Nunca foi hábito de Hélio Gueiros se retratar diante de suas incontinências verbais, carregadas de achincalhes aos destinatários de suas ofensas. A única exceção que ele abriu, nesse sentido, foi ao jornalista Lúcio Flávio Pinto, o destemido editor do Jornal Pessoal, a mais longeva publicação da imprensa alternativa brasileira. Lúcio Flávio foi destinatário de uma carta pornográfica, ignominiosa, que lhe foi endereçada pelo ex-governador, menos de quatro meses depois de deixar o governo. A carta acabou por soar ultrajante não para Lúcio Flávio, mas para Hélio Gueiros, cuja biografia foi tisnada pelo baixo nível da missiva, incompatível com o decoro que se espera de um ex-governador.
Em entrevista concedida ao jornalista Elias Pinto, do Diário do Pará, irmão de Lúcio Flávio, 11 anos depois do episódio, Hélio Gueiros foi indagado a respeito da carta, ficando à vontade para responder, ou não, a pergunta formulada. Gueiros não fugiu da indagação e, em um gesto inusitado, fez o mea-culpa. “Embora você me desse a liberdade de não responder à terceira pergunta, respondo. Poderia escrever um tratado de mil páginas tentando explicar a minha reação, mas não adiantaria nada. Não se pode nem se deve justificar o injustificável”, declarou.
Para quem sempre desconheceu limites, nas polêmicas eventualmente travadas, o mea-culpa de Gueiros, tornado público, não pode ser minimizado. Como praxe, o ex-governador costumava menosprezar a extensão das ofensas disparadas contra eventuais adversários, contra os quais costumava investir como se fossem inimigos figadais. Foi assim, por exemplo, quando se reconciliou com Jader Barbalho, oito anos depois dos dois trocarem ofensas mútuas publicamente. “Se eu brigo e me reconciliou com a Terezinha, que é minha mulher, porque não posso brigar e reconciliar-me com o Jader?”, questionou, driblando a saia justa que poderia representar o porquê de se reconciliar, em 1998, com quem malsinara, como quinta-essência do mal, nas eleições de 1990.
2 comentários :
devia ta cespado quando escreveu a tal carta
Quanto esquecimento nesse mês de abril HELIO GUEIROS nos deixou e niguém se lembrou de fazer uma homenagem.
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