Cacaio: profissionalismo e respeito (Foto Cezar Magalhães/DOL). |
A conquista do bicampeonato estadual pelo
Clube do Remo foi não só a vitória da superação, de um time
desacreditado, porque tecnicamente limitado, mas contra o qual conspirou principalmente a inépcia
da cartolagem. Muito dessa conquista histórica, pelas circunstâncias sob as
quais se deu, deve-se principalmente a Cacaio, o técnico do Clube do Remo, que,
para além da sua competência profissional, desponta, como um dignificante
exemplo de profissionalismo e respeito, um contraponto diante da mediocridade e
da leviandade dos dirigentes. Quando o Leão Azul foi derrotado por 2 a 0 pelo
Paysandu, na primeira partida da semifinal da Copa Verde, ele teve a dignidade
de reconhecer os méritos do arquirrival, sem transferir responsabilidades.
Confrontado com a indignação dos jogadores azulinos, diante do atraso dos
pagamentos dos salários, postou-se publicamente ao lado do elenco remista.
Pagos os salários atrasados e ajustado o time, comandou uma equipe motivada na
vitória por 2 a 0 sobre o Paysandu na partida de volta pela semifinal da Copa Verde,
na qual o Remo eliminou o adversário histórico nos pênaltis. Depois de nova
vitória da equipe remista sobre o time bicolor, por 2 a 1, na decisão do
segundo turno do Campeonato Estadual, agradeceu o empenho dos seus atletas e o
comovente estímulo da apaixonada, mas também exigente, torcida azulina.
Subsequentemente, acrescentou na ocasião, com a serenidade dos profissionais
efetivamente sérios, que nenhum título havia sido conquistado, em um exemplo de
respeito pelos adversários. Uma postura que o treinador azulino manteve
inalterada mesmo após a acachapante goleada por 4 a 1 imposta ao Cuiabá, em
Belém, no jogo de ida da final da Copa Verde, o que coloca o Remo como favorito
ao título da competição, passaporte para a Sul-Americana. Na decisão do
Campeonato Estadual de 2015, neste último domingo, 3, só se permitiu vestir a
camisa com a inscrição de campeão a segundos do término da partida, na qual o
Leão Azul, sob um Mangueirão pintado de azul-marinho, derrotou o Independente por 2 a
0, sagrando-se bicampeão paraense, em uma conquista inimaginável meses atrás,
antes do presidente Pedro Minowa, em um laivo de sanidade, patrocinar a
contratação de Cacaio como treinador da equipe remista.
Assim, Cacaio, que teoricamente deveria ter
como parâmetro de seriedade e respeito os dirigentes, é quem, no frigir dos
ovos, serve de exemplo à cartolagem, independentemente de clubes, como se viu
antes e depois do clássico entre Clube do Remo e Paysandu pela decisão do
segundo turno do Campeonato Estadual. No Paysandu, na semana de um jogo
decisivo, um deslumbrado Roger Aguilera, herdeiro e garoto-propaganda da rede
de farmácias Big Ben, em um surto de indigência mental serviu-se da mídia para
criticar acidamente os jogadores do Paysandu, em uma intervenção desastrosa, quer
do ponto de vista psicológico, por desestabilizar emocionalmente o time
alvi-azul às vésperas de uma decisão, quer eticamente, por dar publicidade a
uma questão de consumo interno do clube. Após a derrota que tirou o Papão da
Curuzu da final do Campeonato Estadual, aí entrou em cena, também
desastradamente, o próprio presidente do Paysandu, Alberto Maia, ao pretender,
pateticamente, desqualificar a conquista do arquirrival, ironizando se tratar
de um clube excluído de todas as divisões do Campeonato Brasileiro. Um
desrespeito ao adversário histórico, palatável na esteira do emocionalismo dos
torcedores que vão aos estádios movidos pela irracionalidade da paixão, mas
incompatível com o status de presidente de um dos dois maiores clubes de massa do Pará.
No Clube do Remo, nem as sucessivas
vitórias, que levaram o time às decisões do Campeonato Estadual e da Copa Verde
conseguiram aplacar as ambições escusas, cujo caráter espúrio é denunciado pela
tentativa de deposição do presidente Pedro Minowa, cujo balão de ensaio é a
versão, difundida nas redes sociais, de que o jogador azulino Roni, vendido ao
Cruzeiro, de Minas, na verdade teria sido adquirido pelo Paysandu, em uma
operação triangular, envolvendo o atual campeão brasileiro. A versão deixa
claramente no ar que Minowa poderia ter agido dolosamente, possivelmente a
senha para introduzir no comando do Leão Azul Mauro
César Lisboa Santos,
um advogado originalmente obscuro, que ganhou notoriedade ao colocar-se a
serviço da tucanalha, a banda podre do PSDB, patrocinando prefeitos tucanos
envolvidos em tramoias e pavimentando assim uma meteórica prosperidade. Santos
ganhou visibilidade pública por sua controvertida atuação como administrador
judicial da Celpa. Independentemente de qualquer coisa, e a despeito da inépcia
administrativa revelada por Minowa, há como contornar os problemas decorrentes
da omissão do presidente azulino, sem contemplar a traumática alternativa de defenestrá-lo
pura e simplesmente. Tanto mais porque, queira-se, ou não, ele chegou a
presidente do Remo legitimado pelo voto dos próprios associados, nas primeiras
eleições diretas do clube, derrotando os cardeais remistas, ou que assim se
arvoram a ser. Se alguma contribuição podem pretender dar ao Clube do Remo,
Mauro César Lisboa Santos e sua claque poderiam propor a
incorporação da pioneira iniciativa do Bahia, cujo estatuto veda a eleição de
dirigentes com ficha suja. Dessa forma, o clube azulino ficaria livre de
personagens do jaez do advogado Hamilton Gualberto, o assassino impune,
desprovido de escrúpulos, capaz de advogar contra o Clube do Remo, quando dele
era conselheiro.
De uma ponta a outra, do Clube do Remo ao
Paysandu, a concluir do deletério comportamento da cartolagem de ambos os
clubes, fica a lição basilar: de onde nada se espera, é de onde nada vem,
mesmo. Pelo menos de saudável e construtivo.
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