A chacina ocorrida no rastro do acerto de
contas entre bandidos, do qual resultou o assassinato do cabo Antônio Marcos Figueiredo, o Pet,
faz emergir outra angustiante indagação. A polícia, em tese, nos protege dos
bandidos, mas quem não protege da polícia? Não se trata, diga-se logo, de
clamar pela parcimônia policial diante da bandidagem. Em absoluto. Trata-se da
lícita preocupação de não permitir que o aparato policial se deixe conspurcar
pela criminalidade e se junte aos quadrilheiros aos quais deveria reprimir,
como se dá hoje com a Polícia Militar no Pará, tal qual evidencia a chacina da
qual resultou o indiciamento criminal de 15 PMs. É de se lamentar, porém, que a
covardia moral do Ministério Público não lhe tenha permitido deflagrar uma
faxina ética na oficialidade da PM, majoritariamente ávida por sinecuras, em
detrimento de suas responsabilidades. E da qual é impossível deixar de
suspeitar diante do esgarçamento moral da corporação, reduzida a um abrigo de
bandidos fardados. Disso entende, quem disso cuida, consagra o adágio, ao
remeter ao deletério silêncio que torna inicialmente cúmplice, por omissão, aqueles
que convivem placidamente com ilícitos, até que deles passem a se beneficiar.
Os participantes
da chacina subestimaram a extensão do crime perpetrado e certamente não
contavam com a repercussão, na opinião pública, da matança protagonizada. Como
certamente não contavam com o destemor dos deputados Edmilson Rodrigues e
Carlos Bordalo, que foram até o limite possível permitido por suas atribuições.
Mas da ação policial, permeada pelas omissões desidiosas, emerge evidente o
sentimento de impunidade, no caso obviamente alimentado não só por um
ordenamento jurídico complacente e um Judiciário corrompido. A desenvoltura exibida
pelos criminosos fardados evidencia, de forma eloquente, que a oficialidade da
PM também se chafurda no pântano da bandidagem. Nada que surpreenda em quem
patrocina escandalosamente o desvio de função, abrigando-se, e abrigando os
apaniguados de menor patente, nos gabinetes militares de utilidade duvidosa, ou
em gabinetes refrigerados, de autoridades e políticos, deixando à marcê da
escalada da criminalidade o contribuinte que os sustenta.
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