quarta-feira, 25 de setembro de 2013

DIÁRIO – Jader transmuta-se no Anhangá

Anhangá, espírito do mal: um perigo real na RBA.

        Em 1998, quando decidiu satanizá-lo – não por princípios, mas por mera estratégia eleitoral, mirando na sucessão estadual –, a tucanalha tentou caracterizar Jader Barbalho como a quinta-essência do mal. Quinze anos depois, eis que o morubixaba do PMDB no Estado parece ter decidido, por conta própria, transmutar-se no imaginário Anhangá, o espírito maléfico do nosso folclore, como diziam ser ele os seus adversários de então, dos quais posteriormente tornou-se aliado, para só recentemente, por pura conveniência política, voltar a combatê-los. Só essa metamorfose, do político tolerante e pragmático, que por isso tornou-se a mais longeva liderança política da história do Pará, para o patrão insensível e intolerante, pode explicar a intransigência com que os Barbalho tratam os jornalistas do jornal Diário do Pará e do portal DOL, o Diário Online, em greve desde sexta-feira passada, 20, por melhores salários e condições de trabalho. Em matéria de intolerância, eles se revelam do mesmo jaez dos Maiorana, inimigos figadais do senador peemedebista.
        Jader Barbalho é, inegavelmente, o epicentro político da família. Em torno dele orbitam da ex-mulher, dona Elcione Barbalho, aos filhos, com ênfase para Jader Filho e Helder, porque os mais velhos, passando por irmãos, parentes e aderentes. A todos ele legou a perspectiva de uma vida próspera, ou pelo menos confortável. Em sua generosidade, pelo menos em se tratando de cargos públicos e tráfico de influência, ele chegou a transformar um medíocre, como o irmão Joércio Barbalho, um obscuro ex-radialista, em diretor da Setrans, a Secretaria de Estado de Transportes, para ficarmos em um só exemplo do porquê de sua previsível ascendência na família. Por tudo isso, é inimaginável que o ignominioso tratamento dispensado aos grevistas não tenha o aval de Jader. O que surpreende em se tratando de alguém, como ele, que no trato pessoal costuma ser um interlocutor sedutor, de tão elegante e afável que revela-se, embora seja também um notório usurário.
        Se negociada seriamente, com um mínimo de tolerância, e por interlocutores efetivamente qualificados – o que certamente exclui aqueles inicialmente designados -, a pauta mínima dos jornalistas do Diário do Pará e do DOL é perfeitamente palatável e embute uma margem razoável de negociação. Pretender desqualificar o movimento, a pretexto de uma suposta manipulação política, ou alegar que contemplar as pretensões dos grevistas afetaria a saúde da empresa, são sandices que agridem a inteligência de qualquer um. Mais até que a intransigência patronal, choca a remuneração vil e as degradantes condições de trabalho sob as quais é mantida a maioria dos jornalistas do grupo RBA, a Rede Brasil Amazônia de Comunicação. Isso obviamente explica o desapego dos grevistas em relação aos seus empregos, ainda que o mercado, para os jornalistas, seja particularmente restrito no Pará, pelo menos para aqueles que almejam militar em redações. Perde-se, quando se tem alguma coisa de valor mínimo a perder; quando só é dado um cotidiano de sórdida exploração e silenciosa humilhação, só tem-se a perder os grilhões que nos fazem prisioneiros de uma réstia de medo, o tradicional carcereiro da dignidade.
        Diante dos relatos sobre a remuneração e as condições de trabalho oferecidas a maioria dos jornalistas do grupo de comunicação da família Barbalho, é inevitável sermos tomado por um sentimento da mais profunda e incontida indignação. São jovens cujos pais - sem o patrimônio disponibilizado por Jader Barbalho, que tornou-se um próspero empresário, mesmo sem jamais ter tido a carteira profissional assinada - investem naquilo que podem legar aos filhos, para que tenham perspectivas de uma vida melhor – a educação. Mas, ao contrário, a esses filhos é imposta uma espécie de senzala moderna, sob o glamour aparente que sugere a profissão de jornalista.
        É o caso de indagar se, como pais, Jader Barbalho, ou Jader Filho, ou Helder Barbalho, gostariam de ver seus jovens filhos e filhas sujeitos a um salário mensal de R$ 1 mil, brutos, em uma profissão reconhecidamente desgastante. Ou como se sentiriam se seus jovens filhos e suas jovens filhas tivessem que trabalhar em uma empresa na qual não lhes fosse oferecido sequer papel higiênico para a basilar higiene íntima? Ou se, nos seus empregos, seus jovens filhos ou filhas não dispusessem nem de água mineral? Como será que eles reagiriam vendo um filho, ou uma filha, trabalhando de madrugada, sem dispor, ao final de uma jornada invariavelmente extenuante, de transporte da empresa, para retornar à sua casa com um mínimo de segurança e sem ter que desfalcar o minguado salário com táxi? Ou ganhando a vida sob condições de trabalho no limite da insalubridade?

        É ignominioso, porque aviltante, tratar pessoas como se fossem rebanho. Existem princípios de caráter universal que se sobrepõem a circunstâncias. O principal dos quais é um mínimo de respeito a dignidade humana, que permeia, ao fim e ao cabo, o clamor dos jornalistas do Diário do Pará e do DOL, o Diário Online, em greve. O contrário disso é a servidão humana, travestida de subserviência, que pavimenta o caminho para as ações e omissões indignas. Por isso, os jovens grevistas nos concedem o alento de que não se confundem com as flores amarelas e medrosas sobre as quais nos falou o poeta. O que não é pouco. É o medo que nos faz reféns dos Anhangás. Imaginários ou reais.

Um comentário :

Anônimo disse...

Se tratam assim os trabalhadores, se matam os sonhos de jovens talentosos profissionais, se se mostram indiferentes aos apelos de diálogo, como podem ter a cara de pau de querer governar do estado? Fora Barbalhos!