segunda-feira, 9 de novembro de 2009

IMPRENSA – A disputa entre o Diário e O Liberal

O site Observatório da Imprensa reproduz a matéria do jornalista Lúcio Flávio Pinto – com revelações exclusivas – sobre a disputa travada entre os dois principais jornais do Pará, O Liberal, da família Maiorana, superado em vendagem pelo Diário do Pará, da família do ex-governador Jader Barbalho. Lúcio Flávio revela que o Diário do Pará superou O Liberal, mas o jornal de maior circulação na Amazônia é o novato Dez Minutos, de Manaus.
Segue, abaixo, a transcrição da matéria, que pode ser acessada também no seguinte endereço eletrônico:

http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=562IMQ005

IMPRENSA PARAENSE

Entre o maior e o menor

Por Lúcio Flávio Pinto, em 3/11/2009

Reproduzido do Jornal Pessoal, nº 452, 1ª quinzena/novembro de 209

O Diário do Pará de domingo (18/10) abriu manchete para comemorar ter superado a marca de um milhão de leitores no estado, que lhe garantiram "três anos de liderança ininterrupta" no mercado de impressos no Pará. É, de fato, uma façanha: nesse período, O Liberal, que se manteve por quase três décadas como líder disparado, quase monopolista, chegando a ter a preferência de 98% das pessoas que liam jornal, caiu para o segundo lugar, a certa distância do novo campeão. No entanto, a folha do deputado federal Jader Barbalho não contou toda verdade.
Poderia fazê-lo se, finalmente, divulgasse os dados sobre a sua tiragem apurados pelo Instituto Verificador de Circulação. Há mais de dois anos o IVC faz a auditagem dos números do jornal, mas até hoje o Diário não publicou um único dos boletins que recebeu do instituto. É um comportamento estranho. Outra façanha da empresa foi ter ocupado o lugar que foi de O Liberal durante vários anos: de o único jornal da Amazônia a contar com o selo do IVC, a mais respeitada fonte sobre a vendagem de jornais no Brasil, que serve de parâmetro para o mercado.
O Liberal sempre divulgou os resultados da verificação do IVC, exceto os últimos boletins. Não só cessou a fanfarra em torno da sua liderança comprovada: fugiu pelas portas dos fundos do instituto, num acontecimento único na história de meio século do IVC. Na véspera da chegada dos auditores a Belém, o jornal da família Maiorana se desfiliou. Foi a saída desesperada e desonrosa para não ser novamente flagrado na fraude. Os técnicos do IVC constataram que as informações prestadas pelo editor do jornal, sob juramento, eram aumentadas artificialmente em até 150%. O que O Liberal proclamava em sua propaganda, que chegou a colocar a tiragem do jornal acima de 100 mil exemplares, era pura mentira.
Menos leitores
Saiu O Liberal, entrou o Diário do Pará. Não mais como o único jornal da Amazônia que se submetia à apuração rigorosa do IVC (outras publicações já haviam se tornado clientes na região), mas o único do Pará. No entanto, guarda a sete chaves os boletins, sem fazer uso de seus dados, que lhe custam bastante dinheiro, porque o serviço do IVC não é exatamente barato, em função da qualidade do serviço prestado. A festa de "um milhão de leitores" se baseou em pesquisa do Ibope, que não tem a mesma credencial nem é específica para a apuração de tiragem de jornal. Destina-se a medir índices de leitura, um indicador descalibrado para a natureza da situação.
A tiragem do Diário do Pará, constatada pelo IVC em agosto deste ano, data da sua última auditagem, é de pouco mais de 26 mil exemplares (26.318, para ser exato). Logo, não pode gerar um milhão de leitores, o que daria quase 50 leitores por exemplar, média impossível. A realidade deve ser 10 vezes menor. O dado certo, de qualquer maneira, é o de 26 mil exemplares. De onde vem, então, o milhão apregoado? Da leitura acumulada "de todos os dias da semana", como informa a matéria do jornal, muito rapidamente, inibindo raciocínio mais aprofundado sobre o que diz. Ou seja: total acumulado durante toda a semana.
Informa, em maiores detalhes, sobre "a liderança aos domingos, com uma penetração no mercado de leitores habituais, que chega a quase 370 mil leitores, 20 mil leitores a mais que o segundo colocado", O Liberal. É outro feito: até pouco tempo atrás a folha dos Maiorana perdia nos dias da semana, mas mantinha a liderança dominical. Agora, não ganha mais uma só disputa.
O Diário do Pará não precisava recorrer a sofismas e manipulações para anunciar suas conquistas, que são de impressionar. Outra delas foi nos anúncios classificados, um dos esteios tanto do faturamento comercial quanto da circulação. O caderno "Tem!", lançado há seis anos, se tornou "o mais lido do Estado, ultrapassando com larga margem o concorrente mais próximo, com mais de seis décadas no mercado". O caderno do Diário "possui cerca de 390 mil leitores, com mais de 70 mil leitores que o concorrente mais próximo".
Este é um dado importante porque O Liberal parecia imbatível nesse segmento da publicidade. Tentativas anteriores de competir com ele resultaram em fracasso. Mas a vitória do Diário ainda não é completa: o concorrente sai com mais páginas na maioria dos dias da semana e com maior faturamento. O Diário conquistou o anúncio de menor valor, enquanto o anunciante dos classificados de O Liberal é de maior poder aquisitivo.
Por que o Diário não pratica uma comunicação aberta e sincera? Por que sonega as melhores informações que possui? Para não ter que partilhar com a opinião pública o drama vivido pela imprensa paraense. Apesar de todas as evidências superficiais de sucesso, ela vem caindo no ranking do jornalismo nacional. Em junho de 2008 o Diário era o 39º jornal de maior circulação do Brasil. Agora, é o 41º, embora sua circulação se tenha mantido estável, contra a tendência geral de queda, sobretudo dos líderes. A vendagem dos jornais brasileiros caiu para abaixo de 300 mil exemplares. A Folha de S.Paulo já só conta com 295 mil exemplares, contra 288 mil do concorrente mais próximo, que agora é o Super Notícia, de Belo Horizonte. Vêm, a seguir, Extra e O Globo, de Belo Horizonte, e O Estado de S.Paulo, o que mais leitores perdeu na cúpula da imprensa brasileira (menos 14%).
Peça de galhofa
O jornal de maior circulação na Amazônia já não é mais do Pará. Tornou-se o novato Dez Minutos, de Manaus, o 20º do país, com 54 mil exemplares, na tendência das publicações rápidas, bem ilustradas, fáceis de ler, que também deu certo em São Luís do Maranhão, onde O Estado do Maranhão, dos Sarney, foi desbancado feio pelo Aqui Maranhão, o 33º mais lido do Brasil, com 37 mil exemplares. Pela primeira vez um jornal gonçalvino passa à frente do líder paraense, com 11 mil exemplares a mais do que o Diário.
O projeto dos Maiorana de seguir essa tendência, através do Amazônia, até agora não deu certo. Não porque o esquema tenha se mostrado inadequado ao mercado paraense, mas por erro de concepção: o filho mais novo da família acabou tirando mais leitores do irmão mais velho do que do adversário, por pura incompetência na sua concepção. Essa concorrência ruinosa contribuiu para que o principal executivo do grupo, Romulo Maiorana Júnior, tenha descumprido a promessa de devolver O Liberal à clientela do IVC em janeiro deste ano. Passados nove meses, período de um parto humano, o jornal continua sem estar preparado para se revelar ao público. Sua tiragem é uma pálida reminiscência de um passado de glórias, reais ou inventadas.
Mas como, então, os jornais paraenses projetam a imagem de riqueza? Porque, cada vez mais, vivem de um pequeno número de grandes anunciantes, com ênfase perigosa nos governos. Essa dependência corrói sua independência e a capacidade de espelharem o dia a dia dos seus leitores. Eles se impressionam muito mais com o que não sai nas folhas do que com o que elas publicam. A credibilidade, tão enfatizada na propaganda, é peça de galhofa na realidade. Sem ela, um jornal pode estar com bela maquilagem e penduricalhos luminosos, mas não se afirma como a fonte de informações e orientações sobre o cotidiano dos cidadãos, como deve ser.

6 comentários :

Anônimo disse...

Parei de ler O Liberal e o Diário a muito tempo. Acho que nenhum dos dois atende mais a população com honestidade. Agora só leio os blogs independentes e o jornal pessoal do lucio flavio pinto.

Anônimo disse...

ESTE SANTO VAI TER REZA...

Anônimo disse...

Lucio talvez não saiba ou prefere omitir, que o jornal manauara Dez Minutos é distribuido gratuitamente. Mais especificamente nos 500 ônibus que levam e trazem os operários da Zona Franca.

Anônimo disse...

EU QUERO QUE ESSES DOIS EXPLODAM E AS CINZAS SEJAM JOGADAS NA CURVA DO "S".

Anônimo disse...

Prezado anônimo
Eu não sabia que o jornal é distribuído gratuitamente nos ônibus, informação absolutamente inédita para mim. Como a tiragem é auditada pelo IVC, em cujo boletim nacional me baseei, se isso ocorre, é fraude. E o IVC não podia computar a tiragem. É o caso de você mandar mais informações a respeito. O jornal tem um preço de capa, que é 25 centavos. E, independentemente de ser distribuído gratuitamente (informação que não omiti, apenas desconhecia), ele também é vendido em banca. Eu imaginava que era seu único meio de comercialização. Aguardo suas informações mais detalhadas para voltar ao assunto. Lúcio Flávio Pinto

Anônimo disse...

Liberal e Diário disputam o título de pior jornal, e nunca do melhor. Hoje, um esconde as maracutais do prefeito nefasto Duciomar Costa e escamoteia as estripulias da governadora desastrada Ana Júlia Carepa; o outro ataca, mas a situação já foi inversa.
Que credibilidade têm esses jornalecos?
Gostaria de saber de quem foi a idéia "brilhante" de lançar um jornal (Amazônia) com praticamente o mesmo conteúdo do outro (Liberal) por menos da metade do preço e pretender que o leitor compre o mais caro?
Quem faz esse tipo de opção não precisa de concorrente.
Baratovisck, apure se vem aí um novo formato do Liberal, em mais uma tentativa cosmética de encanar seus cada vez mais reduzidos leitores?