Habitualmente intransigentes com os deslizes éticos na esfera pública, pelo menos quando assim lhes é conveniente, também no Pará os barões da comunicação costumam ser condescendentes com seus próprios tropeços na matéria. Esta é a inevitável conclusão na qual se desemboca, se confirmada a denúncia feita ao Blog do Barata sobre o ranking dos principais devedores da Rede Celpa, liderado pelos dois maiores grupos de comunicação do Estado, de propriedade das famílias Maiorana e Barbalho, cuja disputa comercial se estende à política, o que acabou por torná-las inimigas figadais uma da outra. O elenco de inadimplentes da Rede Celpa inclui da Delta Publicidade S/A, que edita os dois principais jornais dos Maiorana, O Liberal e o Amazônia Jornal, e o Diário do Pará Ltda, razão social do Diário do Pará, o jornal dos Barbalho. E passa pela Televisão Liberal Ltda, a razão social da TV Liberal, dos Maiorana, afiliada da Rede Globo, e pela Rede Brasil Amazônia de Televisão Ltda, a TV RBA, dos Barbalho, afiliada da Rede Bandeirantes.
A relação dos principais inadimplentes da Rede Celpa – cujos débitos somados chegam a R$ 16.463.918,70 - surpreendentemente ainda inclui, porque nominalmente, como pessoa física, Romulo Maiorana Júnior (foto), o Rominho, presidente executivo das ORM, Organizações Romulo Maiorana, o grupo de comunicação dos Maiorana. Pessoalmente rico, como permite entrever sua faraônica mansão no Lago Azul, Rominho é, hoje, um inimigo implacável do senador e ex-governador Jader Barbalho, o patriarca da nova geração dos Barbalho e o morubixaba do PMDB no Pará. A mais longeva liderança política da história do Estado, Jader carrega o estigma de político corrupto, no rastro de uma inexplicável evolução patrimonial, que fez dele um homem subitamente rico, mácula sempre recordada pelos Maiorana nos seus entreveros com os Barbalho. Rominho, além de responder na Justiça a acusação de ter sido beneficiário de falcatruas na Sudam, a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia, vive sob o espectro do passado, como contrabandista, do pai, o jornalista e empresário Romulo Maiorana, já falecido, antes de tornar-se um próspero comerciante do ramo de vestuário, com a cadeia de lojas RM Modas, e posteriormente um bem-sucedido empresário da comunicação, com o grupo Liberal, hoje ORM. Essa passagem nada lisonjeira da biografia do patriarca dos Maiorana é frequentemente evocada pelo Diário do Pará, dos Barbalho, nas eventuais trocas de insultos com Rominho, sempre que este achincalha Jader, valendo-se da força de O Liberal,
A hostilidade mútua entre os Maiorana e os Barbalho recrudesceu, inclusive com trocas de insultos através dos respectivos jornais, depois do ressurgimento político de Jader, responsável pela engenharia política que defenestrou o PSDB do governo na sucessão estadual de 2006, quando a ex-governadora petista Ana Júlia Carepa derrotou o ex-governador Almir Gabriel. Um condimento a mais, na disputa entre as duas famílias, foi o Diário do Pará, o jornal dos Barbalho, superar, em vendagem, O Liberal, o principal diário dos Maiorana. É também obviamente incômodo aos Maiorana em geral, e a Rominho em particular, a composição política entre o governador tucano Simão Jatene, que hoje lidera o PSDB no Pará, e Jader Barbalho, contemplado com um expressivo quinhão de secretarias no atual governo. De resto, o presidente executivo das ORM se ressente, mas sem poder esbravejar, como é do seu temperamento, do grupo de comunicação dos Maiorana não mais ser privilegiado com a fatia do leão na partilha da verbas publicitária neste segundo mandato do governador Simão Jatene, tal qual ocorreu nos 12 anos de sucessivos governos do PSDB, entre 1995 a 2006. Esse período de 12 anos corresponde aos dois mandatos consecutivos do ex-governador Almir Gabriel, de 1995 a 1998 e de 1999 a 2002, e ao primeiro mandato do governador Simão Jatene, que vai de 2003 a 2006. Neste seu segundo mandato como governador, a ser cumprido de 2011 a 2014, Jatene – por implicações políticas, que passam por sua aliança com Jader Barbalho – se viu compelido a promover uma divisão mais equânime da verba publicitária do governo.