segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

ELEIÇÕES – “Resta saber o que virá, neste ano de eleições e de inaugurações”, adverte Américo Canto

Américo Canto: leitura da pesquisa com base em vasta experiência.

“Para todos os efeitos, o farol vermelho está acionado. Resta saber o que virá até o final do mandato do prefeito, neste ano de eleições e de inaugurações, como de praxe. Veremos, nos próximos meses, os efeitos desses fatores na avaliação popular.” A observação é do sociólogo Américo Canto, 54, ao comentar os resultados da pesquisa sobre intenção de voto na disputa pela Prefeitura de Belém, realizada pelo Instituto Acertar, na qual o prefeito Zenaldo Coutinho (PSDB), provável candidato à reeleição, ostenta um desempenho pífio. Com mestrado em ciência política pela UFPA, a Universidade Federal do Pará, e uma vasta experiência em matéria de sondagens eleitorais, com as quais trabalha há mais de 15 anos, Américo Canto é o coordenador da pesquisa, realizada pelo Instituto Acertar. O vasto contingente de indecisos, revelado na pesquisa espontrânea, soa natural para ele. “As candidaturas ainda não estão definidas e a população não sabe quem serão os candidatos”, explica Américo Canto, em entrevista ao Blog do Barata.

As recentes eleições em Belém foram decididas na esteira do poder econômico e da escancarada utilização da máquina administrativa. Até onde conta, diante disso, o sentimento traduzido na colossal rejeição ao prefeito Zenaldo Coutinho, revelado por esta pesquisa do Instituto Acertar sobre a eleição para a Prefeitura de Belém?

Uma gestão pública é avaliada de forma positiva ou negativa levando em consideração um conjunto de fatores, dentre eles, as obras realizadas na cidade. Após três anos e dois meses de mandado, tais obras da prefeitura não são visualizadas pela população, com exceção do BRT, a extensão de ciclovias e pavimentação ou recapeamento de algumas vias. Segundo a pesquisa realizada pelo Instituto Acertar, 61,3% está avaliando a atual administração da Prefeitura Municipal de Belém de forma negativa, quase o mesmo patamar que obteve o prefeito Duciomar Costa que era de 68,7% a um ano do termino de seu primeiro mandato.
A insatisfação de parcela significativa da população está relacionada também, com a falta de planejamento na execução da obra do BRT, com mudanças de trajetos sem o devido esclarecimento prévio à população. O sistema público de saúde é outro fator que causa indignação à sociedade. “A saúde está caótica”, dizem, citando obras inacabadas na bacia da Estrada Nova, creches sem funcionamento, postos de saúde com problemas, dentre outras reclamações. Vale ressaltar que o maior índice de insatisfação com a administração do prefeito Zenaldo Continho está concentrado entre os moradores de Mosqueiro e Outeiro, atingindo 79,2% de reprovação, seguido de Icoaraci, que alcançou 65,0%, Guamá 65,2% e Bengui com 64,8%.
Talvez a accountability, termo usado na ciência política para definir a prestação de contas que um gestor, não esteja surtindo o feito desejado, apesar das inserções diárias, na TV e no rádio, divulgando as realizações da administração Zenaldo Coutinho.
É óbvio que o momento também é desfavorável, devido às chuvas que caem nesta época do ano em nossa região, alagando a cidade e causando inúmeros prejuízos aos seus habitantes. Para todos os efeitos, o farol vermelho está acionado. Resta saber o que virá até o final do mandato do prefeito, neste ano de eleições e de inaugurações, como de praxe. Veremos, nos próximos meses, os efeitos desses fatores na avaliação popular.

Até onde a indignação popular, que floresceu diante do mensalão e recrudesceu com o petrolão, poderá se refletir nas eleições municipais deste ano?

Foi publicada uma pesquisa realizada a nível nacional pelo Instituto Datafolha, na qual é apontado que, se o voto não fosse obrigatório, praticamente 57,0% dos entrevistados não iriam comparecer nos locais de votação nas próximas eleições. Esse fato pode ser o reflexo da crise de representatividade pela qual passamos. O descrédito e decepção com os partidos políticos e com as personalidades políticas que elegemos para nos representarem, juntamente com a falta de uma reforma política de fato, com certeza aumentam a indignação social. Faz-se necessário devolver à sociedade o sentimento de que vale a pena participar da vida política da cidade. Mais uma vez citando a pesquisa realizada pelo Instituto Acertar, em Belém, 32,1% dos entrevistados respondeu que se o voto não fosse obrigatório não iriam comparecer para votar, contra 42,5% que afirmaram que compareceriam e 23,5% que estariam em dúvida. Acredito que esse sentimento de indignação, no decorrer do processo eleitoral, será em parte diluído. Quando o tom da campanha for orquestrado pelos programas no rádio, na TV e nas redes sociais, irá aumentar o desejo de participar e fazer valer o direito de escolher os representantes, sempre acreditando em dias melhores, dimensionando a importância da cidadania, o poder e desejo de mudar aquilo que não satisfaz e manter o que está bem, através do voto.

A pesquisa espontânea, sobre a eleição para prefeito de Belém, revela uma indefinição de 53% do eleitorado. Esse percentual, a esta altura, é normal, considerando a distância que nos separa do pleito, ou traduz alguma forma de alienação ou descrença do eleitorado?

É normal. Na pesquisa espontânea, a pergunta e feita aos entrevistados e não é dada nenhuma alternativa para resposta. Essa pesquisa serve para medir lembrança e visualizar também, o nível de interesse da sociedade sobre a temática. As candidaturas ainda não estão definidas e a população não sabe quem serão os candidatos. As escolhas são feitas no decorrer do processo, até mesmo porque nessa questão, estamos tratando de lembrança e os mais lembrados, em algumas situações, acabam sendo aqueles que foram mais votados no último pleito ou aqueles que estão com mais frequência na mídia, dentre outros. Entretanto, observando o voto estimulado, que é quando apresentamos nomes de pré-candidatos, a eleição municipal da cidade de Belém, que ocorrerá em 2 de outubro de 2016, no primeiro turno, para eleger um prefeito, um vice-prefeito e 35 vereadores, com a possibilidade de um segundo turno no dia 30 de outubro de 2016, o quadro muda e cai para 25,8% o número de eleitores que optariam em votar em branco, nulo ou não saberiam em quem votar.

E o percentual de abstenção, confirmado e em potencial, está dentro de patamares palatáveis, ou traduz a descrença do eleitorado em relação aos eventuais candidatos?

Segundo o glossário eleitoral do Tribunal Superior Eleitoral o TSE, a abstenção eleitoral é a ausência do eleitor nas urnas, o voto em branco é aquele em que o eleitor não manifesta preferência por nenhum dos candidatos e o voto nulo é tido como um voto de protesto contra os candidatos ou contra a classe política em geral. Tendo como referência tais definições e levando em consideração que 32,1% dos entrevistados nos dizem que “sem a obrigatoriedade do voto não iriam votar”, isso não significa que esse público esteja determinado a não participar do processo eleitoral, mas sim que representa uma manifestação contra tal obrigatoriedade. É uma manifestação de indignação, revolta com os fatos recentes protagonizados pela classe política. Mas é bom lembrar que a alienação política é a soma dos votos (brancos + nulos + abstenções). O histórico das últimas eleições em Belém aponta que em 2004 obtivemos 19,87% de alienação, em 2008 esse percentual atingiu 24,79% e em 2012 chegou em 24,13%, segundo o Tribunal Superior Eleitoral. Esses dados corroboram, reforçam a tese de que o quadro apresentado é normal, dentro do contexto atual pesquisado.

Presumindo-se que no eventual naufrágio da candidatura do prefeito Zenaldo Coutinho o PSDB e seus aliados investirão na candidatura de Eder Mauro, quais as chances, neste cenário, do ex-prefeito Edmilson Rodrigues, presumível candidato por um partido pequeno, sem maiores opções e recursos?

Fica difícil fazer projeções nesse sentido, até mesmo porque acredito que, mesmo com a avaliação negativa da administração do prefeito Zenaldo Coutinho, o mesmo é candidato em potencial. Assim como acredito que o ex-prefeito Edmilson Rodrigues, sozinho, sem alianças, não terá suporte suficiente para enfrentar as máquinas municipal e estadual, além do deputado federal Eder Mauro, que corre por outra raia, favorecido pela imagem de senhor da lei, ao qual, diante dessa crise de representatividade, a população procura se apegar.

No que o silêncio do PSol, sobre as suspeitas de corrupção no Sintepp, controlado por uma tendência do partido, poderá, circunstancialmente, conspirar contra a eventual candidatura de Edmilson Rodrigues?

Na atual conjuntura, qualquer suspeita de corrupção poderá conspirar contra um candidato e a sociedade está mais atenta para isso.

No que a escalada da criminalidade, favorecida pelo sucateamento da segurança pública, poderá favorecer o discurso do delegado Eder Mauro, permeado pelo simplismo da intolerância, na polarização com o ex-prefeito Edmilson Rodrigues, de currículo e atuação política inocultavelmente superiores ao seu adversário direto, neste momento?

A escalada da criminalidade que tem assolado Belém e o estado do Pará, como um todo, soa de forma positiva para o delegado Eder Mauro, que é também deputado federal. O fato de ser um policial, de prometer combater os criminosos, apresentar-se como defensor da população e implacável com os bandidos, que compromete-se em lutar pela garantia da qualidade dos serviços públicos, especificamente na área de segurança, lhe rendeu 265.983 votos nas últimas eleições, o que fez dele o candidato a deputado federal mais votado no estado. Em relação a Belém, na capital ele obteve 117.561 votos, ficando em segundo lugar, atrás do ex-prefeito Edmilson Rodrigues, que obteve 130.389 votos. Quero crer que, por ser uma eleição localizada e pelo fato da sociedade não viver somente de segurança pública, o candidato precisará ampliar as propostas para as outras áreas que envolvem a administração pública municipal e demonstrar conhecimento de causa.

O que explica um personagem como o senador Jader Barbalho, estigmatizado pelos adversários com a pecha de corrupto, despontar como o eleitor preferencial em Belém, superando até mesmo o governador Simão Jatene, apesar de aliado do governo da presidente Dilma Rousseff, amplamente rejeitado pelo eleitorado belenense?

Na eleição de 2010, para senador, Jader Barbalho obteve em Belém, 32,86% dos votos válidos, atrás do senador Flexa Ribeiro, que obteve 36,10%, ficando em terceiro lugar Marinor Brito, com 25,26% dos votos. Acredito que esse fato pode responder a sua pergunta. Essa pecha, que foi explorada novamente na eleição para governador do Estado, quando seu filho Helder Barbalho foi derrotado pelo atual governador, Simão Jatene, não surtiu tanto efeito, ainda que a vaidade de marqueteiros os façam acreditar nessa presunção. A meu ver, a derrota esteve relacionada a outros fatores que não vem ao caso agora, para não suscitar o trágico ou o cômico.

Na pesquisa perguntamos sobre o apoio político do Partido dos Trabalhadores, do governador do Estado Simão Jatene e do senador Jader Barbalho, e mais uma vez os dados evidenciam, a meu ver, que as lideranças políticas de nosso estado não se revelam como potentes cabos eleitorais e a indiferença pelo apoio de tais lideranças são bastante significativos. Da mesma forma, quando tratamos do Partido dos Trabalhadores que em tempos idos, a legenda chegou a atingir 23,4% como a preferida do eleitor belenense, percentual que declinou para parcos 8,7%. Mesmo assim, o PT está à frente de todos os outros partidos políticos, em termos de preferência do eleitorado de Belém.

Um comentário :

Anônimo disse...

Gostei da entrevista, realmente o Delegado vai ter que mostrar conhecimento sobre Belém. É só estudar, o Zezé não sabia nada e está ai, sorrindo lampeiro e agora endoidou, vai reformar o0 ver o peso em alguns meses, sim, antes da eleição. Haja voto, é muito subestimar a sociedade.