Beto Andrade (à esq.): críticas ácidas, diante das balelas do governo. |
“O
governo assinou acordo em 2013, com a intermediação do TJE, e não cumpriu
pontos essenciais. Naquela ocasião, por exemplo, o governo se comprometeu a
implementar a jornada sem redução na remuneração dos professores, de realizar
concurso público, de encaminhar até março de 2014 a lei que unificaria o PCCR
da educação, e de reformar escolas e o prédio-sede da Seduc. Pois bem: nada
disso foi feito.” O desabafo é de Alberto Andrade, o Beto Andrade,
secretário-geral do Sintepp, ao comentar os desdobramentos da greve dos
professores da rede estadual de ensino, que atinge 113 municípios do Pará e
mantêm paralisados, estimativamente, 90% da categoria. Ele critica acidamente a intransigência do
governador tucano Simão Jatene e é igualmente acido em relação a desembargadora Gleide
Pereira de Moura, que concedeu uma graciosa liminar tornando ilegal a paralisação
dos professores, a despeito da qual a greve perdura. “Os trabalhadores em
educação avaliaram como absurda e uma afronta ao direito à greve a referida liminar”,
relata Beto Andrade. “A desembargadora se ateve apenas as informações
prestadas pelo governo Jatene e/ou as propagandas insistentemente veiculadas
contra nossa categoria. Nesta quarta esperamos que o TJE de fato escute as
argumentações e vejo o óbvio: que o governo mentiu ao tribunal”, fulmina Beto
Andrade, na entrevista abaixo, concedida ao Blog do Barata.
Qual a sua avaliação sobre o atual cenário da greve dos
professores da rede estadual de ensino, diante da liminar que torna ilegal a
paralisação?
Os trabalhadores em educação avaliaram como
absurda e uma afronta ao direito à greve a referida liminar. Independente
disso, nossa categoria mantém a greve com firmeza e esperança. A reação da categoria foi proporcional à
indignação à liminar. Numa verdadeira desobediência civil, nossa categoria
tomou as duas pistas da avenida Almirante Barroso, em frente ao TJE e exigiu
ser ouvida pela desembargadora. Já recorremos da decisão, cuja parcialidade é
latente. A desembargadora se ateve apenas nas informações prestadas pelo
governo Jatene e/ou nas propagandas insistentemente veiculadas contra nossa
categoria. Nesta quarta esperamos que o TJE de fato escute as argumentações e
vejo o óbvio: que o governo mentiu ao tribunal.
Qual o total de municípios nos quais os professores aderiram à
greve e qual, estimativamente, o percentual de adesão à paralisação, hoje?
Nossa greve chegou à uma marca histórica de
113 municípios, com a rede estadual paralisada. Se considerarmos que todos os
municípios com o maior número de escolas estão parados, podemos afirmar que
mais de 90% da rede estadual está em greve.
Como se situa hoje, na sua visão, a correlação de forças entre
as partes em litígio, diante do nível de adesão à greve e da intransigência do
governo em abrir, efetivamente, negociações?
O governo se demonstrou intransigente desde
o início. A decisão de atacar os trabalhadores em educação foi calculada e
covarde. Ocorre que, nem nas piores avaliações, Jatene e seus asseclas
esperavam por uma reação tão forte dos educadores. A categoria tem demonstrado
muita tenacidade e perseverança na luta. A tendência é que a greve se estenda e
se radicalize, visto que o governo quer demonstrar força a partir de um
sectarismo burro e desrespeitoso com a sociedade paraense. Vamos procurar todos
os meios possíveis de forçar o governo a, de fato, negociar. Para isso estamos
buscando apoio em todas as frentes possíveis. Esperamos que Jatene entenda que
a categoria está disposta a ir até onde for necessário para impedir tamanho
ataque.
A intervenção da Justiça, nos termos em que se deu, declarando a
paralisação ilegal, não fragiliza o Sintepp em sua interlocução com o governo,
já por si só difícil diante da inocultável intransigência da administração
Simão Jatene?
Sempre dizemos que nossa greve acaba
precisando enfrentar o Estado, representado em seus poderes. Não nos iludimos e
temos clareza que a tendência do Judiciário é ceder para os interesses do
governo. Entretanto, sabemos também que, mesmo com esta inclinação, a Justiça
paraense não pode se desmoralizar para satisfazer aos interesses de Jatene. O
governo vai explorar ao máximo esta injusta decisão, mas nossa categoria ainda
tem muito fôlego pra lutar e resistir. Por isso, como mencionei anteriormente,
continuaremos buscando formas de apoio e meios para forçar o governo a negociar
efetivamente.
Diante da clara iniquidade da liminar que tornou ilegal a greve
dos professores da rede estadual de ensino, o que esperar de uma eventual
audiência de conciliação, considerando a postura algo tendenciosa da
desembargadora Gleide Pereira de Moura?
Embora tenhamos a leitura de que há esta
tendência do Judiciário em se comportar como uma linha auxiliar do Executivo,
acreditamos que os fatos são inegáveis. O governo assinou acordo em 2013, com a
intermediação do TJE (Tribunal de Justiça do Estado), e não cumpriu pontos essenciais. Naquela ocasião, por
exemplo, o governo se comprometeu a implementar a jornada sem redução na
remuneração dos professores, de realizar concurso público, de encaminhar até
março de 2014 a lei que unificaria o PCCR (Plano de Cargo, Carreiras e Remunerações) da educação, e de reformar escolas e
o prédio-sede da Seduc (Secretaria de Estado de Educação). Pois bem: nada disso
foi feito.
Como se não fosse suficiente,
Jatene/Helenilson agora questionam a própria lei que eles impuseram à
categoria. Diga-se de passagem, esta lei foi apreciada pela PGE (Procuradoria Geral do Estado), passou pelas
comissões de Educação, Finanças e Constituição e Justiça da Alepa (Assembleia Legislativa do Pará) e não foi
questionada. Agora, para servir aos interesses de Jatene/Helenilson, buscam
desqualificar a mesma, o que gera uma latente insegurança jurídica. Logo os
tucanos, que se arrogam tão legalistas, dando estes péssimos exemplos de que
pra eles também as leis são potoca.
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