A torcida do Remo: guerreiros anônimos que empurraram o time... |
...azulino para o título de bicampeão (Fotos Agência Pará e DOL). |
Se amar é construir uma religião com um
deus falível, como pretende o grande Borges, a apaixonada, porém exigente,
torcida azulina certamente traduz a assertiva do poeta argentino, que também
foi escritor, tradutor, crítico literário e ensaísta, cujo talento multifacetado
se sobrepôs a cegueira. É a força do amor, turbinado pela paixão que lhe serve
de combustível, que explica o porquê da massa remista migrar da ira
incontrolável ao êxtase sublime, na ciclotimia da devoção pagã. O que torna
mais do que pertinente a definição do inesquecível poeta da notícia que foi
Armando Nogueira, segundo o qual o torcedor é, por natureza, um doce canalha.
No caso do Clube do Remo, com a conquista
do bicampeonato estadual, que garante vaga na sério D do Campeonato
Brasileiro, a sucessão de vitórias, incluindo a derrota imposta ao Cuiabá, no
jogo de ida da final da Copa Verde, cujo título é o passaporte para a
Sul-Americana, nem de longe representa a languidez dos estados pós-voluptuosos,
conforme a imagem cunhada pelo mestre das palavras, Carlos Drummond de Andrade,
para definir o imobilismo do êxtase improdutivo. As vitórias e conquistas do time
do Clube do Remo, neste 2015, traduzem o triunfo da superação, de quem não toma
o improvável como impossível, de quem é capaz de fazer da derrota um fator de
renovação, um começar de novo capaz de transformar sonhos em realidade, após a
catarse da dor e das lágrimas diante dos eventuais tropeços, das circunstanciais vicissitudes. Por isso, o
bicampeonato estadual conquistado na tarde-noite deste último domingo, no
Mangueirão, não é um título qualquer, uma conquista a mais, a se perder nas estatísticas
da história. A vitória sobre o Independente selou, sobretudo e principalmente,
um título de guerreiros. Guerreiros foram Cacaio, os jogadores sob seu comando, o preparador físico Nicolau Barros e quem a eles se somou, no cotidiano de tensas adversidades. Guerreira,
apaixonantemente guerreira, comovente guerreira, foi a torcida azulina, que não
recusou o apelo que lhe foi feito, inclusive tirando dinheiro do próprio bolso para ajudar a pagar jogadores e funcionários com os salários atrasados, e empurrou o time azulino para o triunfo da
perseverança de quem tem no amor incondicional pelo Leão Azul sua bandeira, seu
manto sagrado. O amor com início mas sem fim, traduzido pelo grito preso na
garganta, que solto ecoou por toda Belém: Leãooooooooooooooo....
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