No rastro do seu rompimento com o coronel Jarbas
Passarinho - ex-governador, ex-senador e ex-ministro do Trabalho, da Educação e da Previdência Social durante a ditadura, e mais tarde, já na
democracia, ministro da Justiça do ex-presidente Fernando Collor -, o coronel Alacid
Nunes, igualmente revelado pelo golpe militar de 1º de abril de 1964 e então governador do Pará, rompeu também com o Palácio do Planalto e apoiou a
candidatura de Jader Barbalho, do PMDB, na sucessão estadual de 1982, ao mesmo tempo em que os deputados a ele ligados abandonavam o PDS. Com isso, deixou de honrar o compromisso assumido com o regime militar de, ao final do seu segundo mandato como governador, apoiar o candidato ao governo indicado por Jarbas Passarinho. Assim,
com o decisivo apoio de Alacid, Jader derrotou o empresário Oziel Carneiro, do
PDS, o candidato da ditadura militar ao governo, apoiado por Jarbas Passarinho, derrotado, na disputa pelo Senado, por Hélio Gueiros, que resgatara seus direitos políticos, após ter seu mandato
de deputado cassado pela ditadura. Para a derrota de Jarbas, contribuiu, mais
que o desgaste da ditadura militar, sua continental arrogância. Ele dispensou o
recurso da sublegenda, que permitia o lançamento, pelo mesmo partido, de mais de um candidato para um mesmo
cargo e cujas votações eram somadas, favorecendo o mais
votado, a cujos votos eram agregados os votos dos demais candidatos. O PMDB de
Jader Barbalho, porém, optou por valer-se da sublegenda, e lançou contra Jarbas
Passarinho, na disputa para o Senado, três candidatos – Hélio Gueiros, então
íntimo de Jader; o deputado federal pelo PMDB João Menezes, já no seu ocaso
político; e Itair Silva, um competente advogado trabalhista, ao qual a
perspectiva de poder inebriava. Dessa soma de forças, resultou a eleição de
Hélio Gueiros para o Senado, em 1982, e o ocaso eleitoral de Jarbas Passarinho,
que só retornou ao Senado, em 1986, porque Jader Barbalho, já rompido com
Alacid Nunes, colocou a máquina administrativa a serviço da sua candidatura. Na
ocasião, Jarbas estava às voltas com o devastador câncer da sua esposa, dona
Ruth, e Jader foi incisivo. “Vá cuidar da dona Ruth que eu cuido da sua
eleição”, sentenciou o então governador, que cumpriu seu primeiro mandato até o
fim, para evitar entregar ao vice, Laércio Franco, de estreitos vínculos com o
ex-governador Alacid Nunes. Hábil, a despeito das desconfianças, Jader sempre manteve uma relação cordial com Laércio Franco. Quanto a Jarbas, a fatura pela eleição de 1986 seria apresentada em 1994, quando foi compelido a sair candidato ao governo do Pará, acabando derrotado no segundo turno por Almir Gabriel, do PSDB, enquanto Jader elegia-se senador, entregando o comando do Estado a Carlos Santos, um próspero comerciante, que também é compositor e cantor brega e protagonizou uma desastrosa administração, em seus nove meses de mandato.
Retornando aos fervilhantes anos 80: sagaz, para além de ter um projeto de
poder, que por razões óbvias não incluía Alacid Nunes, Jader tratou de alijar
este, que ardilosamente pretendia manietá-lo politicamente, possivelmente aspirando o retorno ao governo. Mas, como Jarbas Passarinho, Alacid igualmente não dispunha de luz
própria eleitoralmente. Órfão dos tempos de prende-e-arrebenta da ditadura militar,
quando se notabilizou por arrematar eventuais impasses com murros na mesa,
Alacid não teve fôlego para sobreviver sem o calor das imposições do regime dos
generais. Protagonizou, então, uma patética campanha para o Senado, em 1986, na
qual amargou uma acachapante derrota e quando só então denunciou os descalabros
do primeiro mandato de Jader Barbalho, do qual resultou o estigma de corrupto que
aderiu aquele que é, hoje, o morubixaba do PMDB no Pará e a mais longeva liderança
política da história do Estado. O marco do ocaso político de Alacid é a rasteira política de Jader, ocorrida a quando da escolha dos delegados
que representariam a Alepa no colégio eleitoral. Jader chamou para si os dividendos políticos pelos votos a favor de Tancredo e aproveitou para se livrar do aliado que se tornara incômodo. Alacid ainda conseguiu eleger-se deputado federal em 1990, pelo PFL, o Partido da Frente Liberal, originário da dissidência do PDS que apoiou Tancredo Neves no colégio eleitoral. Nas eleições de 1994, quando apoiou o tucano Almir Gabriel, Alacid dormiu reeleito deputado federal e acordou suplente, atropelado por Vic Pires Franco, também do PFL, um carismático jornalista, que acabou naufragando no seu compulsivo fisiologismo, potencializado pela soberba política, exacerbada após fazer da mulher, a jornalista Valéria Vinagre Pires Franco, vice-governadora, no primeiro mandato do governador tucano Simão Jatene.
Na sua ascensão política, Jader Barbalho, eleito governador, se cacifou
junto as grandes lideranças do PMDB com seu apoio irrestrito às campanhas das
Diretas-Já e do próprio Tancredo Neves para presidente, a serviço das quais colocou a máquina administrativa estadual. Determinado, ele não poupou sequer aliados históricos, como os comunistas do PCB, o Partido Comunista Brasileiro: quando as bandeiras vermelhas passaram a incomodar os militares, não pestanejou em reprimi-las no comício de Tancredo Neves em Belém, em 1984, preocupado em não ferir suscetibilidades na caserna. Com o alvorecer da Nova
República, ganhou prestígio nacional e, concluído seu primeiro mandato como
governador, tornou-se ministro da Reforma Agrária e, depois, da Previdência
Social do ex-presidente José Sarney. Sua ascensão, no plano nacional, naufragou
na esteira do feroz embate que travou, no início do novo milênio, com o então todo-poderoso ACM, Antônio
Carlos Magalhães, o babalorixá da Bahia, cuja liderança foi cevada pela ditadura militar, com a qual rompeu para apoiar Tancredo, balizado pelo oportunismo político. Jader derrotou ACM, tornando-se presidente do Senado, em uma vitória de Pirro. Acuado por denúncias retroativas de corrupção, que remetiam ao seu primeiro mandato como governador do Pará, viu-se compelido a, primeiro, abdicar da presidência do Senado e, depois, renunciar ao próprio mandato, para driblar a cassação iminente. Foi aí que
o estigma de político corrupto, alimentado pela súbita evolução patrimonial,
ganhou visibilidade nacional, via grande imprensa brasileira, e contra ele passou a conspirar, embora no quesito
improbidade Jader não se distinga de lideranças como o ex-presidente José Sarney,
o próprio ACM e Paulo Maluf, também personagens de súbita evolução patrimonial, sem que nenhum deles tivesse passado pelas vicissitudes
amargadas pelo ex-governador do Pará, que chegou a ser preso e algemado pela Polícia Federal, em
um episódio, pelo detalhe das desnecessárias algemas, de clara motivação
política. Maluf, por exemplo, apontado como um notório corrupto desde os tempos
da ditadura militar, não passou pelo constrangimento de portar algemas quando
foi preso pela Polícia Federal, juntamente com um dos filhos. Apesar de consensualmente reconhecido no Congresso Nacional como um hábil articulador político, razão pela qual é respeitado pelos inquilinos do Palácio do Planalto, Jader desde então opera nas sombras, evitando a exposição pública, poupando-se de novos desgastes. No Pará, contudo, o jaderismo fincou raízes, embora com futuro incerto, diante da fragilidade do herdeiro político do senador peemedebista, Helder Barbalho, um dos dois filhos do seu casamento com dona Elcione Barbalho, deputada federal pelo PMDB, que manteve indissolúvel os vínculos políticos com o ex-marido, apesar da separação traumática. Jader separou-se na esteira de um affaire com Márcia Centeno, sobrinha de dona Elcione e com a qual viria e se casar e ter filhos. Posteriormente, ele também se separou de Márcia Centeno, trocada por Simone Morgado, servidora de carreira da Sefa, a Secretaria de Estado da Fazenda e hoje deputada federal pelo PMDB, descrita, por quem tem acesso ao casal, como uma mulher apaixonada por seu companheiro.
Um comentário :
Em poucas linhas, o jornalista Barata sintetiza a história desses políticos. Parabéns!
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