Hélio Gueiros (foto, à dir., ao lado de Jader Barbalho, à esq.), que morreu na sexta-feira, 15, aos 85 anos, acaba por se constituir em uma esfinge, à espera de quem consiga decifrá-la, diante de alguns colossais equívocos políticos nos quais incorreu, o mais inexplicável dos quais tratar com desdém os servidores públicos estaduais, quando governador. Nascido no Ceará, mas paraense por adoção, ele exibia uma exuberante trajetória política. Originário do baratismo, a vertente política que floresceu a partir da liderança do ex-governador Magalhães Barata, Gueiros foi deputado estadual, deputado federal, senador, governador e prefeito de Belém. Uma ascensão em grande parte favorecida pela emergência de Jader Barbalho, hoje o morubixaba do PMDB no Pará, eleito governador em 1982 e cuja candidatura contribuiu para fazer de Gueiros senador, nas eleições daquele ano. Ao cumprir integralmente o seu mandato como governador, por não ter em Laércio Franco um vice-governador politicamente confiável, embora a relação entre eles fosse a melhor possível, Jader manteve o comando da máquina administrativa estadual, utilizada abertamente para tornar Gueiros seu sucessor, em 1986. Tornar Gueiros palatável foi um colossal desafio para Jader. Não só por seu candidato estar longe de ser um campeão de votos, mas também por ter permanecido no limbo político, após ter seus direitos políticos cassados pelo regime militar.
Empossado governador, Gueiros cumpriu o script clássico, da criatura que se volta contra o criador. Em um primeiro momento valeu-se, até a exaustão, de factóides, presumivelmente para popularizar sua imagem e vender a idéia de uma administração transparente, o que acabava por depor contra Jader, cujo primeiro mandato foi pontuado por denúncias de corrupção, intensamente repercutidas por O Liberal, o jornal do grupo de comunicação da família Maiorana. Assim, por exemplo, a propina destinada ao Executivo estadual pelo jogo do bicho foi depositada pessoalmente por Gueiros em uma conta bancária, tudo sob a cobertura da grande imprensa. Já então Gueiros deixava escapar sua irritação em relação a Jader, ao descobrir que seu antecessor, salvo engano a três dia da transmissão de cargo, contraíra um empréstimo, sem dar conhecimento ao seu sucessor. A revelação sobre o empréstimo foi feita pelo próprio Gueiros ao jornalista Lúcio Flávio Pinto, que passara a ter no então governador uma importante fonte.
A partir de um determinado momento, até onde foi possível saber, Gueiros passou a costurar sua sucessão, mirando no nome do médico Henry Kaiath, descrito como um mago das finanças e que também tivera seus direitos políticos cassados pelo regime militar, sob a acusação de corrupção, como secretário estadual da Fazenda do governador Aurélio do Carmo, do PSD, deposto pela ditadura militar que tomou de assalto o poder, em 1º de abril de 1964. Refugiado no Rio de Janeiro, após o golpe militar, Kayath foi politicamente ressuscitado por Jader, que confiou-lhe o comando da Sudam, a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia. Kayath acabaria defenestrado da Sudam, sob o opróbrio de corrupto, o que inviabilizou o projeto de Gueiros de fazê-lo seu sucessor. Daí a opção do então governador por Sahid Xerfan, empresário e ex-prefeito eleito de Belém pelo PTB, o Partido Trabalhista Brasileiro, e que saiu candidato ao governo, em 1990, em uma das mais virulentas campanhas eleitorais do Pará, pontuada por achincalhes mútuos entre Hélio Gueiros e Jader Barbalho. Apesar do acintoso apoio de Gueiros e dos Maiorana a Xerfan, este foi derrotado por Jader, por minguada diferença de votos. O inusitado foi que ao longo da sua administração Gueiros maltratou os servidores públicos estaduais, tratados como desdém inclusive às vésperas do confronto eleitoral de 1990. Essa postura soava incontestavelmente camicase, diante não só do carisma de Jader Barbalho, mas também pelo ex-governador ter acesso privilegiado ao governo do presidente José Sarney, do qual foi ministro da Reforma Agrária e da Previdência Social, neutralizando assim, com recursos federais, a utilização da máquina administrativa estadual em favor de Xerfan. Aos prefeitos que eram fiéis a Jader, a orientação era no sentido de que buscassem usufruir das benesses oferecidas por Gueiros, para só na undécima hora assumir o apoio ao morubixaba peemedebista.
Um comentário :
Servidores públicos jamais esquecem os governantes que os maltratam.
Este senhor comparou os médicos a sal,lembram?
Ele dizia que médico e sal é branco, barato e se encontra em cada esquina..
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