Com sede no Rio de Janeiro, então Distrito Federal, em 1957 O Globo já figurava dentre os mais importantes jornais da grande imprensa brasileira. Na sua época, o maior jornal da Amazônia, a Folha do Norte era comandada pelo lendário Paulo Maranhão, o destemido jornalista, de estilo devastadoramente abrasivo, notabilizado por desafiar o todo-poderoso Magalhães Barata (foto). Um caudilho que foi interventor e governador do Pará, com o perfil autocrático próprio da formação castrense, com seu estilo populista Barata passou para a posteridade como o maior líder político da história recente do Estado. Ele morreu no poder, em 1959, como governador eleito, vítima de leucemia, idolatrado pelas massas, mas execrado por expressivos setores da sociedade paraense – dos conservadores aos progressistas.
Em uma época em que a TV ainda não se disseminara e o Norte vivia isolado do resto do Brasil, a força da mídia impressa só encontrava paralelo na popularidade do rádio. Sob esse cenário, despontava Paulo Maranhão, que comandava a oposição a Magalhães Barata da Folha do Norte, abrigada no majestoso prédio da rua Gaspar Viana com a travessa 1º de Março. Enquanto o jornal perdurou nas mãos da família Maranhão, as paredes da redação conservavam as marcas dos tiros dos atentados perpetrados pelos baratistas, os correligionários de Barata, como símbolos da resistência democrática aos desvarios autoritários. A uma certa altura, a Folha, proporcionalmente, ostentava uma das maiores tiragens da grande imprensa brasileira, segundo revelou em 1986, em uma passagem por Belém, o jornalista Cláudio Abramo, já falecido e um dos ícones do jornalismo brasileiro, responsável pela modernização, gráfica e editorial, do jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo.
Autoritário e truculento, Magalhães Barata ganhou popularidade ao introduzir a prática do governo itinerante, percorrendo o interior secularmente esquecido, e instituir as audiências públicas, nas quais abria às massas as portas do majestoso Palácio Lauro Sodré, a sede do Poder Executivo, hoje Museu do Estado, algo jamais visto até então. Nas audiências públicas, segundo os relatos da época, ele ouvia os reclamos dos desvalidos e até dirimia prosaicos contenciosos, na perspectiva de suas rudes idiossincrasias, capaz de fazê-lo negar licença médica a uma professora gestante, argumentando que gravidez não é doença, conforme a lenda disseminada pelos próprios baratistas. Com seus próprios correligionários, Barata era imperial. Dalila Ohana, sua ex-companheira, relatou, nas memórias sobre as últimas 72 horas do caudilho, que ao recebê-los apenas de camisa para um almoço político, ao ver alguns deles desvencilharem-se do paletó, sem pedir consentimento, retirou-se momentaneamente, retornando com sua farda militar. Quem despira-se do paletó tratou de vesti-lo novamente, sabendo que o caudilho era extremamente cioso de sua autoridade e da liturgia do cargo. Barata também ganhou notoriedade pela honestidade pessoal, morrendo pobre, apesar do poder que deteve, mas coonestava o contrabando e o jogo do bicho. que financiavam o baratismo, sob o qual inicialmente prosperou Romulo Maiorana, após chegar ao Pará com uma mão na frente e outra atrás.
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