Nelson Medrado (à esq.): prestígio esfarinhado pela aliança tóxica com Marcos Antônio das Neves (à dir.), que acumula acusações de malfeitos. |
Há quem creia que o poder
não muda o homem, apenas o desmascara. No caso de Medrado, talvez seja mais
justo tê-lo como algoz de si mesmo, ao deixar esfarinhar o prestígio acumulado
com a devassa que escancarou as falcatruas na Alepa, a Assembleia Legislativa
do Pará. Ao transformar-se em um personagem midiático, deixou-se inebriar pelo
poder acumulado a um preço exorbitante, que foi desperdiçar seu maior ativo, a
credibilidade, ao tornar-se fiel escudeiro de Marcos Antônio Ferreira das
Neves, o Napoleão de Hospício,
mantendo-se silente diante de um vasto elenco de falcatruas. Algumas dessas
falcatruas tornaram o ex-procurador-geral réu em ações criminais por falsidade
ideológica e peculato, além de ser também réu em uma ação civil por improbidade
administrativa.
Ironicamente, foi Neves
quem sonegou a delegação de poderes para Medrado processar Simão Jatene, só
concedida a cinco dias de deixar o cargo e sem alcançar os atos pretéritos,
quando o procurador de Justiça já respondia a um PAD, processo administrativo
disciplinar, juntamente com o promotor de Justiça Militar Armando Brasil,
instalado na esteira de representação do governador tucano junto ao CNMP,
Conselho Nacional do Ministério Público, pelo fato da ação ter sido ajuizada
sem a indispensável delegação de poderes do procurador-geral. Detalhe sórdido:
Neves concedeu tardiamente a delegação de poderes como retaliação a Jatene, por
não ter conseguido fazer seu sucessor.
Favorecido pelo uso da
máquina administrativa comandada por seu patrono político, o candidato de
Neves, o promotor de Justiça César Mattar Júnior foi então o mais votado da
lista tríplice, com 241 votos, mas acabou preterido por Jatene, que optou por Gilberto Valente
Martins, o segundo colocado, com 143 votos, mas credenciado por um respeitável
currículo, que fez dele o primeiro promotor de Justiça a comandar o Ministério
Público Estadual. Formado em direito pela UFPA, Universidade Federal do Pará,
com mestrado em direito penal pela Universidade de Coimbra, em Portugal, Martins
ganhou visibilidade como coordenador do Gaeco, o Grupo de Atuação no Combate ao
Crime Organizado, quando deflagrou Operação Navalha na Carne, que desmantelou
um grupo de extermínio formado por policiais militares. As ameaças de morte que
se seguiram levaram o Conselho Superior do MPE a recomendar que se ausentasse
do Brasil, quando então viajou para Portugal, para cursar o mestrado. Depois
disso, indicado pela Procuradoria-Geral da República, tornou-se conselheiro do
CNJ, o Conselho Nacional de Justiça, no qual teve uma passagem marcante.
Diante da humilhação
política, Neves – que pretendia ser a eminência parda de Mattar, para
posteriormente voltar ao cargo de procurador-geral – transmutou-se de boy
qualificado de Jatene em inimigo figadal do governador tucano. Por isso
concedeu, tardiamente, a delegação de poderes para Medrado processar Jatene.
Por isso também, ao lado de Medrado, fez uma oposição sistemática a Martins e
tumultuou até a exaustão o processo eleitoral, na tentativa de posterga-lo, mirando
na transferência da nomeação do procurador-geral para o governador eleito,
Helder Barbalho, que teria assumido o compromisso de ungir um nome da oposição.
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