segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

UFPA – Ana Tancredi: compromisso ético e político

Uma apaixonada defesa da universidade pública e gratuita é o que faz a professora Ana Maria Orlandina Tancredi Carvalho, 62 anos, dos quais 28 dedicados à UFPA, da qual é docente concursada. Com doutorado em pedagogia na Unicamp, a Universidade Estadual de Campinas (SP), ela é candidata a reitora. Seu companheiro de chapa, como candidato a vice-reitor, é o professor Petrônio Medeiros Lima, doutor em engenharia mecânica, também pela Unicamp.
Em entrevista ao Blog do Barata, Ana Tancredi explicou o porquê de sair candidata a reitora e acentuou seu compromissos éticos e políticos. “Quero ser reitora da UFPA por entender que a universidade pública, em uma sociedade tão marcada por desigualdades, é uma das raras conquistas de democracia, e que é necessário defendê-la em todos os espaços possíveis, com compromisso ético e político”, sublinhou.

O que a motivou a sair candidata a reitora?

Primeiramente quero dizer que minha candidatura à Reitoria da UFPA não é um projeto pessoal. Ela nasce e se desenvolve no seio dos movimentos universitários, e traduz uma expectativa de defesa da universidade pública e gratuita. Aceitei a indicação de meu nome por acreditar que podemos, a minha equipe e a comunidade acadêmica, implantar um projeto de uma universidade que esteja voltada para o desenvolvimento humano e econômico da região.
Disponibilizei o meu nome como candidata, e quero ser reitora, para ajudar a implementar uma Universidade engajada com o social, que contribua na construção de um mundo verdadeiramente humanizado, que esteja comprometida com as lutas mais globais da sociedade pela ampliação do direito à cidadania Quero ser reitora da UFPA por entender que a universidade pública, em uma sociedade tão marcada por desigualdades, é uma das raras conquistas de democracia, e que é necessário defendê-la em todos os espaços possíveis, com compromisso ético e político.

Caso eleita, quais deverão ser suas prioridades, dentre os seus compromissos de gestão?

A melhoria do ensino de graduação será uma prioridade pela qual trabalharemos, visando conseguir a excelência nesse nível de ensino, buscando a qualidade requerida pela sociedade do século XXI. A pesquisa e a pós-graduação precisam também de atenção especial, precisamos estimular, cada vez mais, a produção do conhecimento que contribua para as transformações exigidas pelo mundo e pela socialização dessa produção, de tal maneira que as pessoas possam ser as beneficiárias diretas de tudo isso. Essas prioridades estão vinculadas às atividades fim da instituição, ensino, pesquisa e extensão.
A outra prioridade é a valorização dos técnico-administrativos e docentes, por meio de capacitação contínua, pela valorização profissional, pelo apoio às lutas por melhores salários. Desenvolveremos, ainda, uma política de inclusão para os estudantes, o que implica em garantia da permanência e da conclusão do curso com qualidade.

“Quero ser reitora da UFPA por
entender que a universidade
pública é uma das raras
conquistas da democracia e que
é necessário defendê-la com
compromisso ético e político”

Dentre as eventuais realizações da administração do atual reitor, quais aquelas que, na sua visão, deverão ser aprofundadas e quais as que necessitam ser revistas?

Tudo aquilo que acharmos positivo para a sociedade é evidente que terá continuidade, sem dúvida alguma. Saberemos honrar os compromissos assumidos. Quanto às ações a serem revistas, colocaria a necessidade de uma gestão democrática e participativa, na qual a colegialidade e a autonomia das unidades acadêmicas sejam absolutamente respeitadas.

O que a senhora pretende fazer, se eleita, para resgatar o curso de medicina do sucateamento no qual desembocou?

A primeira medida será ouvir a comunidade envolvida. É preciso avaliar o projeto político pedagógico, incluindo neste os cenários de pratica, pois o processo de formação em saúde é extremamente complexo, com ampla variedade de espaços de ensino que abrangem os laboratórios da área biomédica, os hospitais de ensino, os laboratórios e unidades de saúde. Isto significa que devemos praticar um planejamento integrado, potencializar os dois hospitais para abrigarem a alta complexidade, melhorar a atenção primária nas unidades de saúde e pensar num complexo integrado de saúde, interligado ao SUS (Sistema Único de Saúde), gerenciado pela UFPA. Viabilizar a construção o Centro de Pesquisa Clinica da UFPA, visto que desde 2005 esta integra a Rede Nacional de Pesquisa Clinica por meio do Hospital Universitário João de Barros Barreto. E se a comunidade do Instituto de Ciências da Saúde desejar, poderia implantar o distrito sanitário no qual os estudantes e professores da área assumiriam uma unidade de saúde e assim poderiam exercitar as diferentes especialidades de cada curso.

“O ensino de graduação será
uma prioridade. A pesquisa e a
pós-graduação precisam também
de atenção. Outra prioridade
é a valorização dos docentes e
dos técnico-administrativos”

Eleita reitora, qual será a sua postura em relação ao redimensionamento de pessoal, diante das críticas segundo as quais se trata de uma iniciativa em tese saudável, porém implementada de forma autocrática e, por isso, desvirtuada de seus propósitos originais?

O redimensionamento é uma demanda da própria categoria de técnico-administrativos. Eles lutam por isso, sobretudo o Sindicato (dos Trabalhadores da UFPA, Sintufpa), faz tempo. Então há um reconhecimento de que é necessário se fazer esse procedimento.
O problema todo, que trouxe revolta, doenças, e até pessoas entrando na Justiça, foi a maneira da realização do referido redimensionamento. O que os servidores falam é que os mesmos não foram ouvidos, considerados, respeitados. Isso não pode acontecer. Dizemos sempre que as pessoas devem vir em primeiro lugar. É isso que faremos.

Na sua leitura, qual o bônus e qual o ônus de não ter o apoio do atual reitor, como é o caso da sua candidatura?

Para mim, não acredito que tenha bônus e muito menos ônus. Sinto-me absolutamente independente, tenho compromisso com os meus princípios e, no caso específico, com a defesa da universidade pública e gratuita. Considero-me verdadeiramente uma candidata de oposição. Não vou fazer jogo de palavras. O nosso projeto de universidade é radicalmente diferente do que aí está. Não trabalhei nessa gestão, não assumi qualquer cargo de confiança, não fiz barganhas. Por isso não tenho bônus, nem ônus, por não ter apoio do atual reitor.

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