BELÉM – Abandono e falta de perspectivas

Recebi e reproduzo o comentário abaixo transcrito, enviado pela internauta que se identifica como Lúcia, a propósito do abandono e da falta de perspectivas de Belém, às vésperas do Fórum Social Mundial.

“FSM: SOS por Belém

“Belém do Pará, de 27 de janeiro a 1º de fevereiro de 2009, se transformará na capital cultural e política de pelo menos parte do Mundo. Uma oportunidade ímpar.
Sabemos das dificuldades, do pouco que foi feito para uma tranquila realização do Fórum Social Mundial, por parte dos gestores. Mas necessário se faz reconhecer do imenso esforço que as Organizações Sociais estão fazendo para minimizar os efeitos desse pouco empenho, que só veio tardiamente e atropelado pelo momento de clamor social pela diminuição da violência urbana. Não vamos nos iludir achando que os nossos visitantes chegarão desavisados de tudo que está acontecendo aqui. Eles sabem que os hotéis estão com preços extorsivos, sabem que não sabemos valorizar o que temos e sabem que cultivamos uma imensa dificuldade em reivindicar nossos direitos.
“Não sabemos brigar, não sabemos exigir e não sabemos proteger nem nossas crianças, nem nossos recursos naturais. Estaremos na vitrine e só nos resta pelo menos, demonstrar hospitalidade, simpatia e não esconder nossas mazelas. Mesmo porque isso não será possível. As atividades que acontecerão na Universidade Federal do Pará terão como cenário, uma das maiores favelas ao longo de uma rodovia de toda a América Latina. Uma situação de moradia que não houve interesse dos governantes da época para intervir e deixá-la pelo menos socialmente habitável. Algumas melhorias ainda estão longe de atingir o ideal. O “bairro” nasceu com uma velocidade tão assustadora e hoje abriga trabalhadores e bandidos que assaltam nas imediações desde 1997. Tudo sob os olhares impassíveis das autoridades.
“Esta é a Belém que mostraremos. Sem maquiagem. A Belém que sonhamos está por trás dessas mazelas. Mostrar a Estação das Docas e o bondinho reformado não vai iludir intelectuais experientes.
Sabemos o que deve ser feito. Por que não é feito?
“A verde é que enquanto não houver uma creche em cada bairro, com vagas suficientes e tratamento minimamente digno para as crianças, enquanto não acontecer o ordenamento urbano com transporte de qualidade, condições de moradia com programas habitacionais executáveis e acessíveis; enquanto dormimos e acordarmos em cima dos escombros dos nossos casarões tão belos e não tivermos oportunidades de renda e emprego para todos os jovens, nada mudará.
“Aos participantes paraenses do Fórum Social Mundial é lançado o desafio de mostrar o horizonte. Do jeito que estamos não está sendo possível enxergá-lo.”