SILVIO KANNER *
Na
literatura política existem muitas definições de crise, ainda assim, cremos ser
possível o estabelecimento de um ponto comum entre essas várias definições,
relacionado à indefinição, incerteza, instabilidade. No quadro político real,
essa definição de crise se expressa em geral pelo confronto de dois ou mais
blocos de interesse/poder cujas posições sobre os caminhos a seguir, visando a
superação de uma determinada situação, são por completo divergentes e em certos
casos, antagônicos.
A
greve de 2014 no Banco da Amazônia
tem a marca de uma crise institucional. Problemas estruturais graves exigem
solução, como toda solução na economia, esta também tem um custo, e como é da
natureza dos custos, alguém deve saldá-lo. A questão está então em: quem o
fará?
A
partir do comando da empresa, sua diretoria devidamente importada para dar cabo
ao plano, e devidamente reforçada por um pelotão de artilharia formado por
agentes da casa, para evitar um conflito, por que não dizer “nacionalista”,
propõe sua estrutura de sacrifícios. Os
empregados precisam trabalhar mais; nas palavras do “nosso” diretor de Recursos
, “entregar mais”; mas isso não sendo o bastante, devem ganhar menos.
Mas
essa estrutura de sacrifícios, visando a superação da crise que eles agora
assumem de forma aberta, é tão somente o plano de saída clássico de uma crise
como esta, isto é, aos empregados e clientes cabe o sacrifício, em troca de promessas
de uma “terra prometida” à diretoria, ao governo, aos acionistas o esforço de
superação da crise não deve lhes retirar nada.
A
diferença, desta feita, está na radicalização do conflito, cujo motor é a nova
leitura que a diretoria do banco procedeu, a de que seu plano de superação da
crise não terá eficácia se as entidades e, principalmente, a AEBA, com a
conduta atual, permanecerem nesta posição. Em vários momentos representantes do
batalhão de choque repetem as palavras do chefe e o próprio chefe em pessoa, ao
passar pelo piquete num desses dias de greve, tendo perdido a compostura,
afirmou categoricamente: “vocês vão quebrar o banco, a culpa será de vocês!”.
Com
isto, ele está querendo dizer que, se vocês continuarem a fazer o seu trabalho,
nós não teremos como aplicar nosso plano, que é o único que pode salvar o Banco
da Amazônia. Ou, ainda, vocês precisam entender que é preciso sacrifício, o
sacrifício de vocês! Tendo compreendido que AEBA e outras entidades não irão se
omitir, relativamente à defesa do banco e dos seus associados, o presidente
teria decidido omiti-la ele próprio, a partir da força. Chegamos então a uma
conclusão, pra não dizer, no mínimo, interessante. Quão frágil é uma
instituição que depende da omissão das entidades representativas de classe para
gerar resultados ou superar crises. Mas há também conclusões mais nesta
situação.
Chega
a ser pueril o argumento de que uma associação como a nossa possa levar à bancarrota
uma instituição como o Banco da Amazônia, de 72 anos de existência – e ainda
mais se consideramos que toda essa “maldade” é devido à cobrança que fazemos de
direitos básicos dos cidadãos e dos trabalhadores, todos eles previstos em lei.
Sinceramente, desconhecemos o curso de lógica deste senhor, posto que qualquer
criança tem a noção clara de que há uma linha de responsabilidade direta entre
os diretores de uma empresa e os seus resultados. Falando em bom português, os
diretores do banco são eles, e a eles cabe a responsabilidade direta pelas
ações da instituição. Acaso não são eles os agraciados com os louros da
vitória, acaso não são eles que fazem jantares, comemoram resultados e aparecem
nos jornais?
A
AEBA, por outro lado, compreende a situação, mas aos empregados já nos foi
exigido sacrifícios em demasia. Não podemos e não vamos esperar mais dez anos
para ver mudanças na situação. Afinal, nenhum dos problemas hoje atravancares
do banco foi gerado por seu corpo de empregados, mas tão somente por decisões
da diretoria.
A
diretoria do banco e o governo querem transferir sua crise para nós, querem que
se acredite que a solução está em nosso silêncio, em nossa abstenção de
cobranças, e em nossa passividade diante de planos deletérios. Lamentamos
muito, mas isso, não faremos!
O
fato inquestionável dessa realidade é que após mais de sete anos de gestão dos
quadros egressos do Banco do Brasil S.A, é preciso que se diga, a partir da
imposição dos agentes públicos eleitos ou por estes empossados, a situação do
Banco da Amazônia, não mudou em nada – sua política e métodos de gestão não
produziram resultados favoráveis, mas sim prejuízos aos já sacrificados empregados.
A tudo isso, as entidades respondem com iniciativas políticas e judiciais –
eles agora lançam seu furor contra as entidades de forma direta, ou atacando os
empregados, na tentativa de afastá-los das posições das entidades.
Precisamos
nos manter unidos e fortes, para defender o Banco e nossos direitos!
Parabéns
a todos que participaram da greve de
2014!
* Presidente da AEBA,
a Associação dos Empregados do Banco da Amazônia.
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