Klester Cavalcanti, que agora comanda a redação do Diário do Pará. |
Um jornal historicamente atrelado a
conveniências político-partidárias, que investe parcamente em recursos humanos,
especialmente na mão de obra jornalística, e funciona sob uma estrutura
precarizada, conseguirá o Diário do Pará
fazer frente ao desafio sugerido pela contratação de Klester Cavalcanti? Esta é
a pergunta que emerge, diante da contratação do jovem e respeitado jornalista
para comandar a redação do jornal do grupo de comunicação da família do senador
Jader Barbalho, o morubixaba do PMDB no Pará. Ele substitui Gerson Nogueira,
que formalmente conserva o título de diretor de redação, embora previsivelmente
reduzido à condição de rainha da Inglaterra, que reina mas não governa. Com
marcantes passagens em alguns dos mais importantes veículos da imprensa
nacional – como as revistas Veja e IstoÉ e o jornal O Estado de S. Paulo, o tradicional Estadão - , Klester destacou-se como repórter investigativo,
acumulando ainda experiência como editor
executivo e diretor de redação. Premiado nacional e internacionalmente, ele é também
escritor, sendo o único jornalista brasileiro a ganhar três vezes o Prêmio
Jabuti, a mais importante premiação do mercado editorial brasileiro,
dedicando-se ainda às atividades de palestrante, com um cachê cotado entre R$
7.500,00 e R$ 15 mil.
A contratação de Klester Cavalcanti, pelo
currículo por ele exibido e pela remuneração certamente acima dos patamares
habituais, presumivelmente sinaliza para a suposta predisposição, por parte dos
Barbalho, de maiores investimentos na redação do Diário do Pará, cujo padrão salarial perdura pífio, apesar dos
avanços obtidos com a vitoriosa greve dos jornalistas de 2014. Hoje líder em
vendagem, o Diário do Pará superou
seu concorrente direto, O Liberal - o
principal jornal do grupo de comunicação da família Maiorana, inimiga figadal
de Jader Barbalho -, valendo-se da mão de obra barata dos focas, os jornalistas em início de carreira, alguns exibindo um exuberante
talento. São talentos em estado bruto, a burilar, o que a escorchante rotina de
trabalho, cumprida invariavelmente em condições adversas, raramente permite, em
uma situação agravada pela penúria salarial, escancarada pela paralisação do
ano passado, tipicamente uma greve de
estômago. Resta saber se em uma conjuntura econômica adversa, cujos efeitos
perversos se fazem sentir até nos principais grupos de comunicação da imprensa
nacional, o grupo RBA, a Rede Brasil Amazônia de Comunicação, terá fôlego para
investir no Diário do Pará. A crise
econômica soma-se o boicote publicitário do governo Simão Jatene, que inocultavelmente
privilegia O Liberal, porta-voz da tucanalha, a banda podre do PSDB do
Pará, em benesses que se estendem às empresas que compõem as ORM, Organizações
Romulo Maiorana, como a ORM Air.
Em passado recente, o Diário do Pará passou por uma experiência semelhante a entrevista
com a contratação de Klester Cavalcanti, também mirando em mudanças qualitativas, o que justificou a fugaz passagem pelo jornal dos Barbalho de Ricardo Noblat,
outro respeitado nome da grande imprensa brasileira. Noblat passou cerca de um
mês em Belém, em aparente serviço de consultoria, cuja extensão dos resultados
são difíceis de mensurar, embora na última década o Diário do Pará, com um perfil mais popular, tenha consolidado sua
liderança no mercado. A ascensão do Diário
do Pará, recorde-se, coincide com o vexatório episódio no qual os Maiorana
foram flagrados anabolizando os números de O
Liberal. Para aplacar o escândalo, o jornal dos Maiorana retirou-se do IVC,
o Instituto Verificador de Circulação, responsável pela auditoria de circulação
dos principais jornais do Brasil. Seja como for, o Diário do Pará avança dentro dos limites impostos pelas
circunstâncias políticas, ora buscando a profissionalização, ora abdicando dela, na esteira dos embates eleitorais. São circunstâncias que hoje incluem um cenário de retração econômica e a hostilidade do
governo Simão Jatene, ao qual hoje faz oposição o PMDB de Jader Barbalho, este mirando na carreira do filho e pretenso sucessor político do pai, Helder
Barbalho, ministro da Pesca do governo da presidente petista Dilma Rousseff. De
resto, a mídia impressa tornou-se cara e perdeu leitores, com a avassaladora disseminação
da internet, hoje acessível até por celulares, o que se reflete nas tiragens
dos jornais, principalmente em estados como o Pará, de índices sociais africanos.
A estimativa feita por quem tem intimidade com o tema, e por isso capaz de
distinguir tiragem de mentiragem, é
de que a tiragem diária do Diário do Pará
e de O Liberal fique entre 12 mil e
15 mil exemplares, no máximo, saltando, quando muito, para algo em torno de 18 mil, 20 mil
exemplares, aos domingos. Quanto ao Amazônia
Jornal, o tablóide popular dos Maiorana, a estimativa é que rivalizasse com
O Liberal em tiragem, pelo menos até
a razia feita na redação, com demissões que começaram por atingir o
redator-chefe, o jornalista Antônio Carlos Pimentel, defenestrado em
circunstâncias que depõem contra o respeito profissional. Depois disso, o Amazônia escolheu, com uma redução de
páginas que inevitavelmente deprecia o jornal.
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