Roberto Corrêa: vocação política faz de Helder Barbalho o favorito. |
“Máquina
administrativa e mídia são importantes, mas não conseguem esconder a verdade
sentida pelo eleitor a quando da avaliação da gestão tucana que se encerra.”
A observação é de Roberto Corrêa, cientista
político que é professor de carreira da UFPA, a Universidade Federal do Pará,
ao comentar os desdobramentos da eleição para o governo do Pará, em cujo
primeiro turno Helder Barbalho, candidato do PMDB, derrotou o governador Simão
Jatene, do PSDB. Um dos mais respeitados intelectuais de sua geração, Corrêa vê
o pêndulo eleitoral favorecer Helder Barbalho, herdeiro político do senador
Jader Barbalho, com o qual se confunde o PMDB no Pará. “Ser político é vocação e o tempo da política é o tempo da negociação, do
ouvir com atenção as demandas e sugestões dos aliados. Diferente de Jatene,
Helder é o piloto de uma nova coalização que busca o poder amalgamando demanda
dos vitoriosos e derrotados. As adesões a sua candidatura são a prova
inconteste de sua vocação política”, assinala Corrêa, na entrevista abaixo,
concedida ao Blog do Barata.
Costuma-se dizer que o segundo turno é uma nova eleição. Esta premissa
aplica-se ao caso do Pará, diante da exacerbada polarização que desde o início
da campanha marca a disputa para o governo e o caráter plebiscitário que o PSDB
tentou imprimir à eleição, na esteira da condição de Helder Barbalho de
herdeiro político do senador e ex-governador Jader Barbalho?
Nova eleição é redundância semântica para não dizer reconhecimento da
estratégia de continuidade da política eleitoral desencadeada no 1º turno,
posto que os concorrentes darão prosseguimento ao esforço de captura de votos
mediante assédio aos candidatos eleitos e não eleitos pelas nominações
partidárias e/ou coligações. Campeões de voto como Delegado Eder Mauro (PSD,
265.983 votos) e Edmilson Rodrigues (PSOL, 170.604 votos) estão no centro desse
assédio tático. No caso dos não eleitos, os que pontuaram em significado de
popularidade, foram, para governador, Zé Carlos Lima (PV), com 1749 votos;
Elton Braga (PRTB), com 749 votos; mais a não tanto surpresa de Jefferson Lima
(PP), para senador, com 741.727 votos. Muitos candidatos a deputado federal e
estadual, não eleitos, serão importantes nesse esforço de cabalagem: Raul
Batista (PRB); Miriquinho Batista (PT); Giovanni Queiroz (PDT); Paula Titan
(PMDB); Gerson Peres (PP) e Ana Julia Carepa (PT). Concordo com o termo nova
eleição dado que a estratégia dominante será a busca do voto trânsfuga, posto
que no 2o turno cai e muito a mobilização da tropa de apoiadores do candidato
Jatene em razão das não esperadas derrotas e das eternas quizilas reinantes no
jardim secreto tucano, aumentando com isso a inclinação do eleitor mediano
votar em quem está na frente; neste caso, Helder Barbalho. A intuição de que o
candidato desafiante seja herdeiro político de Jader Barbalho é fragilizada nos
propósitos difamadores da tucanada, tendo em vista a surpreendente autonomia
intelectual, moral e política do jovem Helder Barbalho, sobretudo no que diz
respeito a sua autoimagem explicitada na semântica inaugurada por Maquiavel:
seja por carisma (liderança e poder); seja por virtù (valores próprios e reais
que um homem político oferece a seus seguidores).
Considerando
o quadro eleitoral no Pará, o segundo turno é o momento do voto útil, do
eleitor dizer sobretudo o que não quer, ou comporta o voto da persuasão,
determinado por uma agenda propositiva?
As duas motivações, persuasão e agenda propositiva se encontram no
marketing político e estarão expressas nos debates que agora, cara a cara,
tendem a reduzir a dominância do script e favorecer o candidato com maior
sagacidade, criatividade e domínio da informação regionalizada e localizada, no
que favorece Helder pelo seu Ouvindo o Pará em mais de 100
municípios. Jatene estará preso a números que não convencem e poderá se sentir
atraído pelo jogo de “cascas de banana” que na maioria das vezes funcionam como
bumerangues. A agenda propositiva dos candidatos é sempre o que o eleitor mais
exigente que ver e ouvir na discussão dos debates do 2º turno; pois, afinal, o eleitor
busca na noção de bem público o que mais importante para sua vida; mormente no
que diz respeito a cesta básica da cidadania: educação, saúde e segurança.
Qual a
repercussão, na candidatura do governador Simão Jatene, ele ter saído do
primeiro turno com votação inferior a de Helder Barbalho, a despeito da
utilização da máquina administrativa estadual e do ostensivo apoio de um dos
dois maiores grupos de comunicação do Pará, com o agravante adicional do Pará
exibir índices sociais pífios?
A repercussão desse inesperado 2º lugar é, sem dúvida, o rebaixamento da
moral da tropa que diante da quase tragédia eleitoral poderá vir a ser no 2º
turno uma espécie de Incrível Exercito de Brancaleone --- ou seja, uma brigada
desorientada nos seus propósitos eleitorais e tendente a aceitar a corrente
trânsfuga, dos que mesmo tendoi votado em Jatene no 1º turno, passam a votar em
Helder no 2º turno, algo como a descabestralização do voto.
Máquina administrativa e mídia são importantes, mas não conseguem esconder a
verdade sentida pelo eleitor a quando da avaliação da gestão tucana que se
encerra. Bom lembrar que todo o gestor (presidente, governador e prefeito) é
príncipe para uns e tirano para outros. Helder, com tudo o que a mídia apronta,
foi reeleito em 1º turno para um segundo mandato em Ananindeua; o que o
enquadra como príncipe da maioria e tirano da minoria. Para Jatene, as
pesquisas mostram o inverso, seja pela avaliação de seu governo, seja pelo
índice de rejeição.
Até onde
repercute, nas candidaturas de Helder Barbalho e Simão Jatene, o fato do
segundo turno se dar com as disputas para a Câmara Federal e Assembleia
Legislativa já definidas, com o previsível legado de mágoas daqueles cujas
expectativas foram frustradas?
Não há como evitar as frustrações e mágoas dos não eleitos e dos eleitos.
É muito comum entre os tucanos paraenses as desavenças intra e entre partidos
coligados. Fato que denuncia a ausência de uma liderança reconhecida por todos,
como é o caso de Jader Barbalho no PMDB que, longe de ser um cacique é, na
verdade, um maestro que rege uma coalizão de líderes regionalizados pelo
plesbicito de 2012 da redivisão territorial do Pará. Jatene não é politico, é
um técnico competente e, como tal, seu tempo está voltado para o resultado
e não para a negociação pela qual não demonstra vocação ou paciência . A
principal queixa que dos políticos é a de que Jatene, quando procurado em seu
gabinete, parece ouvir não ouvindo... Ser político é vocação e o tempo da
política é o tempo da negociação, do ouvir com atenção as demandas e sugestões
dos aliados. Diferente de Jatene, Helder é o piloto de uma nova coalização que
busca o poder amalgamando demanda dos vitoriosos e derrotados. As adesões a sua
candidatura são a prova inconteste de sua vocação política.
São
evidentes as fraturas internas no PSDB do Pará, a mais vistosa das quais a do
senador Mário Couto. Até que ponto isso conspira contra a candidatura de Simão
Jatene, considerando que o candidato tucano muito provavelmente terá o apoio de
políticos bem à direita do espectro ideológico, como Wlad Costa, reeleito
deputado federal pelo Solidariedade?
Essas fraturas
são agravadas por feridas difíceis de sarar. Mário Couto e Jefferson Lima não
apoiam Jatene. Aliás, Jefferson Lima já aderiu a candidatura de Helder. Wlad,
até onde sei, tem seu reduto eleitoral em intercessão com os redutos do PMDB e,
por conveniência de sustentabilidade eleitoral, não deverá se arriscar numa
campanha contra seus ex correligionários. Especulo que Wlad negociou sua
migração para outro partido como tática de garantir sua eleição sem prejudicar
a eleição das candidaturas novatas do PMDB a deputado federal, como a de Simone
Morgado.
No
primeiro turno, a candidatura do tucano Simão Jatene fez-se dissociada da
candidatura do presidenciável do PSDB, Aécio Neves, cuja votação no Pará foi
pífia. Supondo-se que no segundo turno Aécio Neves melhore seu desempenho no
Pará, até por conta da eventual migração de parcela dos eleitores de Marina
Silva, isso pode favorecer Simão Jatene?
Primeiro há que considerar que Marina Silva tem um eleitorado muito
eclético. Religiosos, ambientalistas, ecologistas, petistas insatisfeitos, etc.
Esse eleitor não necessariamente acompanhará o apoio indicado por Marina.
Votará de acordo com suas crenças que, em estados pobres do Nordeste e Norte,
tendem a referendar a reeleição de Dilma em associação crescente com o
candidato a governador integrante da coligação armada para o 2º turno. No caso
do Pará, Dilma e Helder reforçam a adesão do voto “maluco beleza”, muito
próprio da contradição ambulante que é Marina Silva. Não esquecer que o
candidato do PV ao governo, Zé Carlos Lima, já proclamou seu apoio a Helder.
No que a
candidatura da presidente Dilma Rousseff pode favorecer Helder Barbalho, na
disputa para o Senado?
A bipolarização plesbicitaria tende a consolidar as preferências do
eleitor tanto de Dilma para Helder como de Helder para Dilma. Programas de
governo em andamento como o PAC, Prouni, Minha Casa Minha Vida, Pronatec, Bolsa
Família, entre outros, despertam o interesse do eleitor nessa associação tendo
em vista que o centro estratégico de poder é Brasília e sua derivação, o Pará,
há que falar a mesma língua centrada nos interesses dos pleitos futuros.
O que,
neste segundo turno, pode contar a favor e o que pode conspirar contra as
candidaturas de Helder Barbalho e Simão Jatene?
A candidatura de Helder tem a favor a preferência do eleitorado pela
continuidade dos programas de transferência de renda expressos na candidatura a
reeleição de Dilma Rousseff. O que poderia conspirar contra seria uma ascensão
inesperada da candidatura de Aécio Neves, uma vez que a polarização faz dessas
chapas um tipo de voto em bloco sistêmico. Isto é, quem vota em Dilma vota em
Helder; quem vota em Aécio vota em Jatene. Daí a mudança de estratégia dos
tucanos em anunciar o empate técnico como presságio de vitória da oposição
tucana. Ou seja, queiramos ou não a polarização PT v.s. PSDB contamina o
mercado eleitoral independentemente do partido coligado a esta ou aquela
nominação partidária. Falo isso como tendência, jamais como lei natural de
preferências eletivas do eleitor paraense.
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