Sob a controvérsia a respeito da
pertinência, ou não, do impeachment e o temor de setores da oposição de que a
ira popular tenha o efeito de bumerangue e contra eles se voltem, como no caso
dos governadores tucanos Geraldo Alckmin (SP) e Beto Richa
(PR), a indignação vai às ruas neste domingo, em 200 cidades do Brasil, incluindo
Belém, segundo as estimativas. É a manifestação da ira popular diante da orgia
administrativa que corrói a estabilidade econômica legada pelo governo do
presidente Fernando Henrique Cardoso ao PT, quando este, via Lula, instalou-se
no poder. Se a bonança herdada de FHC permitiu a Lula atravessar incólume o
escândalo do mensalão, brandido sua popularidade para intimidar o Congresso e a
grande imprensa, e assim escapar do impeachment, a falência do projeto petista
de poder, expressa no descontrole inflacionário provocado pelo derrame de
dinheiro público, inclusive para viabilizar a reeleição da presidente, não
favorece Dilma. A marionete feita presidente pelo gigolô de sindicato, que
precisa evocar o passado remoto para justificar as recorrentes ignomínias do
passado recente e do triste presente, está acuada. Como intimidados estão os
parasitas travestidos de revolucionários, que em sua colossal soberba tentam
fazer o crime passar por virtude e tratam quadrilheiros como heróis. Resta
saber se essa indignação popular sobreviverá ao day after dos protestos deste domingo, ou ficará limitada a um
espasmo de revolta meramente anárquica, como acabaram por ser as manifestações
que chacoalharam o Brasil em junho de 2013.
Falar de impeachment aparentemente configura-se, a
priori, precipitado. Mas o que fazer com uma presidente incapaz de concluir um
raciocínio lógico, que tenta dissimular a inépcia valendo-se do marketing do oprimido, para utilizar a
imagem cunhada pelo jornalista Guilherme Fiuza? O que dizer de uma presidente
que trombeteia a redução dos impostos sobre itens da cesta básica, que uma
semana depois estaria mais cara, na esteira da escalada da inflação, de
responsabilidade do próprio governo? Como acreditar em um governo que sucateia
as empresas de energia para forçar uma conta de luz barata, para adular o
eleitor, ou que é capaz de maquiar as contas públicas, para ocultar a gastança
eleitoreira, cuja dolorosa conta é agora apresentada a nós, contribuintes? E o
que dizer da corrupção sistêmica introduzida pelo PT e seus cúmplices na
Petrobras, comprometendo a rentabilidade da maior empresa do Brasil? De que
forma levar a sério a pretensa austeridade presidencial, se mesmo após um
minucioso relatório da CGU, a Controladoria Geral da União, expondo as tramóias da
Delta nas obras do PAC, o Programa de Aceleração do Crescimento, a empreiteira
tenha sido aquinhoada por Dilma, tão logo eleita presidente, com mais 31
contratos, embolsando quase R$ 1 bilhão do governo? O bicheiro Carlinhos
Cachoeira, é bom lembrar, era o sócio clandestino da Delta, a empreiteira que
dominava o PAC, e foi, até o escândalo tornar-se público, o manda-chuva no
DNIT, o Departamento
Nacional de Infra-Estrutura de Transportes.
Nada mais emblemático do descrédito do
governo que a pesquisa do Datafolha, segundo a qual dos cerca de 41 mil participantes da manifestação pró-Dilma liderado
pela CUT, a Central Única dos Trabalhadores, em São Paulo, na sexta-feira, 13,
63% acham que a presidente sabia da corrupção na Petrobras. Diante disso, só a
lobotomia ideológica e a mais insana idolatria podem justificar a defesa do
indefensável e vislumbrar golpismo na possibilidade de um eventual impeachment.
A camisa de força ideológica produz apenas fantoches, massas de manobra. E a
idolatria é não só insana, mas também perigosa, porque deixa obnubilado. E aí
convém lembrar Oscar Wilde: “Idolatrias escondem perigo: o perigo de perdê-las,
não menos do que o perigo de conservá-las.”
Nenhum comentário :
Postar um comentário