sábado, 9 de maio de 2015

ÔNIBUS – O (velho) enredo do achaque ao usuário


O script é de todos conhecido. Com a truculência que lhes é própria, alimentada por condições de trabalho desumanas impostas por um patronato primitivo, os rodoviários deflagram greve, desrespeitam impunemente a Justiça do Trabalho e penalizam cruelmente o usuário, obviamente de parca renda e, por isso, refém do transporte público. Após idas e vindas e as barganhas de praxe, os tubarões dos transportes públicos aquiescem e concedem reajuste salarial aos rodoviários, para imediatamente, com a voracidade que lhes é própria, apresentarem a conta à sofrida população de baixa renda, na forma do reajuste exorbitante das tarifas de ônibus. Em seu habitual mise-en-scène, a Prefeitura de Belém, trombeteia uma contraproposta, abaixo da superfaturada reivindicação do patronato, mas com o cuidado de preservar a pródiga margem de lucro deste. Novamente espoliado, o usuário segue sua penosa rotina diária, obrigado a valer-se de frotas sucateadas, ônibus sujos e desconfortáveis, cobradores e motoristas grosseiros e irresponsáveis, porque não são treinados para o exercícios de suas funções. Os tubarões dos transportes públicos, por sua vez, alapardam-se na prosperidade espúria, sob a complacência dolosa dos inquilinos do poder, cujos caixas de campanha historicamente abastecem, em troca da indiferença do poder público em relação ao usuário.
Este enredo repete-se mais uma vez. Depois do reajuste salarial de 10% concedido aos rodoviários de Belém, Ananindeua e Marituba, o Setransbel, o Sindicato das Empresas de Transportes de Passageiros de Belém, reivindica um reajuste de 15% nas tarifas de ônibus na região metropolitana. Nesse balé do achaque ao usuário, a Semob, a Superintendência de Mobilidade Urbana de Belém, entra em cena, contrapropondo quem o aumento seja de 12,5%. Detalhe sórdido: a inflação dos últimos 12 meses é calculada em 9,17% pelo Dieese, o Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócioeconômicos. O índice estimado pelo Dieese está expressivamente abaixo dos percentuais reivindicado pelo Setransbel e defendido pelo Semob, o que escancara o achaque dos tubarões dos transportes públicos, diligentemente patrocinado pela inepta administração do prefeito tucano Zenaldo Coutinho, o popular Zenada, alcunha que a ele aderiu diante do abandono ao qual permanece relegada Belém. Abandono que em nada difere daquele que foi a marca do seu antecessor, Duciomar Costa (PTB), o nefasto Dudu, eleito e reeleito com a utilização acintosa das máquinas administrativas estadual e municipal, tal qual Zenaldo Coutinho, do qual o ex-prefeito sempre teve apoio eleitoral, certamente porque os iguais se reconhecem.

Pobre Belém! Pobre de nós!!!

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