“Levanto a hipótese de que o uso da
máquina, em articulação com o poder econômico, fez a diferença no dia da
eleição”, declara Roberto Corrêa, ao ser indagado sobre as causas do desfecho
da eleição para o governo do Pará, com a vitória do governador Simão Jatene
(PSDB), reeleito, sobre Helder Barbalho (PMDB). “Na minha apreciação, não houve
falha no desempenho de Helder, tanto no programa eleitoral gratuito como nos
debates. Helder mostrou segurança e seu desempenho foi positivo”, sublinhou
Corrêa, em entrevista ao Blog do Barata, que segue abaixo.
A derrota de Helder Barbalho, o candidato ao governo do Pará pelo PMDB,
representa o fim do ciclo do seu pai e patrono político, o senador e
ex-governador Jader Barbalho, hoje com 70 anos e que perpetuou seu nome como a
mais longeva liderança política da história do Pará?
Não vejo
apenas pelo ângulo da longevidade política de Jáder Barbalho, algo importante
para a dominância regional peemedebista, mas e principalmente pelos efeitos
diretos dessa longevidade, em associação com as qualidades performáticas de
Helder Barbalho que, em resposta a uma eleição polarizada, teve sua liderança
reconhecida e demonstrada, como bem atesta a enorme votação conquistada tanto
no primeiro como no segundo turno destas, que foram as eleições mais
concorridas da história recente da política paraense. Enfrentando a máquina
estatal e seus derivativos de uma agressiva escuderia midiática, Helder conseguiu
totalizar 1,721 milhão de votos, anunciando com isso o surgimento de uma
inconteste liderança, pronta a assumir e ocupar o cenário político paraense nas
próximas décadas.
Como é
praxe em políticos de perfil solar, Jader Barbalho jamais admitiu sombras no
PMDB, partido que no Pará se confunde com o seu nome, inibindo a emergência de
lideranças com luz própria. Helder Barbalho teria tempo para ganhar vida
própria e habilitar-se a comandar o PMDB, sem estar a reboque do pai e patrono,
como ocorreu até aqui?
Tendo a ver
esse aspecto particular da luminosidade política do líder maior, como algo
comum a todas as agremiações partidárias fortes. Partidos fortes como PMDB,
PSDB e PT, em razão da busca por maximização de voto, tendem a se tornar
parecidos naquilo que chamamos de coalizão de líderes. Seja Jader Barbalho e
Temer, no PMDB; Serra, FHC e Alkmin, no PSDB ; ou Lula, no PT. A luminosidade
dessas lideranças não as tornam de uma hora para outra caudilhos partidários,
mas homens necessários para a busca do consenso nas disputas internas – aquilo
que os ingleses chamam de desavenças no “Jardim Secreto”. A verdade é que tais
lideranças, para avançarem nas decisões intra e interpartidárias, necessárias
indispensáveis às vitórias eleitorais, terão sempre de contar com o apoio de
lideranças territorialmente dispersas, sobretudo aquelas que no exercício de
mandatos de representação (deputados e senadores) ou em funções executivas
(prefeitos), usufruam de ativos de poder. Jader Barbalho, se é líder inconteste
no PMDB, é porque trabalhou sempre com essa orientação estratégica. Por outro
lado, é da capacidade de articulação de Jader que Helder Barbalho aparece como
projeto viável de sua sucessão no PMDB. Algo que decorre não apenas do
prestígio do pai, mas, e muito, em função das habilidades de Helder em fazer-se
respeitar pela capacidade política de articulação. Ou seja: Helder Barbalho é
ele e suas circunstâncias, que incluem a história do pai, Jader Barbalho, e da
mãe, deputada federal Elcione Barbalho.
Para além
da escandalosa utilização da máquina administrativa estadual pelo governador
tucano Simão Jatene, Helder Barbalho foi vítima do caráter plebiscitário que
acaba ganhando qualquer eleição majoritária na qual se envolva, direta ou
indiretamente, Jader Barbalho?
Eleições
plebiscitárias são inevitáveis em decorrência do avanço da democracia, em
ambiente institucional ainda dominado pelo uso abusivo da máquina pública. No
Para esse padrão de campanha ficou muito evidente no segundo turno quando, na
base do tudo ou nada, a maquina pública escolheu os bairros pobres de Belém e
os municípios pobres do Marajó para reverter as tendências de voto que no
primeiro turno eram francamente favoráveis a Helder Barbalho. A figura de Jader
Barbalho, mesmo não sendo candidato, foi utilizada na campanha para
desorientação do eleitor, que se apresentava utilizados para enfraquecer essa
tendência no segundo turno.
Até onde o
estigma de quinta-essência da corrupção, que aderiu de forma aparentemente
indelével a Jader Barbalho, conspirou contra Helder Barbalho, nesta eleição
para o governo do Pará? Ou faltou ao candidato peemedebista uma biografia
política mais alentada, mais consistente, de forma a não ser tomado como um
mero preposto do pai e patrono político?
Acredito que
os ataques a Jáder Barbalho, como patrono da candidatura Helder, tenham sido
usados com essa intenção, mas a principal causa da vitória de Jatene no segundo
turno tem a ver mais com as ações deliberadas do poder econômico. Prova disso é
que no primeiro turno Helder Barbalho teve mais votos que Jatene, em que pese a
propaganda contra Jader ter sido utilizada na mesma intensidade.
O
marketing eleitoral de Helder Barbalho foi, aparentemente, perfeito, ao manter
na defensiva o adversário, mais preocupado em responder às denúncias de
malfeitos feitas no horário político do candidato peemedebista, que
pessoalmente deteve-se em um discurso propositivo, embora cobrando promessas
não cumpridas por Simão Jatene. No que Helder Barbalho falhou, ou Simão Jatene
soube melhor explorar, para reverter um cenário profundamente adverso e acabar
reeleito, em apenas 21 dias?
Na minha
apreciação, não houve falha no desempenho de Helder, tanto no programa
eleitoral gratuito como nos debates. Helder mostrou segurança e seu desempenho
foi positivo. Levanto a hipótese de que o uso da máquina, em articulação com o
poder econômico, fez a diferença no dia da eleição.
Simão
Jatene ganha um terceiro mandato como governador com o Pará politicamente
dividido quase meio a meio, com adversários que chegam ao fim da campanha como
um pote até aqui de mágoas. Sob esse cenário, o que se pode esperar do novo
mandato de Simão Jatene, considerando que, para o bem ou para o mal, a política
no Pará passa, necessariamente, por Jader Barbalho?
Os
desdobramentos dessa cena de partida ainda encontram-se influenciados pelas
mágoas da campanha. Há que esperar o surgimento de novas composições que
haverão de surgir tanto em nível nacional como local. No entanto, uma coisa é
certa: Jatene tem dificuldade de descentralizar o comando do governo e, com
isso, terá dificuldade de favorecer o surgimento de uma liderança capaz
disputar o próximo governo. Nomes como o de Zenaldo Coutinho e de Manoel
Pioneiro podem aparecer sem que tenham necessariamente substantivo apoio de
Simão Jatene. O PMDB, no entanto, tem esse nome que deverá continuar avançando
nas preferências do eleitorado. O nome de Helder Barbalho.
E no plano
nacional, como deve se comportar o governo Dilma Rousseff, considerando que o
senador Aécio Neves sai da disputa eleitoral cacifado por uma expressiva
votação e uma minguada diferença em relação a candidata petista, com o mérito
adicional de ter resgatado a importância histórica de Fernando Henrique
Cardoso, como o presidente da estabilidade econômica, que tornou possível Lula
ter sido o presidente da inclusão social?
Não resta
dúvida de que Aécio Neves é e será o grande nome do PSDB nas próximas eleições.
Dilma e o PT deverão buscar uma nova imagem de governo, e para tanto haverá de
enfrentar desafios normais a um partido como o PT, hoje desacreditado em suas
postulações morais. Os escândalos de corrupção do passado recente serão, a um
só tempo, objeto de desgaste do governo e objeto de argumentação em defesa do
plebiscito que busque uma reforma política capaz de reorientar o quadro
institucional brasileiro em direção a uma democracia moderna, que tenha como
princípio básico o fortalecimento dos partidos e a redução da corrupção. Sem
reforma política, nada muda. Disso sabem a situação e a oposição.
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