quinta-feira, 18 de junho de 2015

DIÁRIO – O desafio da mudança

Klester Cavalcanti, que agora comanda a redação do Diário do Pará.

Um jornal historicamente atrelado a conveniências político-partidárias, que investe parcamente em recursos humanos, especialmente na mão de obra jornalística, e funciona sob uma estrutura precarizada, conseguirá o Diário do Pará fazer frente ao desafio sugerido pela contratação de Klester Cavalcanti? Esta é a pergunta que emerge, diante da contratação do jovem e respeitado jornalista para comandar a redação do jornal do grupo de comunicação da família do senador Jader Barbalho, o morubixaba do PMDB no Pará. Ele substitui Gerson Nogueira, que formalmente conserva o título de diretor de redação, embora previsivelmente reduzido à condição de rainha da Inglaterra, que reina mas não governa. Com marcantes passagens em alguns dos mais importantes veículos da imprensa nacional – como as revistas Veja e IstoÉ e o jornal O Estado de S. Paulo, o tradicional Estadão - , Klester destacou-se como repórter investigativo, acumulando ainda experiência como editor executivo e diretor de redação. Premiado nacional e internacionalmente, ele é também escritor, sendo o único jornalista brasileiro a ganhar três vezes o Prêmio Jabuti, a mais importante premiação do mercado editorial brasileiro, dedicando-se ainda às atividades de palestrante, com um cachê cotado entre R$ 7.500,00 e R$ 15 mil.
A contratação de Klester Cavalcanti, pelo currículo por ele exibido e pela remuneração certamente acima dos patamares habituais, presumivelmente sinaliza para a suposta predisposição, por parte dos Barbalho, de maiores investimentos na redação do Diário do Pará, cujo padrão salarial perdura pífio, apesar dos avanços obtidos com a vitoriosa greve dos jornalistas de 2014. Hoje líder em vendagem, o Diário do Pará superou seu concorrente direto, O Liberal - o principal jornal do grupo de comunicação da família Maiorana, inimiga figadal de Jader Barbalho -, valendo-se da mão de obra barata dos focas, os jornalistas em início de carreira, alguns exibindo um exuberante talento. São talentos em estado bruto, a burilar, o que a escorchante rotina de trabalho, cumprida invariavelmente em condições adversas, raramente permite, em uma situação agravada pela penúria salarial, escancarada pela paralisação do ano passado, tipicamente uma greve de estômago. Resta saber se em uma conjuntura econômica adversa, cujos efeitos perversos se fazem sentir até nos principais grupos de comunicação da imprensa nacional, o grupo RBA, a Rede Brasil Amazônia de Comunicação, terá fôlego para investir no Diário do Pará. A crise econômica soma-se o boicote publicitário do governo Simão Jatene, que inocultavelmente privilegia O Liberal, porta-voz da tucanalha, a banda podre do PSDB do Pará, em benesses que se estendem às empresas que compõem as ORM, Organizações Romulo Maiorana, como a ORM Air.

Em passado recente, o Diário do Pará passou por uma experiência semelhante a entrevista com a contratação de Klester Cavalcanti, também mirando em mudanças qualitativas, o que justificou a fugaz passagem pelo jornal dos Barbalho de Ricardo Noblat, outro respeitado nome da grande imprensa brasileira. Noblat passou cerca de um mês em Belém, em aparente serviço de consultoria, cuja extensão dos resultados são difíceis de mensurar, embora na última década o Diário do Pará, com um perfil mais popular, tenha consolidado sua liderança no mercado. A ascensão do Diário do Pará, recorde-se, coincide com o vexatório episódio no qual os Maiorana foram flagrados anabolizando os números de O Liberal. Para aplacar o escândalo, o jornal dos Maiorana retirou-se do IVC, o Instituto Verificador de Circulação, responsável pela auditoria de circulação dos principais jornais do Brasil. Seja como for, o Diário do Pará avança dentro dos limites impostos pelas circunstâncias políticas, ora buscando a profissionalização, ora abdicando dela, na esteira dos embates eleitorais. São circunstâncias que hoje incluem um cenário de retração econômica e a hostilidade do governo Simão Jatene, ao qual hoje faz oposição o PMDB de Jader Barbalho, este mirando na carreira do filho e pretenso sucessor político do pai, Helder Barbalho, ministro da Pesca do governo da presidente petista Dilma Rousseff. De resto, a mídia impressa tornou-se cara e perdeu leitores, com a avassaladora disseminação da internet, hoje acessível até por celulares, o que se reflete nas tiragens dos jornais, principalmente em estados como o Pará, de índices sociais africanos. A estimativa feita por quem tem intimidade com o tema, e por isso capaz de distinguir tiragem de mentiragem, é de que a tiragem diária do Diário do Pará e de O Liberal fique entre 12 mil e 15 mil exemplares, no máximo, saltando, quando muito, para algo em torno de 18 mil, 20 mil exemplares, aos domingos. Quanto ao Amazônia Jornal, o tablóide popular dos Maiorana, a estimativa é que rivalizasse com O Liberal em tiragem, pelo menos até a razia feita na redação, com demissões que começaram por atingir o redator-chefe, o jornalista Antônio Carlos Pimentel, defenestrado em circunstâncias que depõem contra o respeito profissional. Depois disso, o Amazônia escolheu, com uma redução de páginas que inevitavelmente deprecia o jornal.

Nenhum comentário :