Transcrevo abaixo o depoimento oferecido ao Blog do Barata, em tom de justo e indignado desabafo, feito por Célia Pinto, irmã de Adauto Melo, a vítima fatal do soldado da Aeronáutica Victor Hugo da Rocha.
“Caro poster,
“Sou Célia Pinto, irmã de Adauto Melo, morto brutalmente, vítima de atropelamento na noite do dia 26 de dezembro passado, enquanto desempenhava suas funções de Agente de Trânsito, fato amplamente noticiado pela imprensa local e nacional. Ironicamente, meu irmão foi morto exatamente quando exercia sua missão de proteger a vida das pessoas sem jamais imaginar que isso pudesse lhe custar a sua própria.
“Mesmo na fase de inquérito, uma coisa já parece bastante evidente: a violência do atropelamento indica alta velocidade. Como o veículo que mutilou mortalmente meu irmão não tinha vida própria parece ser óbvio concluir que o condutor, o Soldado da Aeronáutica Victor Hugo da Rocha, ao tomar a infeliz decisão de pisar fundo no acelerador naquele cruzamento da Almirante Barroso com a Humaitá, dadas as condições daquela noite - trânsito lento, falta de energia e semáforos desligados - assumiu os riscos de matar qualquer um que cruzasse seu caminho. Portanto não se tratou de uma fatalidade, embora tenha sido fatal para meu irmão. E não sou apenas eu ou minha família que dizemos isto, tenho ouvido especialistas falarem a respeito.
“A experiência da morte de alguém querido, por si só, já é um acontecimento completamente desolador, seja por causas naturais ou acidentais. Constatar o inevitável, embora não compense uma vida que se foi, pelo menos nos conforta um pouco. Não é o nosso caso. Se algo nos move agora, quando já não agüentamos mais chorar, é a vontade de lutar para que este não seja mais um caso impune. Seguir o exemplo de meu irmão que tanto se preocupava com as pessoas, é fazer com que a punição do responsável pela sua morte ajude a inibir esse tipo de conduta e evite o sofrimento de outras famílias.
“Sabemos que não é algo fácil. Combater a impunidade é tarefa bem mais complexa do que se possa imaginar, pois os que a homenageiam, em muitos casos, ocupam funções estratégicas para enfrentá-las. Infelizmente decisões como a do Juiz que determinou a soltura do algoz de meu irmão, mediante fiança de um salário mínimo assume, ainda que o ‘ilustre’ magistrado enumere mil razões jurídicas, um ar de conivência com a impunidade. Um mal não só para minha família, mas para todos os cidadãos de bem.
“No dia 16/01/2012, mais um brinde à impunidade regado, desta feita, à burocracia e corporativismo.
“Em reunião comigo, sindicato e associação dos Guardas Municipais e o MOVIDA o ‘digníssimo’ major brigadeiro-do-ar Odil Martuchelli Ferreira, Comandante do I COMAR, fomos informados de que não há, por parte da Aeronáutica qualquer procedimento disciplinar contra o soldado Victor Hugo. A justificativa é que a lei não garante à Aeronáutica nenhuma forma de punição anterior à manifestação da justiça, ou seja, enquanto não há sentença transitado em julgado. Disse ainda que o soldado não estava em serviço quando do ocorrido.
“Então é assim: quando foi para colocá-lo em cela especial no I COMAR, tirando-o da Delegacia de Polícia, ele era militar, mas quando se trata de encetar procedimento correcional, ele é tratado como civil e tem que aguardar sentença da Justiça Comum?
“Embora a posição desses agentes públicos, seja o magistrado, seja o comandante da Aeronáutica, coloquem o Judiciário e as Forças Armadas naquele cruzamento da Almirante Barroso com a Humaitá, vamos lutar junto a estes setores acreditando ainda que eles não sejam os melhores representante de suas instituições.
“Por fim, não descansaremos enquanto o Poder Público, em especial o Judiciário, funcionar mais como um 'paizão' que passa a mão na cabeça do filho infrator, do que como a mãe que chora a perda de seus filhos. “
Um comentário :
A exemplo do sefer, Lúcio Flávio Pinto entre tantos outros, vão transformar o culpado em vítima e a vítima em culpado. Aguardem. Infelizmente esse é o judiciário paraense. Uma vergonha.
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