditadura militar,
com pouca ou nenhuma experiência democrática, com instituições imaturas, e
mergulhado numa crise econômica gigantesca, fruto de um longo processo de
endividamento externo. Dilma, por outro lado, tem conseguido tropeçar nas
próprias pernas. O PT e seus aliados não têm mais capital politico para convencer
os eleitores de que alguém amarrou-lhes os cadaços.
Um governo paralisado, enfraquecido, tendo
a frente uma figura débil e semi-morta, e um partido no estagio mais agudo de
um ocaso politico, e tudo isso produzido por sua própria incapacidade de perceber
que tudo tem limites, embriagado pelo veneno do próprio poder, talvez possa dar
margem para a proposição de nova categoria analítica, a “dilmização”.
Assistimos isso aqui no Pará, num teatro menor, por isso menos dramático e
infinitamente menos trágico. Aos “esquerdo-lesos” que se preocupam com a “volta
da burguesia” ao poder, resta o consolo da certeza de que o caminho de retorno
do PSDB ao poder no Pará foi devidamente pavimentado, sinalizado e desobstruído
pelo próprio PT e pela ex-governadora Ana Júlia Carepa. O pesadelo dos
pesadelos é esse. A presidente pode ainda ser a depositária de uma ultima e
fatal culpa: o retorno dos bicudos ao Planalto.
* Mestre em desenvolvimento sustentável e presidente
da AEBA.
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