Anhangá, espírito do mal: um perigo real na RBA. |
Em
1998, quando decidiu satanizá-lo – não por princípios, mas por mera estratégia
eleitoral, mirando na sucessão estadual –, a tucanalha tentou caracterizar Jader
Barbalho como a quinta-essência do mal. Quinze anos depois, eis que o
morubixaba do PMDB no Estado parece ter decidido, por conta própria,
transmutar-se no imaginário Anhangá,
o espírito maléfico do nosso folclore, como diziam ser ele os seus adversários de
então, dos quais posteriormente tornou-se aliado, para só recentemente, por pura
conveniência política, voltar a combatê-los. Só essa metamorfose, do político
tolerante e pragmático, que por isso tornou-se a mais longeva liderança
política da história do Pará, para o patrão insensível e intolerante, pode
explicar a intransigência com que os Barbalho tratam os jornalistas do jornal Diário do Pará e do portal DOL, o Diário Online, em greve desde sexta-feira passada, 20, por melhores
salários e condições de trabalho. Em matéria de intolerância, eles se revelam
do mesmo jaez dos Maiorana, inimigos figadais do senador peemedebista.
Jader
Barbalho é, inegavelmente, o epicentro político da família. Em torno dele
orbitam da ex-mulher, dona Elcione Barbalho, aos filhos, com ênfase para Jader
Filho e Helder, porque os mais velhos, passando por irmãos, parentes e aderentes.
A todos ele legou a perspectiva de uma vida próspera, ou pelo menos
confortável. Em sua generosidade, pelo menos em se tratando de cargos públicos e tráfico de influência,
ele chegou a transformar um medíocre, como o irmão Joércio Barbalho, um obscuro
ex-radialista, em diretor da Setrans, a Secretaria de Estado de Transportes,
para ficarmos em um só exemplo do porquê de sua previsível ascendência na família.
Por tudo isso, é inimaginável que o ignominioso tratamento dispensado aos
grevistas não tenha o aval de Jader. O que surpreende em se tratando de alguém,
como ele, que no trato pessoal costuma ser um interlocutor sedutor, de tão
elegante e afável que revela-se, embora seja também um notório usurário.
Se
negociada seriamente, com um mínimo de tolerância, e por interlocutores
efetivamente qualificados – o que certamente exclui aqueles inicialmente designados
-, a pauta mínima dos jornalistas do Diário
do Pará e do DOL é perfeitamente
palatável e embute uma margem razoável de negociação. Pretender desqualificar o
movimento, a pretexto de uma suposta manipulação política, ou alegar que
contemplar as pretensões dos grevistas afetaria a saúde da empresa, são
sandices que agridem a inteligência de qualquer um. Mais até que a
intransigência patronal, choca a remuneração vil e as degradantes condições de
trabalho sob as quais é mantida a maioria dos jornalistas do grupo RBA, a Rede
Brasil Amazônia de Comunicação. Isso obviamente explica o desapego dos
grevistas em relação aos seus empregos, ainda que o mercado, para os jornalistas,
seja particularmente restrito no Pará, pelo menos para aqueles que almejam
militar em redações. Perde-se, quando se tem alguma coisa de valor mínimo a
perder; quando só é dado um cotidiano de sórdida exploração e silenciosa
humilhação, só tem-se a perder os grilhões que nos fazem prisioneiros de uma réstia
de medo, o tradicional carcereiro da dignidade.
Diante
dos relatos sobre a remuneração e as condições de trabalho oferecidas a maioria
dos jornalistas do grupo de comunicação da família Barbalho, é inevitável sermos
tomado por um sentimento da mais profunda e incontida indignação. São jovens
cujos pais - sem o patrimônio disponibilizado por Jader Barbalho, que tornou-se
um próspero empresário, mesmo sem jamais ter tido a carteira profissional
assinada - investem naquilo que podem legar aos filhos, para que tenham
perspectivas de uma vida melhor – a educação. Mas, ao contrário, a esses filhos
é imposta uma espécie de senzala moderna, sob o glamour aparente que sugere a
profissão de jornalista.
É
o caso de indagar se, como pais, Jader Barbalho, ou Jader Filho, ou Helder
Barbalho, gostariam de ver seus jovens filhos e filhas sujeitos a um salário
mensal de R$ 1 mil, brutos, em uma profissão reconhecidamente desgastante. Ou como se sentiriam se seus jovens filhos e suas
jovens filhas tivessem que trabalhar em uma empresa na qual não lhes fosse
oferecido sequer papel higiênico para a basilar higiene íntima? Ou se, nos seus
empregos, seus jovens filhos ou filhas não dispusessem nem de água mineral?
Como será que eles reagiriam vendo um filho, ou uma filha, trabalhando de
madrugada, sem dispor, ao final de uma jornada invariavelmente extenuante, de transporte da empresa, para
retornar à sua casa com um mínimo de segurança e sem ter que desfalcar o minguado salário com táxi? Ou ganhando a vida sob condições de trabalho no limite da
insalubridade?
É
ignominioso, porque aviltante, tratar pessoas como se fossem rebanho. Existem
princípios de caráter universal que se sobrepõem a circunstâncias. O principal
dos quais é um mínimo de respeito a dignidade humana, que permeia, ao fim e ao
cabo, o clamor dos jornalistas do Diário
do Pará e do DOL, o Diário Online, em greve. O contrário
disso é a servidão humana, travestida de subserviência, que pavimenta o caminho
para as ações e omissões indignas. Por isso, os jovens grevistas nos concedem o
alento de que não se confundem com as flores amarelas e medrosas sobre as quais
nos falou o poeta. O que não é pouco. É o medo que nos faz reféns dos Anhangás. Imaginários ou reais.
Um comentário :
Se tratam assim os trabalhadores, se matam os sonhos de jovens talentosos profissionais, se se mostram indiferentes aos apelos de diálogo, como podem ter a cara de pau de querer governar do estado? Fora Barbalhos!
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