Roberto Jefferson, hoje : "O PT impôs o padrão Fifa da corrupção". |
Em seguida, a entrevista de Roberto
Jefferson, que também pode ser acessada pelo seguinte link:
PT impôs ao Brasil o padrão Fifa da corrupção, diz Roberto Jefferson
BERNARDO
MELLO FRANCO
COLUNISTA
DA FOLHA
06/06/2015 02h00
Dez
anos depois de denunciar o mensalão à Folha,
o ex-deputado Roberto Jefferson, 61, afirma que o PT implantou o "padrão
Fifa de corrupção" e que o dinheiro das estatais continua a financiar as
campanhas no país.
O
petebista deixou a cadeia há
três semanas. Cumpre prisão domiciliar em um condomínio de alto padrão na Barra
da Tijuca, zona oeste do Rio, onde já viveram os ex-craques Romário e Ronaldo.
A
entrevista foi autorizada pelo juiz Eduardo Oberg, titular da Vara de Execuções
Penais do Rio. Leia a seguir os principais trechos.
Folha
- Por que o sr. decidiu denunciar o mensalão?
Roberto
Jefferson - Decidi dar a entrevista porque
tinha sido vítima de uma matéria que deflagrou o processo da minha cassação.
Aparecia um funcionário dos Correios, Maurício Marinho, recebendo R$ 3 mil e
dizendo que era para o PTB. Era uma pessoa com quem eu não tinha nenhuma relação.
Virei
o grande vilão nacional por R$ 3 mil. A matéria foi feita por encomenda da Casa
Civil [então chefiada por José Dirceu]. Nós identificamos imediatamente de onde
veio.
O
governo tentou algum acordo para silenciá-lo?
Quando
eu estava sob tiroteio, vai à minha casa o líder do governo, o [Arlindo]
Chinaglia, e propõe um acordo. "Roberto, você renuncia à presidência do
PTB, o governo designa um delegado ferrabrás para o processo, ele arquiva e
tudo se acerta".
Eu
disse: "Não aceito. Eu entrei pela porta da frente e vou sair pela porta
da frente. Só que eu vou carregar um bocado de caras comigo. Vocês não vão me
ver de joelhos, eu vou enfrentar vocês".
[Chinaglia
nega o relato.]
Dez
anos depois, o PT diz que não se comprovou o pagamento de mesada a deputados.
Havia
mesada. A Lava Jato agora clareou isso. Por respeito à decisão do ministro
[Luis Roberto] Barroso, eu só posso falar do passado. Mas o [Alberto] Youssef
fazia pagamento mensal para vários deputados de partidos da base. Era aquilo
que havia na época. As malas chegavam com R$ 30 mil, R$ 60 mil, R$ 50 mil. Não
se comprovou porque não fotografaram.
Por
que o sr. não aceita ser chamado de delator?
Isso
me deixa chateado. Delator é quem está dentro. Eu não deixei o PTB entrar no
mensalão, não aluguei minha bancada. Quando o juiz me propôs a delação
premiada, respondi: "Excelência, delação premiada é conversa de canalha.
Quem faz delação premiada é canalha".
O
sr. afirmou que Lula era inocente. Mantém essa versão?
Eu
avisei o presidente [sobre o mensalão]. A reação dele à época me deu a
impressão de que ele não soubesse. Quero crer que ele não sabia.
Seu
advogado disse ao STF que Lula chefiou o esquema.
Aí
foi a liberdade do advogado. Eu dizia: "Para de bater no Lula, pelo amor
de Deus. Você tá contrariando o que eu disse, tá me deixando de
mentiroso". Foi quando ele renunciou [à defesa].
Ele
é convencido de que o Lula tem culpa, de que não se faria uma coisa dessa
envergadura sem o presidente saber. Ele é meu amigo, é um grande advogado, mas não
obedece o cliente (risos).
Qual
a maior consequência de sua denúncia para o país?
Caiu aquele véu que havia sobre o PT, de partido ético, moralista. O PT posava de corregedor moral da pátria. Ali caiu a máscara. O PT a vida inteira deblaterou contra os adversários, mas "blatterou" a prática política padrão Fifa. O PT impôs ao país o padrão Fifa da corrupção.
Caiu aquele véu que havia sobre o PT, de partido ético, moralista. O PT posava de corregedor moral da pátria. Ali caiu a máscara. O PT a vida inteira deblaterou contra os adversários, mas "blatterou" a prática política padrão Fifa. O PT impôs ao país o padrão Fifa da corrupção.
Dirceu
era cotado para suceder Lula. Considera que mudou a história do país?
O
Dirceu saiu da fila. Se fosse ele o presidente, nós já estaríamos vivendo aqui
a Venezuela. A Dilma é o Maduro (risos). O Chávez é o Dirceu. Com ele, teria
cerceamento das liberdades democráticas, perseguição à imprensa livre, cadeia
para opositor. Não ia ter papel higiênico.
O
que o levou a aparecer na CPI com o olho roxo?
Foi
por causa de uma discussão com a [ex-deputada] Laura Carneiro sobre o Lupicínio
Rodrigues e a música 'Nervos de aço'. Ela dizia que era de outro autor. Eu fui
pegar o CD. Era uma daquelas estantes antigas, estava solta da parede. Quando
fui me apoiar, o móvel veio.
Parecia que eu tinha apanhado. Essa história não adianta [repetir]. Nem minha mãe acreditou. Se mamãe não acreditou, como é que as pessoas vão acreditar?
Parecia que eu tinha apanhado. Essa história não adianta [repetir]. Nem minha mãe acreditou. Se mamãe não acreditou, como é que as pessoas vão acreditar?
O
sr. foi condenado por receber R$ 4 milhões do PT. O que fez com o dinheiro?
Foi
gasto nas eleições municipais do PTB em 2004, em campanhas de prefeito no Rio,
em Minas, São Paulo. Isso ficou no passado. O partido no poder é que tem
dinheiro para fazer eleição. O pequeno não tem, ele recebe o repasse do grande.
Quem
fez o acordo no PT?
O
Dirceu, na Casa Civil. Fechamos ali naquele prédio da Varig [em Brasília].
Financiamento de R$ 20 milhões à eleição do PTB, em cinco parcelas de R$ 4
milhões. Esse acordo não foi cumprido, só foi paga a primeira parcela. Foi um
desastre para o PTB.
Há
quem acredite que esse é o verdadeiro motivo de sua briga com Dirceu e o PT.
Se
mamãe não acreditou que a estante caiu em mim, não quero convencer ninguém. É
minha versão. Quem não acredita, paciência.
O
sr. também foi acusado de usar órgãos do governo, como o Instituto de
Resseguros do Brasil, para financiar o PTB.
O
Lídio Duarte nos procurou para ter aval para ser presidente do IRB, fez um
acordo conosco. Ele colocaria cinco brokers, operadores de mercado, recebendo
R$ 60 mil de cada um. Conseguiria fazer um caixa de R$ 300 mil para ajudar o
partido. Coisa que ele nunca cumpriu.
Era
dinheiro de caixa dois?
Sim.
Isso
é diferente do que foi descoberto no petrolão?
Não
é diferente. Infelizmente, as estatais são braços partidários. As empresas públicas
ainda funcionam no financiamento dos partidos. O cara briga para fazer diretor
da Petrobras. É para fazer obra positiva, a favor do povo? Não existe isso.
As
estatais são as grandes promotoras da infraestrutura do país. Elas é que são
fortes. Não tem empresa privada no Brasil. E tem as paraestatais, que são as
empreiteiras. Funcionam em função do governo.
O
que acha da proposta de financiamento público?
O
Brasil não tem financiamento privado. O financiamento é público de segunda
linha, mas é. Quem financia campanha no Brasil são as empresas que têm grandes
contratos com BNDES, Banco do Brasil, Petrobras.
Eu
acho uma graça isso: "Temos que acabar com o financiamento privado".
Não tem financiamento privado, é estatal. Os empreiteiros não são privados, são
braços das estatais. É aí que está o caixa de toda eleição.
Então
não seria melhor proibir as doações?
Se
proibir o financiamento privado, vai tirar dinheiro da saúde, do transporte e
da educação para fazer campanha. É um absurdo. O político vai ser linchado na
rua. E proibido o financiamento privado, você dificilmente derrotará o partido
oficial.
Depois
de ser cassado e preso, o sr. se arrepende por ter denunciado o mensalão?
Eu
sabia o que ia acontecer e estava preparado. Não tenho nenhum arrependimento.
Zero. Só não gostaria de fazer de novo, de sofrer isso tudo outra vez.
Um comentário :
O probo Roberto Jefferson, em grande entrevista a insuspeita Folha de São Paulo. Você não quer que eu volte!
Hehehrhehehe....
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