Segue, abaixo, igualmente em itálico, o relato de José Leal, no capítulo dedicado ao envolvimento de Romulo Maiorana (foto) com o contrabando de armas, de acordo com a denúncia de O Globo, respeitada, como de praxe, a grafia original.
Realmente: à noite apareceu no hotel um môço bem vestido, insinuante, delicado e, pelo que eu pude deduzir de suas primeiras palavras, muito ladino. Era Rômulo Maiorana, dono de uma agência de propaganda em Belém, pernambucano de nascimento, que esteve na Europa durante a guerra, tendo trabalhado na Itália numa repartição do Exército americano. Estivera em Paris e noutras capitais do Velho Mundo, e agora se encontrava em Belém, onde faz a coluna social do matutino “O Liberal”. Explicou-me que no Pará lutou a princípio com certas dificuldades, mas que finalmente vencera e superara todas as crises, estando no momento com uma situação financeira equilibrada. Adiantou-me ainda que se tornara colunista social por uma questão de conveniência.
- No Pará, é o melhor trampolim do mundo para a gente fazer bons negócios.
Finalmente, confessou que regressara havia pouco dos Estados Unidos e resolvera trazer armas, máquinas de escrever, rádios etc. Mas não disse como desembarcara essas mercadorias. Salientou, isto sim, que só trouxera o que fora possível trazer “legalmente”. Quase dei uma gargalhada quando me falou em "legalmente". Como sabem os leitores, a venda de armas é severamente controlada, e sua saída do país exige uma série tão complicada de formalidades que sòmente os comerciantes estabelecidos no estrangeiro, com licenças inclusive do Exército, podem importar revólveres. E Rômulo Maiorana não é comerciante estabelecido com autorização para fazer essa espécie de comércio. Sendo severamente controlada, a saída de armas só se torna possível nos Estados Unidos por meios clandestinos, isto é: o indivíduo compra essas armas clandestinamente. A verdade é que Rômulo Maiorana se tornou contrabandista de revólveres para o Brasil. Ali, naquele momento mesmo, disse-me que da partida trazida restavam apenas 53 revólveres que estavam à minha disposição pelo preço de 9 mil cruzeiros cada um. Respondi-lhe que o preço era muito alto. Iria passar um telegrama para determinada pessoa no Rio e no dia seguinte lhe comunicaria minha decisão.
A verdade, leitores, é que Belém foi inundada de revólveres. Podia-se comprar uma arma nas calçadas dos hotéis, no bar, na rua, com o conhecimento da Polícia, que nenhuma providência tomou, embora sabendo quem os tinha trazido e quem os estava vendendo.
Mais tarde, certo amigo meu que me prestava informações contou a história dos revólveres com mais detalhes. Quem inaugurou o contrabando desse tipo de arma no Pará foi o agente da Real-Aerovias, o jovem Salgado. “Dificilmente – disse o meu amigo – ele se deixou convencer de que devia fazer o negócio. Mas a insistência dos meus amigos foi grande e Salgado não resistiu. Tinha medo, mas acabou criando coragem”. E contou-me como se procede o desembarque dos revólveres: “O avião internacional aterra em Val-de-Cãs e, quando chega ao fim da pista, justamente no momento de fazer a curva e taxiar rumo à estação de passageiros, o comandante, que sabe da história e ganha a sua parte, acelera os motores do aparelho, que já está com a portinhola aberta. Nessa ocasião, a aero-môça, que também faz parte da quadrilha, tem apenas o trabalho de empurrar com um dos pés o caixote com 100 ou 200 revólveres. Ninguém ouve o barulho do choque da caixa com o solo por causa do ronco dos motores. Dentro do mato estão escondidos os homens encarregados de transportar os pequenos volumes para um jipe, que some na estrada que vai para a cidade”.
Desse modo ficam os leitores sabendo que em Belém até o colunista social é contrabandista; que até um alto funcionário da Real-Aerovias vive fora da lei, sem precisar disso. Por tais motivos, quando a empresa resolveu, em novembro último, transferi-lo para Recife, vários comerciantes da capital do Pará enviaram ao presidente do Consórcio um abaixo-assinado, pedindo a permanência de Salgado ali. Quando li esse abaixo assinado nos jornais, compreendi logo o que havia.
4 comentários :
Hahahaha...cuidado barata! você vai deixar o "rominho" irritado...hahahahha.Vai ver o ódio dele pelo Lúcio Flávio é por ele ter exposto aquilo que ele mais se orgulhava no pai a "cara e pau" de de fazer o contrabando e não ser punido.
E nosso vereadores ladrões ainda botaram o nome deste contrabandista como nome da minha rua.
Vamos colocar nas placas da 25, Avendia Contrabandista Romulo Maiorana. Hahaha.
"moço insinuante e delicado", humhum, alguma coisa a ver com a floresta amazônica?
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