Em época de congraçamento compulsório, imposto pelas tradições e turbinado pela comercialização da data, sob massivos estímulos ao consumismo, nada mais pertinente que resgatar a lição de vida legada pelo poeta, na forma de crônica, a quando da eliminação da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1982, disputada na Espanha. “Perder, ganhar, Viver” é o título da crônica de Carlos Drummond de Andrade (foto), publicada na edição de 21 de junho de 1982 do Jornal do Brasil, na qual nosso poeta maior reafirma ser também um exuberante cronista. Mais que isso, muito mais que isso, Drummond, com a sensibilidade dos iluminados, nos leva à reflexão, que extrapola o campo de futebol, de como a derrota, tanto quanto a vitória, é fator de renovação da vida.
“Chego à conclusão de que a derrota, para a qual nunca estamos preparados, de tanto não a desejarmos nem a admitirmos previamente, é afinal instrumento de renovação da vida. Tanto quanto a vitória estabelece o jogo dialético que constitui o próprio modo de estar no mundo”, assinala Drummond. “Se uma sucessão de derrotas é arrasadora, também a sucessão constante de vitórias traz consigo o germe de apodrecimento das vontades, a languidez dos estados pós-voluptuosos, que inutiliza o indivíduo e a comunidade atuantes. Perder implica remoção de detritos: começar de novo”, acrescenta.
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