SILVIO KANNER *
Circula nas redes sociais um chamado
apócrifo de greve geral para 26 de junho. Será uma sexta-feira e o foco parece
bem preciso: impeachment. A possibilidade de um impedimento da presidente Dilma
Rousseff é cada vez mais real, e alguns analistas políticos já começam a
alertar para o temor de uma gestão Temer. As recentes pesquisas do Instituto
Datafolha, dando publicidade que a maioria dos brasileiros concorda com um
impedimento da “presidenta”, alertam para o fato, não menos importante, que
essa maioria ignora o que aconteceria neste caso e desconhece a pessoa do vice
presidente.
Os movimentos de massas, de uma forma
geral, por sua própria condição, não tem como apresentar um programa coeso de
solução politica em dado momento. Quanto mais simples o objeto, maiores suas
possibilidades de promover a cooperação. Estar de acordo com o Impedimento,
significa saber o que não se sequer, o que vai ocorrer após, ou o que se quer,
deve ser decidido posteriormente. Seria esperar demais dos participantes dos
protestos. Nesse jogo de fatos populares e palacianos, dois dados novos ganham
destaque, um em cada um desses espaços. Nos palácios, a recente decisão do TCU
sobre as ilegalidades dos “empréstimos disfarçados” das estatais para o Tesouro
– burla direta da Lei de Responsabilidade Fiscal. Nas ruas, a proposta de greve
geral.
No palácio, o PT parece ter perdido o posto
de comando – os analistas falam de um “parlamentarismo branco” e a
transferência da pasta de articulação politica do Planalto para o gabinete da
Vice Presidência fala por si. Nas ruas, depois de mais de três décadas de
hegemonia, através do comando da CUT, o PT está sob forte ameaça. Até agora
todas as manifestações contra o governo reuniram uma quantidade sensivelmente
maior que as manifestações a favor, dirigidas pela CUT e seus aliados. Diante
delas, as manifestações da CUT são ridículas. A proposta de greve geral em
junho pode ser um capitulo decisivo desta disputa.
O fato é que o PT, através da CUT, comanda
as máquinas sindicais mais poderosas do País. Possui um contingente de
funcionários, dirigentes liberados do trabalho e assessores, capaz por si só de
permitir uma pequena agitação em frente de algum prédio, ou alguma rodovia. As
bases dos sindicatos comandados pela CUT não comparecem a essas ações e, dado
resultado da pesquisa Datafolha e o clima do País, diria até que são contra
essa posição de seus “dirigentes sindicais”. Por outro lado as manifestações
pelo impedimento se realizam nos domingos e reúnem principalmente setores da
classe média, aos milhares. Não podem ser assim classificadas de manifestações trabalhistas.
O sindicalismo está ao lado do governo. Mas
sua arma sempre foi a greve como ferramenta de luta por melhores contratos
salariais e outras pautas. A greve é a alma do sindicalismo, sua expressão por
excelência. Se a proposta de greve geral se generalizar, e tudo indica que sim,
as massas que protestam contra o governo devem confrontar a CUT em seu próprio
terreno. A greve geral, certamente adotará um caráter de luta da classe
trabalhadora, pelo que representa simbolicamente a greve.
A CUT vai ser contra a greve geral? Tudo
indica que sim. E se as categorias exigirem assembleias para votá-la? A CUT não
vai convocar. E se realmente o Brasil parar com piquetes nas portas das
empresas, bancos e escolas? A CUT vai olhar e criticar. E se forem realmente os
trabalhadores a parar? A CUT vai denunciar o “blecaute” patronal. A as demais
centrais sindicais da “esquerda”, vão ficar ao lado da CUT como tem feito? Tudo
indica que sim.
Quando o governo Sarney estava paralisado,
pelos idos de 1987-1989, a greve geral foi a principal tática de luta da CUT,
então comandada por Lula, para confrontar o governo. Dependendo de sua força, a
greve geral, se houver, pode derrubar bem mais que o governo Dilma. Pode ir
além e ajudar a varrer a burocracia sindical parasita da CUT, CTB e outros
grupos que utilizam os sindicatos com objetivos pessoais e
político-partidários.
* Mestre
em desenvolvimento sustentável e presidente da AEBA, a Associação dos Empregados
do Banco da Amazônia.
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