Porque
perdura atual, atualíssima, vale a pena transcrever a postagem de Lúcia Hippólito
de 10 de dezembro de 2009, sobre a importância da liberdade de expressão como
cláusula pétrea do ordenamento jurídico democrático:
STF
DEFENDE A CENSURA
Nem na ditadura
É
inacreditável! É estarrecedor!
O
Supremo Tribunal Federal, a Suprema Corte do nosso país, o guardião da
Constituição brasileira e dos direitos dos cidadãos, acaba de legitimar um dos
atos mais odientos e repugnantes na vida de povos que se pretendem civilizados.
Declara
textualmente o § 2º do Art. 220 da Constituição brasileira: “É vedada toda e qualquer censura de natureza
política, ideológica e artística.”
De
novo, para a gente não esquecer: “É vedada
toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística.”
Pois
os “Supremos” sapatearam sobre a Constituição brasileira e legitimaram a
censura à imprensa.
Por
seis votos a três, os meritíssimos mantiveram a censura ao jornal “O Estado de São Paulo”.
Não
se trata aqui de defender este ou aquele jornal. Quem decide se é boa ou não é
o cidadão. Como dizia Thomas Jefferson, um dos pais fundadores da democracia
americana e terceiro presidente do Estados Unidos, “a lei determina que a imprensa deve ser livre, não que deva ser boa”.
Thomas
Jefferson é autor, também, de outra reflexão crucial para a democracia. Disse
ele: “se eu tiver que escolher
entre um governo sem jornais e jornais sem um governo, eu não hesitaria em
escolher a última fórmula, isto é, jornais sem um governo”
É
irrelevante julgar os atores desse processo. O jornal “O Estado de São Paulo” foi
censurado porque um juiz amigo da famiglia Sarney proibiu a publicação daqueles
áudios deliciosos em que o filho de Sarney contava como a família exerce seu
poder privatizando todos os espaços públicos ao seu alcance, desde um bem do
Patrimônio Histórico, como o Convento das Mercês, transformado em mausoléu do
patriarca, José Sarney, passando pelo Senado Federal, onde foram empregados
aliados, cabos eleitorais, apaniguados, asseclas, netos, cunhadas, agregados da
família, namorados de netas, filhos fora do casamento, amantes et caterva.
Ainda
não mencionamos áreas estratégicas para o país, como por exemplo, a área de
Minas e Energia, feudo privado, quase quintal da famiglia Sarney.
Mas
há ainda verbas repassadas pela Petrobrás, pelo Ministério da Cultura,
passagens da Câmara utilizadas por assessores do primeiro-filho, que sequer é
parlamentar. Enfim, um sem-número de ilegalidades, que o jornal está proibido
de divulgar
Mas
não é disso que se trata aqui.
Não
se está julgando o jornal nem a famiglia Sarney.
Aqui
se trata do perigosíssimo golpe contra a democracia. Golpe perpetrado por
aqueles que têm como única função defender a Constituição brasileira.
Durante
a ditadura militar (1964-1985) existiu censura. Pesada, tenebrosa, assustadora.
Mas
a aplicação da censura era prerrogativa do Poder Executivo, através dos
hediondos Atos Institucionais.
Não
se tem notícia de que ministros do Supremo Tribunal Federal tenham coonestado a
censura.
Ao
contrário, temos exemplos de ministros heróicos, que resistiram e perderam a
toga por ato da ditadura.
Os
nomes de Victor Nunes Leal, Hermes Lima e Evandro Lins e Silva permanecem vivos
na nossa memória.
Mas
mesmo aqueles que concordaram com o golpe de 64 – e depois se arrependeram –,
como o ministro Aliomar Baleeiro, que tirou a toga e a pisoteu quando soube da
destituição dos três, jamais legitimou a censura da ditadura.
Tivemos
que viver mais de 24 anos de democracia para assistir à cena de hoje: seis
ministros da Suprema Corte do país apoiando a censura.
É
importante registrar aqui os votos dos ministros do Supremo. A favor da
liberdade de imprensa, dos cidadãos, da democracia e da Constituição
brasileira, votaram os ministros Carlos Ayres Britto, Celso de Mello e Carmen
Lúcia.
A
favor da censura, contra os direitos dos cidadãos, contra a democracia e pelo
desprezo à Constituição de 88 votaram os ministros Gilmar Mendes, Cezar Peluso,
Eros Grau, Ellen Gracie, Ricardo Lewandowski e José Dias Toffoli.
A morte da
liberdade sempre começa com a censura à imprensa.
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