sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

MPE – Algoz de si mesmo

Nelson Medrado (à esq.): prestígio esfarinhado pela aliança tóxica com
Marcos Antônio das Neves (à dir.), que acumula acusações de malfeitos. 


Há quem creia que o poder não muda o homem, apenas o desmascara. No caso de Medrado, talvez seja mais justo tê-lo como algoz de si mesmo, ao deixar esfarinhar o prestígio acumulado com a devassa que escancarou as falcatruas na Alepa, a Assembleia Legislativa do Pará. Ao transformar-se em um personagem midiático, deixou-se inebriar pelo poder acumulado a um preço exorbitante, que foi desperdiçar seu maior ativo, a credibilidade, ao tornar-se fiel escudeiro de Marcos Antônio Ferreira das Neves, o Napoleão de Hospício, mantendo-se silente diante de um vasto elenco de falcatruas. Algumas dessas falcatruas tornaram o ex-procurador-geral réu em ações criminais por falsidade ideológica e peculato, além de ser também réu em uma ação civil por improbidade administrativa.
Ironicamente, foi Neves quem sonegou a delegação de poderes para Medrado processar Simão Jatene, só concedida a cinco dias de deixar o cargo e sem alcançar os atos pretéritos, quando o procurador de Justiça já respondia a um PAD, processo administrativo disciplinar, juntamente com o promotor de Justiça Militar Armando Brasil, instalado na esteira de representação do governador tucano junto ao CNMP, Conselho Nacional do Ministério Público, pelo fato da ação ter sido ajuizada sem a indispensável delegação de poderes do procurador-geral. Detalhe sórdido: Neves concedeu tardiamente a delegação de poderes como retaliação a Jatene, por não ter conseguido fazer seu sucessor.
Favorecido pelo uso da máquina administrativa comandada por seu patrono político, o candidato de Neves, o promotor de Justiça César Mattar Júnior foi então o mais votado da lista tríplice, com 241 votos, mas acabou preterido por Jatene, que optou por Gilberto Valente Martins, o segundo colocado, com 143 votos, mas credenciado por um respeitável currículo, que fez dele o primeiro promotor de Justiça a comandar o Ministério Público Estadual. Formado em direito pela UFPA, Universidade Federal do Pará, com mestrado em direito penal pela Universidade de Coimbra, em Portugal, Martins ganhou visibilidade como coordenador do Gaeco, o Grupo de Atuação no Combate ao Crime Organizado, quando deflagrou Operação Navalha na Carne, que desmantelou um grupo de extermínio formado por policiais militares. As ameaças de morte que se seguiram levaram o Conselho Superior do MPE a recomendar que se ausentasse do Brasil, quando então viajou para Portugal, para cursar o mestrado. Depois disso, indicado pela Procuradoria-Geral da República, tornou-se conselheiro do CNJ, o Conselho Nacional de Justiça, no qual teve uma passagem marcante.
Diante da humilhação política, Neves – que pretendia ser a eminência parda de Mattar, para posteriormente voltar ao cargo de procurador-geral – transmutou-se de boy qualificado de Jatene em inimigo figadal do governador tucano. Por isso concedeu, tardiamente, a delegação de poderes para Medrado processar Jatene. Por isso também, ao lado de Medrado, fez uma oposição sistemática a Martins e tumultuou até a exaustão o processo eleitoral, na tentativa de posterga-lo, mirando na transferência da nomeação do procurador-geral para o governador eleito, Helder Barbalho, que teria assumido o compromisso de ungir um nome da oposição.

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