Pedro Minowa: diante da necessidade de voltar os olhos para as bases. |
Caso Pedro Minowa efetivamente pretenda se
redimir dos tropeços que pontuaram o início da sua administração como
presidente do Remo, para além de investir racionalmente no time que disputará a
série D do Campeonato Brasileiro, deveria voltar seus olhos para o futebol de
base. É neste que reside a alternativa mais viável, principalmente financeiramente,
para o clube azulino escapar da rotina de fracassos recorrentes, embora seja
historicamente tratado com um desdém criminoso pela cartolagem. Se assim fizer,
mais do que o primeiro presidente do clube eleito pelo voto direto dos sócios,
Minowa passará para história como o primeiro presidente a pavimentar o caminho
para introduzir o Remo na modernidade do futebol e resgatar as glórias das décadas
de 70 e 80 do século XX, quando o Leão Azul chegou a fazer parte da elite do
futebol brasileiro, com times que mesclavam jovens talentos de fora com craques
revelados pelo próprio futebol paraense.
O descaso para com as divisões de base, por
parte da cartolagem azulina, evidenciou-se em um patético episódio ocorrido na
Copa do Brasil Sub-20 de 2014, quando era presidente do Remo o ex-vereador Zeca Pirão. Após conquistar a Copa Norte da categoria, o
Leãozinho, como foi etiquetada a equipe remista, fez uma surpreendente campanha
na Copa Brasil Sub-20, eliminando favoritos, inclusive o Vitória, da Bahia,
campeão da competição em 2013. Bastaram as primeiras vitórias para a massa
azulina passar a lotar o Mangueirão, proporcionando rendas dignas daquelas
oferecidas pelo time profissional quando em alta. O volume de dinheiro arrecado serviu,
inclusive, para saldar a folha de pagamento do time profissional. Foi nesse
rastro de triunfos e dinheiro que escancarou-se, cristalina, sem disfarces, a
mediocridade da cartolagem. No jogo diante do Flamengo, do Rio, em pleno
Mangueirão, um jovem jogador do Remo contundiu-se. Para pasmo dos presentes, no
banco azulino não havia sequer médico! O atleta azulino foi atendido pelo
médico do clube carioca. Precisa dizer mais alguma coisa?
Há outro episódio, também em passado
recente, emblemático da irresponsabilidade dolosa da cartolagem remista em
relação aos jogadores de base. Como os salários dos jogadores sub-20 estavam atrasados, um grupo de torcedores azulinos do Ministério Público Estadual, que
incluiu procuradores e promotores de Justiça, fizeram uma coleta, para quitar a
folha de pagamento, que não chegava a R$ 20 mil, salvo engano o valor que
rendeu a vaquinha. O dinheiro
arrecadado, que daria para pagar os jovens atletas e deixar ainda um saldo de caixa, foi
formalmente doado ao clube, com a emissão do respectivo recibo comprovando a
doação. Mas o dinheiro arrecadado teve parte criminosamente desviada para
outros fins e os jogadores do sub-20 só receberam metade do que lhes devia o
clube. É mole ou quer mais?
Coibir esses desvios delituosos é um dos
desafios que cabe a Pedro Minowa, se de fato comprometido em assumir as
responsabilidades do cargo de presidente de um dos maiores clubes de massa da
Amazônia e do Brasil, com o detalhe histórico de ter sido eleito pelo voto direto dos associados. Não lhe restam maiores alternativas. É isso, ou ter como
destino a vala comum dos cartolas que facilmente se enquadram, por ato ou omissão,
em artigos do Código Penal.
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