Na interpretação de Américo Canto, equívocos
nas pesquisas que balizaram a campanha e a falta de mobilização de setores da
coligação do candidato, sobretudo na região metropolitana de Belém, explicam o
revés eleitoral amargado por Helder Barbalho. “A candidatura de Helder ganhou
maior gordura em função da inércia do governo Jatene e parece que, em princípio,
sua candidatura era uma preparação para 2018, mas com os acontecimentos acabou
ganhando volume e poderia ter sido vitoriosa, se não houvesse erros de
estratégia política, principalmente quando teve como referência pesquisas que
não condizem com a realidade política eleitoral do Estado”, assinala. “É claro
que emergem outros fatores, além das pesquisas, e um deles está relacionado à falta,
de forma mais consistente, de participação daqueles que faziam parte da aliança
política, principalmente na região metropolitana de Belém”, acrescenta Américo
Canto, na entrevista abaixo, concedida ao Blog do Barata.
A
derrota de Helder Barbalho, o candidato ao governo do Pará pelo PMDB,
representa o fim do ciclo do seu pai e patrono político, o senador e
ex-governador Jader Barbalho, hoje com 70 anos e que perpetuou seu nome como a
mais longeva liderança política da história do Pará?
O
PMDB elegeu, em 2012, 27 prefeitos nos 144 municípios do Estado do Pará, fora
os municípios onde houve aliança com outros partidos. Nesta eleição de 2014 o
PMDB fez três deputados federais e oito deputados estaduais. Esse fato
demonstra que o partido é o segundo em número de parlamentares
eleitos, além de Jader Barbalho, que detêm mandato de senador da República, em
uma aliança com o governo Federal. Esse quadro é um sinalizador de que o
partido vai bem e corrobora para a manutenção de Jader no controle do mesmo. Para
ser mais claro, não visualizo Jader Barbalho afastado do controle do PMBD, a
não ser por algum motivo que extrapole questões políticas.
Como
é praxe em políticos de perfil solar, Jader Barbalho jamais admitiu sombras no
PMDB, partido que no Pará se confunde com o seu nome, inibindo a emergência de
lideranças com luz própria. Helder Barbalho teria tempo para ganhar vida
própria e habilitar-se a comandar o PMDB, sem estar a reboque do pai e patrono,
como ocorreu até aqui?
A
princípio não vejo a possibilidade de ocorrer alguma cisão dentro do partido em
razão da liderança de qualquer um dos integrantes do partido, muito menos a de
Helder Barbalho. A candidatura de Helder ganhou maior gordura em função da
inércia do governo Jatene e parece que, em princípio, sua candidatura era uma
preparação para 2018, mas com os acontecimentos acabou ganhando volume e
poderia ter sido vitoriosa, se não houvesse erros de estratégia política,
principalmente quando teve como referência pesquisas que não condizem com a
realidade política eleitoral do Estado. É claro que emergem outros fatores,
além das pesquisas, e um deles está relacionado à falta, de forma mais
consistente, de participação daqueles que faziam parte da aliança política,
principalmente na região metropolitana de Belém.
Para
além da escandalosa utilização da máquina administrativa estadual pelo
governador tucano Simão Jatene, Helder Barbalho foi vítima do caráter
plebiscitário que acaba ganhando qualquer eleição majoritária na qual se
envolva, direta ou indiretamente, Jader Barbalho?
Nos
parece que Jatene ficou mais na defensiva que Helder, pelo menos até a
penúltima semana de campanha. Por várias vezes o programa de Jatene foi
utilizado para rebater as denúncias de escândalos que envolveram seus filhos,
dentre outros. Talvez a falta de consistência nas denúncias, a desconstrução, a
pecha de mentiroso, tenha sido mais importante, mais forte, do que o fato de
Helder ser filho de Jader Barbalho. Se fosse assim, Helder não teria sido
vitorioso no primeiro turno. Se fosse assim, Ana Julia não teria sido eleita governadora
em 2006 com o apoio de Jader Barbalho, e Jader não teria os 582.100 votos para
senador na região metropolitana como teve, apesar de ter sido superado por
Flexa Ribeiro, que obteve 624.510 votos. Não resta dúvida que a máquina
administrativa foi determinante - tanto a do governo estadual, como dos
governos municipais de Belém e Ananindeua - para a vitória de Jatene,
principalmente na região metropolitana de Belém. A estratégia foi à mesma do
primeiro turno e Jatene só fez ampliar sua votação na região metropolitana. Da
eleição do primeiro turno para o segundo turno, Jatene ampliou sua votação em
100.284 votos, enquanto que Helder teve uma regressão de 12.171 votos. No
primeiro turno Helder obteve 485.090 votos e no segundo turno sua votação caiu
para 472.919. Esse fator foi crucial para o candidato Helder na região
metropolitana.
Até
onde o estigma de quinta-essência da corrupção, que aderiu de forma
aparentemente indelével a Jader Barbalho, conspirou contra Helder Barbalho,
nesta eleição para o governo do Pará? Ou faltou ao candidato peemedebista uma
biografia política mais alentada, mais consistente, de forma a não ser tomado
como um mero preposto do pai e patrono político?
Esta
campanha não diferente de campanhas anteriores foi recheada de denuncismos.
Nesta campanha, a polarização foi entre blocos econômicos de comunicação, e
esse fato, fez se acirrar ainda mais os ânimos pelos interesses defendidos por
cada um dos grupos. Os veículos de comunicação da família Barbalho defendendo
Helder e os veículos de comunicação da família Maiorana em defesa de Jatene. Os
debates que ocorreram entre os candidatos a governador do Estado, foram de
golpes baixos, de denuncias e pouco conteúdo propositivo. Algumas vezes soava
como cinismo pelo despropósito como se dirigiam um ao outro. As pesquisas que
realizamos após o debate identificavam que muitas pessoas não estavam antenadas
com o debate e foi unânime entre os eleitores que assistiram usar a expressão
“baixaria”. Não acredito que tenha sido a pecha de corrupto que Jader carrega o
causador da derrota de Helder, mas sim sua estratégia eleitoral do segundo
turno. A campanha de Jatene ganhou mais consistência nas últimas duas semanas
antes da eleição e essa estratégia foi propositiva na região metropolitana. O
que falávamos em entrevista anterior, sobre o fato do candidato Jatene colar
seu nome ao do candidato Aécio, surtiu efeito positivo.
O
marketing eleitoral de Helder Barbalho foi, aparentemente, perfeito, ao manter
na defensiva o adversário, mais preocupado em responder às denúncias de
malfeitos feitas no horário político do candidato peemedebista, que
pessoalmente deteve-se em um discurso propositivo, embora cobrando promessas
não cumpridas por Simão Jatene. No que Helder Barbalho falhou, ou Simão Jatene
soube melhor explorar, para reverter um cenário profundamente adverso e acabar
reeleito, em apenas 21 dias?
Em
entrevista anterior falei que o segundo turno é uma nova eleição, apesar de
poucos eleitores mudarem o voto no segundo turno, assim como, comentei sobre a
participação, ou não, dos eleitos e não eleitos deputados federais e estaduais,
seria um ponto importante para ambos os candidatos. Parece que a coligação e o
grupo político de Simão Jatene foram mais consistentes e participativos no
processo eleitoral do segundo turno. Falávamos também nos votos voláteis, os
votos de Marina Silva que acabaram migrando para Aécio e as pesquisas de Helder
foram incapazes de identificar esse fato. Do primeiro turno para o segundo a
candidata Dilma Rousseff teve um incremento de 63.133 votos no Estado do Pará, o
que corresponde a um crescimento de 3%, enquanto seu opositor obteve incremento
de 502.610 votos, crescimento que atingiu 47,5%, e parcela desses votos foi
transferido para Jatene e vice-versa.
Simão
Jatene ganha um terceiro mandato como governador com o Pará politicamente
dividido quase meio a meio, com adversários que chegam ao fim da campanha como
um pote até aqui de mágoas. Sob esse cenário, o que se pode esperar do novo
mandato de Simão Jatene, considerando que, para o bem ou para o mal, a política
no Pará passa, necessariamente, por Jader Barbalho?
Observando
a correlação de forças no cenário da Assembleia Legislativa, houve uma
renovação de 61% dos deputados estaduais e o PMDB ficou com a maior bancada,
composta de oito deputados. O PSDB permaneceu com seis deputados. A maior perda
foi para o PT, que tinha oito e ficou somente com três. A correlação de forças
entre situação e oposição está em equilíbrio na Assembleia Legislativa e esse
quadro, representado pelos maiores partidos locais, demonstra que deverá haver
negociações e as mágoas de campanha deverão ser deixadas de lado, para se
tratar de assuntos de interesse da sociedade paraense, apesar de termos visto
recentemente, em entrevista concedida pelo governador, onde pareceu que o mesmo
ainda está em campanha eleitoral. Não
podemos esquecer também que dos três senadores do Estado, dois deles são de
partidos de oposição ao do atual governador do Estado do Pará. Portanto, para a
boa governabilidade, será preciso muita negociação.
E
no plano nacional, como deve se comportar o governo Dilma Rousseff,
considerando que o senador Aécio Neves sai da disputa eleitoral cacifado por
uma expressiva votação e uma minguada diferença em relação a candidata petista,
com o mérito adicional de ter resgatado a importância histórica de Fernando
Henrique Cardoso, como o presidente da estabilidade econômica, que tornou
possível Lula ter sido o presidente da inclusão social?
O
governo Dilma, diferente do governo local, permanece com a maioria no Congresso
Nacional. Entretanto, como os analistas em nível nacional vem comentando, a
oposição saiu desta eleição mais fortalecida do que em qualquer
eleição anterior. A própria presidente, em seu discurso como reeleita, já
começou a sinalizar a necessidade de união e diálogo pelo bem do País.
Um comentário :
Caro barata, peça agora a análise do cientista político Edyr Veiga, do IVeiga. Será que ele pode esclarecer o que houve nas suas pesquisas descalibradas?
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