sexta-feira, 16 de outubro de 2009

MEIA-PASSAGEM – Subterrâneos das tramóias

Segundo testemunha privilegiada do imbróglio, obviamente protegida pelo off, o poder de fogo dos empresários de transportes é colossal, para dizer o mínimo. Mas tão colossal, acrescenta a testemunha, que o primeiro mal-estar entre os ex-governadores Alacid Nunes e Jader Barbalho, os aliados na sucessão estadual de 1982, se deu a partir da queixa dos empresários de transportes coletivos. Estes se sentiam extorquidos por supostos prepostos do governador de então, Jader Barbalho, eleito com o apoio do seu predecessor, Alacid Nunes, que rompera com seu inimigo figadal, Jarbas Passarinho, e, por extensão, com o governo do general João Figueiredo, aderindo, juntamente com os deputados e prefeitos que lhe eram fiéis, à candidatura do PMDB.
Dentre os supostos prepostos, de acordo com a versão oferecida, realmente figurava um personagem próximo, mas muito próximo, mesmo, de Jader Barbalho, o primeiro governador do Pará eleito pelo voto direto, após o golpe militar de 1º de abril de 1964. Por isso, acrescenta o relato, a decisão de Alacid Nunes de tratar do assunto pessoalmente com Jader Barbalho, pelo qual foi recebido em um jantar a dois, no palacete governamental, hoje o Parque da Residência. A mesma fonte do blog assinala que o resultado do jantar foi de difícil digestão para Alacid Nunes, compelido a retornar de mãos vazias aos empresários de transportes coletivos, dos quais era um ilustre interlocutor. Com a elegância que lhe é própria, seja politicamente, seja no trato pessoal, Jader minimizou a denúncia e frustrou as eventuais expectativas de Alacid, em versão por este confirmada em passado não tão remoto.
Há alguns anos atrás, mais exatamente em 1998, em uma conversa reservada, ao ser indagado a respeito do episódio, Alacid Nunes confirmou essa versão, quebrando inusitadamente o seu habitual mutismo. Mas isso, como frisei, ocorreu alguns anos atrás. Bem antes do ex-vice-governador Hildegardo Nunes, filho de Alacid Nunes e hoje no PMDB, ficar politicamente atrelado ao ex-governador Jader Barbalho. Na época no PTB, Hildegardo Nunes foi eleito em 1998 vice-governador, na chapa do ex-governador tucano Almir Gabriel, do qual já havia sido secretário de Agricultura. Depois de romper politicamente com Almir Gabriel, após ser por este ludibriado, e ser candidato derrotado a governador em 2002, Hildegardo é, atualmente, o secretário de Governo do prefeito de Ananindeua, Helder Barbalho (PMDB), filho e presumível herdeiro político de Jader Barbalho.
Cooptado por Jader, Hildegardo, recorde-se, figurou como vice na chapa de José Priante, o candidato a governador pelo PMDB, na sucessão estadual de 2006, que remeteu para a lixeira da história o ex-governador tucano Almir Gabriel, derrotado pela petista Ana Júlia Carepa. Esta, recorde-se também, teve como principal avalista de sua candidatura e l estrategista político, com o aval do governo Lula, Jader Barbalho. Justo Jader Barbalho, a quem, até pelo menos a sucessão estadual de 2002, Ana Júlia costumava malsinar, por razões supostamente éticas, e disso fazia questão de dar conhecimento aos Maiorana, intransigentes inimigos do ex-governador do PMDB e cujo grupo de comunicação inclui o jornal O Liberal e a TV Liberal, esta afiliada no Pará da Rede Globo.
As ORM, Organizações Romulo Maiorana, disputam o mercado com o grupo de comunicação da família de Jader Barbalho, cujo jornal, o Diário do Pará, hoje supera em vendagem O Liberal, segundo o respeitado IVC, o Instituto Verificador de Circulação. O Liberal, lembre-se ainda, foi compelido a se desligar do IVC, depois que o instituto descobriu fartos indícios de que os Maiorana fraudavam, por vezes com acréscimos de até mais de 100%, os números que conferiam ao jornal a supremacia absoluta do mercado paraense. Quando o IVC despachou para Belém dois auditores, com o objetivo de checar a extensão da fraude, O Liberal desligou-se do instituto. A tramóia tornou-se do domínio público após ter vazado para a imprensa o relatório do IVC sobre a fraude, que deveria ser reservado.

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