segunda-feira, 20 de abril de 2015

OPINIÃO – Greve Geral? E a CUT, vai?

SILVIO KANNER *

Circula nas redes sociais um chamado apócrifo de greve geral para 26 de junho. Será uma sexta-feira e o foco parece bem preciso: impeachment. A possibilidade de um impedimento da presidente Dilma Rousseff é cada vez mais real, e alguns analistas políticos já começam a alertar para o temor de uma gestão Temer. As recentes pesquisas do Instituto Datafolha, dando publicidade que a maioria dos brasileiros concorda com um impedimento da “presidenta”, alertam para o fato, não menos importante, que essa maioria ignora o que aconteceria neste caso e desconhece a pessoa do vice presidente.
Os movimentos de massas, de uma forma geral, por sua própria condição, não tem como apresentar um programa coeso de solução politica em dado momento. Quanto mais simples o objeto, maiores suas possibilidades de promover a cooperação. Estar de acordo com o Impedimento, significa saber o que não se sequer, o que vai ocorrer após, ou o que se quer, deve ser decidido posteriormente. Seria esperar demais dos participantes dos protestos. Nesse jogo de fatos populares e palacianos, dois dados novos ganham destaque, um em cada um desses espaços. Nos palácios, a recente decisão do TCU sobre as ilegalidades dos “empréstimos disfarçados” das estatais para o Tesouro – burla direta da Lei de Responsabilidade Fiscal. Nas ruas, a proposta de greve geral.
No palácio, o PT parece ter perdido o posto de comando – os analistas falam de um “parlamentarismo branco” e a transferência da pasta de articulação politica do Planalto para o gabinete da Vice Presidência fala por si. Nas ruas, depois de mais de três décadas de hegemonia, através do comando da CUT, o PT está sob forte ameaça. Até agora todas as manifestações contra o governo reuniram uma quantidade sensivelmente maior que as manifestações a favor, dirigidas pela CUT e seus aliados. Diante delas, as manifestações da CUT são ridículas. A proposta de greve geral em junho pode ser um capitulo decisivo desta disputa.
O fato é que o PT, através da CUT, comanda as máquinas sindicais mais poderosas do País. Possui um contingente de funcionários, dirigentes liberados do trabalho e assessores, capaz por si só de permitir uma pequena agitação em frente de algum prédio, ou alguma rodovia. As bases dos sindicatos comandados pela CUT não comparecem a essas ações e, dado resultado da pesquisa Datafolha e o clima do País, diria até que são contra essa posição de seus “dirigentes sindicais”. Por outro lado as manifestações pelo impedimento se realizam nos domingos e reúnem principalmente setores da classe média, aos milhares. Não podem ser assim classificadas de manifestações trabalhistas.
O sindicalismo está ao lado do governo. Mas sua arma sempre foi a greve como ferramenta de luta por melhores contratos salariais e outras pautas. A greve é a alma do sindicalismo, sua expressão por excelência. Se a proposta de greve geral se generalizar, e tudo indica que sim, as massas que protestam contra o governo devem confrontar a CUT em seu próprio terreno. A greve geral, certamente adotará um caráter de luta da classe trabalhadora, pelo que representa simbolicamente a greve.
A CUT vai ser contra a greve geral? Tudo indica que sim. E se as categorias exigirem assembleias para votá-la? A CUT não vai convocar. E se realmente o Brasil parar com piquetes nas portas das empresas, bancos e escolas? A CUT vai olhar e criticar. E se forem realmente os trabalhadores a parar? A CUT vai denunciar o “blecaute” patronal. A as demais centrais sindicais da “esquerda”, vão ficar ao lado da CUT como tem feito? Tudo indica que sim.
Quando o governo Sarney estava paralisado, pelos idos de 1987-1989, a greve geral foi a principal tática de luta da CUT, então comandada por Lula, para confrontar o governo. Dependendo de sua força, a greve geral, se houver, pode derrubar bem mais que o governo Dilma. Pode ir além e ajudar a varrer a burocracia sindical parasita da CUT, CTB e outros grupos que utilizam os sindicatos com objetivos pessoais e político-partidários.

* Mestre em desenvolvimento sustentável e presidente da AEBA, a Associação dos Empregados do Banco da Amazônia.


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