Octávio Amorim Neto: petrolão tem efeitos devastadores para o PT. |
“O PT tem que começar a se preparar para perder em
2018. Não descarto uma vitória de um candidato do partido, possivelmente Lula,
mas o realismo indica que vai ser muito difícil. Já foi no ano passado. Não é
do estilo do PT reconhecer essas fraquezas de público, mas a questão é como
perder. O partido precisa se preparar para o futuro, pensando em 2022.”
A
declaração é do cientista político Octavio Amorim Neto, da Fundação Getulio Vargas do
Rio, em entrevista a Bernardo Melo Franco, publicada pela Folha de S. Paulo neste domingo, 10. Para ele, o escândalo de
corrupção da Petrobras, o petrolão, está
sendo "devastador" para partido, que precisa começar a pensar na
disputa de 2022. “É uma bomba que vai explodir lentamente, com efeitos muito
duros para o PT. A Petrobras é símbolo do nacionalismo, da soberania nacional e
da capacidade do Estado de induzir o desenvolvimento. Qualquer escândalo
poderia acontecer numa gestão petista, menos esse”, sublinha Octavio Amorim
Neto, na entrevista à Folha, que o Blog do Barata
reproduz abaixo, na íntegra.
O que muda na coalizão com a entrega da articulação
política ao PMDB?
O começo do
segundo governo foi caótico e frustrante para quem votou em Dilma. A
articulação política dos cem primeiros dias foi um desastre.
A nomeação
de Temer é uma grande mudança. Ela delegou a economia ao Joaquim Levy e delegou
a articulação política ao PMDB.
Dilma foi
obrigada a fazer uma mudança radical em relação ao primeiro mandato, quando era
uma presidente concentradora, que decidia unilateralmente e consultava muito
pouco os aliados.
O que a obrigou a mudar?
A visão do
precipício.
Como fica a presidente?
Acredito que
agora ela vá se concentrar nos programas sociais, que são a marca eleitoral do
partido.
Dilma e o PT
estão dando um passo atrás para tentar dar dois à frente mais adiante. A
expectativa deles é que a economia volte a crescer em 2017 para que o partido
continue a ser competitivo no ano seguinte. A eleição de 2018 será
interessante, porque tudo indica que estamos chegando ao fim de um ciclo
econômico e político.
É o fim do ciclo do PT?
O PT tem que
começar a se preparar para perder em 2018. Não descarto uma vitória de um
candidato do partido, possivelmente Lula, mas o realismo indica que vai ser
muito difícil. Já foi no ano passado. Não é do estilo do PT reconhecer essas
fraquezas de público, mas a questão é como perder. O partido precisa se
preparar para o futuro, pensando em 2022.
Lula pode desistir de 2018?
Ele tem uma
imagem e um nome na história a preservar. Não vai concorrer se sentir que pode
sofrer uma derrota fragorosa, humilhante. Lula é muito pragmático. Se as
chances foram muito baixas, não vai [concorrer]. Se ele vir que não tem
condição de ganhar, é melhor pensar no futuro e lançar outro nome, a ser
preparado para 2022.
Isso será
muito difícil, porque o PT não tem mais grandes nomes e tem que começar a
firmar um nome para o pós-Lula e Dilma. É uma questão de preservação do
partido. Sem isso, ele pode virar um PMDB, que é um grande partido, mas não tem
nomes viáveis para a Presidência.
O PT governa o país desde 2003. Como se comportará
se tiver que deixar o poder?
Não sei se
será bom, nem para o PT nem para a democracia, um quinto mandato presidencial.
O partido precisa lamber suas feridas, se revitalizar e redescobrir suas
raízes. O exercício do poder torna conservadora qualquer organização política,
e essa não é a vocação do PT.
Muita gente
quer a eliminação do partido, mas é fundamental que ele sobreviva. Se o PT for
eliminado, vai abrir um flanco enorme para aventuras populistas, para o
surgimento de um salvador da pátria. O partido cometeu erros calamitosos,
inaceitáveis, mas isso não quer dizer que tenha que acabar.
Em outros países em crise, como Grécia e Espanha,
as manifestações geraram novos partidos de esquerda. Por que não aconteceu no
Brasil?
As últimas
manifestações não estão à esquerda, estão à direita. Além disso, é difícil sair
um Podemos [nova sigla espanhola] porque uma marca das manifestações aqui é a
aversão aos partidos em geral. Não é à toa que o PSDB também tem dificuldade de
se aproximar.
Como avalia o petrolão?
É uma bomba
que vai explodir lentamente, com efeitos muito duros para o PT. A Petrobras é
símbolo do nacionalismo, da soberania nacional e da capacidade do Estado de
induzir o desenvolvimento. Qualquer escândalo poderia acontecer numa gestão
petista, menos esse.
O que acha da ofensiva de parte da oposição por um
processo de impeachment?
Concordo com
o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: não há base jurídica nenhuma para se
abrir um processo de destituição da presidente. Alguns líderes querem se
aproveitar do fato de que parte do eleitorado defende o impeachment sem saber
bem o que ele significa.
É
fundamental informar à população que o regime é presidencial, com mandato fixo.
A permanência da presidente no Planalto independe do seu desempenho. Essa é uma
das virtudes e um dos vícios do presidencialismo. Se a presidente vai mal, a
única solução possível é ter paciência.
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