domingo, 2 de outubro de 2011

MEMORIALISMO – Alacid e o poder da Baiana

Mãe do hoje vereador de Belém Carlos Augusto Barbosa, do DEM, Maria de Nazaré Barbosa, a Baiana, deteve um colossal poder político durante a ditadura militar, enquanto manteve-se como deputada, orbitando em torno da liderança do coronel Alacid Nunes (foto, à dir.), que foi prefeito biônico de Belém, governador do Pará por duas vezes (a primeira pelo voto direto, a segunda ungido por Brasília) e deputado federal por diversas legislaturas. Cumprindo o ritual histórico da criatura que se volta contra o criador, Alacid Nunes tornou-se inimigo figadal de Jarbas Passarinho, este um militar de perfil intelectualizado, que foi governador do Pará, ministro do Trabalho e da Educação, durante o regime dos generais, e da Justiça, no governo Collor, além de senador eleito e presidente do Senado. Descumprindo um acordo intermediado pelo próprio Palácio do Planalto, pelo qual apoiaria o candidato de Jarbas Passarinho na sucessão estadual de 1982, como contrapartida por ter sido ungido governador do Pará em 1978, Alacid rompeu não só com o seu desafeto político histórico, mas com o próprio regime militar. Valendo-se de deter o controle da máquina administrativa estadual, em contrapartida à utilização da máquina administrativa federal a favor de Passarinho, Alacid apoiou e viabilizou a eleição do então jovem deputado federal Jader Barbalho, candidato a governador pelo PMDB, em 1982, contra o empresário Oziel Carneiro, do PDS, o Partido Democrático Social, sucedâneo da Arena, extinta com a reforma eleitoral de 1979. De resto, Alacid ainda saboreou a derrota de Jarbas Passarinho na disputa pelo Senado, vencida por Hélio Gueiros, também do PMDB, favorecido pela soma dos votos da sublegenda, que permitia mais duas candidaturas ao mesmo cargo, pela mesma legenda. Instituída pelo regime militar, para acomodar facções rivais dentro da própria Arena, a sublegenda foi decisiva para a vitória do PMDB na disputa pelo Senado, em 1982. Arrogante, Passarinho disputou a vaga no Senado sozinho, enquanto o PMDB lançou como candidatos Hélio Gueiros, que tivera seus direitos políticos cassados pela ditadura militar; Itair Silva, um competente advogado trabalhista; e João Menezes, um político já na curva descendente, remanescente do baratismo. O baratismo foi a vertente política que vicejou em torno do ex-governador Joaquim de Magalhães Cardoso Barata, que morreu em 29 de maio de 1959, vítima de leucemia, no exercício do seu primeiro mandato como governador eleito pelo voto direto, depois de ter governado o Pará como interventor e pelo voto indireto.
Há inclusive um episódio emblemático do poder que Maria de Nazaré Barbosa detinha, envolvendo o meu irmão mais velho, o médico oftalmologista Francisco Barata, um profissional de competência e probidade reconhecidas, já aposentado e hoje com 71 anos. Na época trabalhando como médico no Detran, o Departamento de Trânsito do Estado do Pará, Francisco reprovou, no exame oftalmológico, um paciente que pretendia obter a carteira nacional de habilitação como motorista e que chegara às suas mãos com um cartão de recomendação subscrito pela então deputada Maria de Nazaré Barbosa. Dias depois, o mesmo paciente foi novamente a ele encaminhado, sob a recomendação verbal, feita por um superior hierárquico do Detran, de que deveria ser aprovado. Cioso das suas responsabilidades como médico, Francisco Barata recebeu o protegido de Maria de Nazaré Barbosa, repetiu pacientemente o exame e voltou a reprová-lo.
Pouco dias depois Francisco Barata foi defenestrado do Detran, em uma clara retaliação, diante da sua recusa em coonestar a tramóia pretendida pela direção da autarquia. O imbróglio desembocou na Justiça, na qual Francisco obteve ganho de causa, sendo financeiramente ressarcido pelo Detran, embora abrindo mão da reintegração na autarquia.

3 comentários :

Anônimo disse...

Do que eu apreendo que a genética de vocês (irmãos) é ótima. Parabéns.

Anônimo disse...

Cara, só podia ser teu irmão. Não se curvou ao QI da arrogante baiana. Na década de 70 início de 80 era ela quem dava às cartas na ALEPA. Bonitona, charmosa mas sem cultura, fazia dos berros a sua arma. Jamais poderia ser contrariada. Esse padrão ainda existe por lá e é Simone quem griiiita.

Anônimo disse...

Barata, esse memorialismo é ótimo. Aliás, dá pra ver porque o Pará se encontra nesta situacão. Dizem que a Zona Franca foi para Manaus por causa dessas brigas. Aliás, a estrada de ferro de Crajás, o Porto de Itaqui, o escritório da Vale, a esquadra da Marinha etc., caracterizando o nosso Estado como a terra do já teve, a despeito das supostas condicões técnicas de Maranhão e Manaus (duvido). Aliás, há comentários de que a Alpa de Marabá vai pro Ceará e que o petróleo e o gás da região do Salgado vão para o Maranhão. E se formos pro âmbito municipal (Prefeitura), o cenário é nipônico, tudo igual. Não temos políticos, não há excecões, não temos em quem votar, não temos saída. Estamos perdidos, a corrupcão é a regra e a impunidade também. Jogamos lixo nas ruas, ouvimos música de péssima qualidade e em volume alto, somos mal educados, pobres e não sabemos votar. Triste Pará, sem esperanca no futuro e no presente.