Na esteira da relação de Luiz Octávio Barata, meu saudoso e querido irmão, com o inesquecível Walter Bandeira, vim a conhecer Hamilton Bandeira, no final dos anos 70 do século passado, em uma das visitas que ele fez a Belém, depois de ter fixado residência no Rio de Janeiro. Mesmo sem sermos íntimos, passamos a ser interlocutor um do outro com bastante freqüência, em divertidas rodadas etílicas, que varavam a madrugada. O ponto de encontro era o banco da Praça da República, próximo da esquina da avenida Presidente Vargas com as rua da Paz, na calçada oposta a do Bar do Parque, bem antes da decadência deste. Do tal banco, pelo qual passava um exótico e variado elenco de personagens da noite, eram freqüentadores cativos os irmãos Euclides e Walter Bandeira, Luiz Octávio Barata, Guilherme Barra, Fernando Torres e Cícero Pinho, em torno dos quais orbitavam os demais freqüentadores. Em algumas ocasiões se agregava ao grupo Aurélio Leal Alves do Ó, contemporâneo e amigo incondicional de Luiz Octávio e Walter Bandeira, tratado pelos meus pais como um filho do coração, ao qual abrigaram, na casa da família, no alvorecer do golpe militar de 1º de abril de 1964, diante do temor de retaliações. O "expediante" no banco costumava ter início após o fechamento da edição dos nossos principais jornais, O Liberal e A Província do Pará. Muitas vezes, depois que os demais batiam em retirada, eu e Hamilton, a pretexto de beber a “saideira”, amanhecíamos no "tabuleiro" do Bar do Parque, em longas conversas.
A roda-viva da vida se encarregou de afastar-me de Hamilton, até pela distância geográfica que nos separava – ele, no Rio, eu construindo minha vida em Belém. A ele reencontraria novamente em Belém, em fins de 1996, ou 1997, não recordo-me bem. O reencontro se deu no pátio interno do Palácio Antônio Lemos, assinalado por uma longa e franca conversa, na qual Hamilton, sem amarras, contou-me suas desditas, como refém dos excessos etílicos. Apesar do tema, particularmente doloroso, ele conseguiu fazer seu desabafo sem dramatizá-lo, de forma leve, com o carisma e senso de humor que faziam dele uma companhia para lá de prazerosa. Foi a última vez que nos vimos. Desde então, acompanhei a saga do terno amigo à distância, presumindo a dor dele se ver, inicialmente, sem a companhia de Lúcia, e depois perder Euclides e Walter. Dor maior, certamente, só a de dona Riso, a mãe dos irmãos Bandeira Gonçalves, a qual coube, pelo imponderável da vida, sepultar todos os filhos. Um golpe que ninguém merece, porque contraria a lógica da vida, pela qual o habitual é os filhos enterrarem os pais.
Diante do adeus de Hamilton Bandeira, principalmente pelas dolorosas circunstâncias que o procederam, é inevitável a lembrança do poeta:
“Esta vida é uma estranha hospedaria,
“onde se parte quase sempre às tontas.
“E nossas malas jamais estão prontas,
“e nossa conta nunca está em dia.”
Um comentário :
Eu conheci o filho de Hamilton bandeira,Caio bandeira ficou uns tempos na minha casa,até voltar para Belém.
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