Segue abaixo a transcrição,
na íntegra, da análise do jornalista Clóvis Rossi, da Folha de S. Paulo:
Análise: Desde 60, 'síndrome Kennedy/Nixon' não funciona em debates
CLÓVIS ROSSI
COLUNISTA DA FOLHA
25/10/2014 - 02h00
O jornalismo e o mundo político parecem sofrer do que se poderia chamar
de "síndrome de Kennedy-Nixon".
Explico: em 1960, o democrata John
Kennedy e o republicano Richard Nixon travaram os primeiros debates da história
pela televisão. Foram quatro e, no primeiro deles, Kennedy estraçalhou Nixon.
Acabou eleito.
Nos 54 anos seguintes, sempre os
jornalistas e os políticos esperavam que algum Kennedy abatesse algum Nixon.
Nunca ocorreu. Quer dizer, houve o episódio
do debate Lula/Collor, em 1989, em que uma edição espantosamente favorável a
Collor pela TV Globo (não o debate em si) ajudou o candidato afinal vencedor.
Neste ano, a "síndrome
Kennedy-Nixon" não funcionou de novo nem nesta sexta-feira (24) nem nos
três debates anteriores.
Candidatos e marqueteiros aprenderam
daquele embate inicial e adotam, sempre, um manual de comportamento com uma
regra básica: jamais responder diretamente a uma pergunta embaraçosa.
Exemplo desta sexta-feira: Aécio
insistiu em cobrar de Dilma uma posição a respeito da condenação de José
Dirceu. Dilma insistiu em desviar o assunto para o escândalo do mensalão
mineiro, pelo qual ninguém foi punido.
Uma segunda regra de ouro: repetir à
exaustão promessas, propostas, críticas e comparações (naturalmente
desfavoráveis ao adversário) feitas durante o horário eleitoral gratuito.
Ou seja, repete-se, na medida do
possível, o que é exaustivamente ensaiado, o que tira parte da espontaneidade
da discussão.
Foi o que aconteceu nesta sexta-feira.
Nem a denúncia que a revista
"Veja" levou à capa de uma edição antecipada foi capaz de eletrizar
de fato o debate da Globo.
Não que tenha sido suave. Nem é para
ser. Mas não houve baixaria.
Impossível dizer quem ganhou, seja na
sexta-feira, seja no conjunto dos quatro debates. Muito provavelmente, mudaram
pouco os votos, tanto que, na única pesquisa divulgada sobre debates
anteriores, a maioria não soube dizer quem ganhou.
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