As dificuldades da carreira, situações constrangedoras, relacionamento com as fontes, piores tipos de entrevistados e o que ainda falta melhorar na profissão. Esses são alguns dos temas explorados nos depoimentos de jornalistas ouvidos pelo site Comunique-se, na esteira do Dia do Repórter, comemorado nesta última quarta-feira, 16.
Segue abaixo, na íntegra, a matéria com a qual o Comunique-se assinalou a passagem do Dia do Repórter.
Dia do Repórter: jornalistas revelam desafios e "saias justas" da profissão
Anderson Scardoelli e Izabela Vasconcelos
Saia justa de repórter não é só quando a caneta e o gravador falham, ou quando se esquece o nome do entrevistado. Além disso, os desafios da profissão são grandes. Nesta quarta-feira (16/2), dia do repórter, profissionais da rádio CBN, O Globo, Estadão, R7, revista Brasileiros e Rede TV! contam suas experiências.
Para falar sobre as dificuldades da carreira, situações constrangedoras, relacionamento com as fontes, piores tipos de entrevistados e o que ainda falta melhorar na profissão, o Comunique-se ouviu Fabíola Reipert (R7), Ricardo Kotscho (Brasileiros), Jotabê Medeiros (Estadão), Roseann Kennedy (CBN), Chico Otávio (O Globo) e Kennedy Alencar (Rede TV! e ex-Folha de S. Paulo). Acompanhe os depoimentos:
Dificuldades
A maior dificuldade que um repórter enfrenta é quando mentem, quando tentam enganar ele. Sendo que a gente tem a informação correta" – Fabíola Reipert.
“Desde o salário baixo, que é bem comum na nossa profissão, até processos e ameaças" – Jotabê Medeiros.
“Um dos desafios é mudar de cidade, ter que se afastar da família. Eu já fui para o interior, Curitiba, agora estou em Brasília. No dia a dia é a busca sem descanso do que é falso e verdadeiro” – Roseann Kennedy.
“É o dano moral. É um instrumento da democracia, que eu respeito, mas tornou a nossa vida mais espinhosa. Outra coisa é a falta absurda de cultura da transparência, na área de governo. Essas coisas acabam travando o seu trabalho” – Chico Otávio.
“São 46 anos de carreira, não me lembro de nenhuma em especial. Mas toda matéria é difícil de fazer e tem que ser encarada como a primeira e a última que o repórter fará" – Ricardo Kotscho.
“Cobertura da guerra no Kosovo, em 1999, e a do Afeganistão, em 2001" - Kennedy Alencar.
Saia justa
“A pior saia justa que tem é quando você percebe que a pessoa te vira a cara. Estou fazendo o meu trabalho e vejo muitas pessoas me virando a cara. Já tentaram até me bater" – Fabíola Reipert.
“Foi um dilema ético. Foi a história de um professor de Embu que entrou em contato comigo para dizer que estava estranhando que muitos alunos estavam dormindo na sala de aula. Fui até o local e descobri que esses alunos trabalhavam de madrugada em uma olaria. Conversei com o dono da olaria e ele explicou que não obrigava ninguém a trabalhar, que não tinha funcionários registrados e que os pais dessas crianças que levam elas para trabalhar. Fiquei em dúvida se deveria publicar essa história, até para não prejudicar ainda mais essas crianças. Decidi publicar e não deu outra, no dia seguinte da publicação já tinha a polícia na olaria. Às vezes a gente quer ajudar, mas acaba prejudicando ainda mais" – Ricardo Kotscho.
“Foi em 1998. Fui na casa da Gal Costa, em Trancoso (interior da Bahia), e fomos fazer a entrevista em um restaurante. Na segunda pergunta que fiz, ela começou a gritar, disse que eu não era jornalista. Todos no restaurante pararam para ver ela gritando. Já fui fazer matéria em baile funk e com os skynheads. Mas, essa da Gal foi a maior saia justa que tive na minha carreira" – Jotabê Medeiros.
“Quando eu trabalhava em polícia passei por uma situação investigando um ponto de tráfico em Recife. Chegamos e fomos recebidos por tiros. Descemos pelo lado do córrego, com as costas no chão, cheio de lodo. Deixei de trabalhar em polícia, porque cansei de ser ameaçada de morte e ter que trocar de número de celular” – Roseann Kennedy.
“Quando o presidente da Petrobras, durante uma coletiva de imprensa, disse que eu não era bem vindo na empresa. Eu respondi que ele não era dono da Petrobras pra falar aquilo, que a Petrobras era do povo. Outras situações constrangedoras são quando as redes sociais tentam desqualificar o seu trabalho. Eu passei por isso quando enviaram um e-mail em meu nome para desembargadores” – Chico Otávio.
“Foi minha primeira reportagem para a Folha. Eu era redator e que queria me tornar repórter e me mandaram ir ao hospital que o Jânio Quadros estava internado. Eu era muito foca, 22 anos, entrei sem me identificar como jornalista e fui até o quarto que ele estava, cheguei perto e falei 'uma palavrinha' e ele respondeu 'vá à merda'. Depois disso, ele chamou os seguranças que me retiram do hospital, mas voltei e falei que queria saber se ele estava bem. No final das contas consegui conversar um pouco com o Jânio" - Kennedy Alencar.
Pior tipo de entrevistado
“É a celebridade que acha maior do que é, 'as estrelinhas'. O ruim é que tem gente que quando precisa aparecer na mídia corre atrás de nós. E quando não precisam destratam" – Fabíola Reipert.
“Eu não gosto de celebridades, até de políticos eu tento fugir. Prefiro criar novos personagens, entrevistar pessoas que são desconhecidas" – Ricardo Kotscho.
“É aquele imbuído de autoridade, que quer mostrar e impor isso na entrevista. E isso acontece em várias esferas, não somente na política" – Jotabê Medeiros.
“Não existe pior entrevistado, existe pior momento para entrevistar. O pior momento é quando o repórter tem que fazer cobertura de tragédia e entrevistar a família que perdeu alguém” – Roseann Kennedy.
“Eu sou fã do Luis Fernando Veríssimo, mas ele não é um bom entrevistado. Foi a minha entrevista mais difícil, porque ele é monossilábico, tímido. Não é por má vontade, é o jeito dele. Eu achei que ia ser uma super entrevista, mas não foi” – Chico Otávio.
“O pior tipo de entrevistado é aquele que fala pouco, que se fecha, que tem desconfiança do repórter. E ainda mais na área que cubro, bastidores da política, tem muita gente que não gosta de ouvir perguntas" – Kennedy Alencar.
Pontos a melhorar na profissão
“Melhorar as organizações de eventos, como o São Paulo Fashion Week. Tratam a imprensa como se fosse animal, ameaçam. A imprensa é tratada como intrusa, mas é necessária e merece respeito" – Fabíola Reipert.
“O que precisa mudar é que os repórteres estão indo pouco para a rua. Eles estão ficando muito tempo em frente ao computador, na redação. E na rua, você sai para fazer uma matéria e 'tropeça' em outra" – Ricardo Kotscho.
“Precisa ser dada maior cobertura ao repórter. O profissional precisa ter mais 'costas quentes'. O repórter é o elo mais fraco da matéria e precisa ser defendido pelos próprios veículos de comunicação. O repórter sofre muita pressão, um exemplo recente é o que aconteceu no jornal baiano (A Tarde)" – Jotabê Medeiros.
“Acredito que existam muito bons repórteres no Brasil, o que precisam fazer é manter a qualidade e não deixar a liberdade de expressão cair”- Roseann Kennedy.
“Mais aposta dos editores nas reportagens, mais espaço no mercado, melhores condições de trabalho” – Chico Otávio.
“Precisa investir na formação e dar oportunidades para quem realmente deseja ser repórter. Acho que a qualidade dos repórteres tem melhorado cada vez mais" – Kennedy Alencar.
Segue abaixo, na íntegra, a matéria com a qual o Comunique-se assinalou a passagem do Dia do Repórter.
Dia do Repórter: jornalistas revelam desafios e "saias justas" da profissão
Anderson Scardoelli e Izabela Vasconcelos
Saia justa de repórter não é só quando a caneta e o gravador falham, ou quando se esquece o nome do entrevistado. Além disso, os desafios da profissão são grandes. Nesta quarta-feira (16/2), dia do repórter, profissionais da rádio CBN, O Globo, Estadão, R7, revista Brasileiros e Rede TV! contam suas experiências.
Para falar sobre as dificuldades da carreira, situações constrangedoras, relacionamento com as fontes, piores tipos de entrevistados e o que ainda falta melhorar na profissão, o Comunique-se ouviu Fabíola Reipert (R7), Ricardo Kotscho (Brasileiros), Jotabê Medeiros (Estadão), Roseann Kennedy (CBN), Chico Otávio (O Globo) e Kennedy Alencar (Rede TV! e ex-Folha de S. Paulo). Acompanhe os depoimentos:
Dificuldades
A maior dificuldade que um repórter enfrenta é quando mentem, quando tentam enganar ele. Sendo que a gente tem a informação correta" – Fabíola Reipert.
“Desde o salário baixo, que é bem comum na nossa profissão, até processos e ameaças" – Jotabê Medeiros.
“Um dos desafios é mudar de cidade, ter que se afastar da família. Eu já fui para o interior, Curitiba, agora estou em Brasília. No dia a dia é a busca sem descanso do que é falso e verdadeiro” – Roseann Kennedy.
“É o dano moral. É um instrumento da democracia, que eu respeito, mas tornou a nossa vida mais espinhosa. Outra coisa é a falta absurda de cultura da transparência, na área de governo. Essas coisas acabam travando o seu trabalho” – Chico Otávio.
“São 46 anos de carreira, não me lembro de nenhuma em especial. Mas toda matéria é difícil de fazer e tem que ser encarada como a primeira e a última que o repórter fará" – Ricardo Kotscho.
“Cobertura da guerra no Kosovo, em 1999, e a do Afeganistão, em 2001" - Kennedy Alencar.
Saia justa
“A pior saia justa que tem é quando você percebe que a pessoa te vira a cara. Estou fazendo o meu trabalho e vejo muitas pessoas me virando a cara. Já tentaram até me bater" – Fabíola Reipert.
“Foi um dilema ético. Foi a história de um professor de Embu que entrou em contato comigo para dizer que estava estranhando que muitos alunos estavam dormindo na sala de aula. Fui até o local e descobri que esses alunos trabalhavam de madrugada em uma olaria. Conversei com o dono da olaria e ele explicou que não obrigava ninguém a trabalhar, que não tinha funcionários registrados e que os pais dessas crianças que levam elas para trabalhar. Fiquei em dúvida se deveria publicar essa história, até para não prejudicar ainda mais essas crianças. Decidi publicar e não deu outra, no dia seguinte da publicação já tinha a polícia na olaria. Às vezes a gente quer ajudar, mas acaba prejudicando ainda mais" – Ricardo Kotscho.
“Foi em 1998. Fui na casa da Gal Costa, em Trancoso (interior da Bahia), e fomos fazer a entrevista em um restaurante. Na segunda pergunta que fiz, ela começou a gritar, disse que eu não era jornalista. Todos no restaurante pararam para ver ela gritando. Já fui fazer matéria em baile funk e com os skynheads. Mas, essa da Gal foi a maior saia justa que tive na minha carreira" – Jotabê Medeiros.
“Quando eu trabalhava em polícia passei por uma situação investigando um ponto de tráfico em Recife. Chegamos e fomos recebidos por tiros. Descemos pelo lado do córrego, com as costas no chão, cheio de lodo. Deixei de trabalhar em polícia, porque cansei de ser ameaçada de morte e ter que trocar de número de celular” – Roseann Kennedy.
“Quando o presidente da Petrobras, durante uma coletiva de imprensa, disse que eu não era bem vindo na empresa. Eu respondi que ele não era dono da Petrobras pra falar aquilo, que a Petrobras era do povo. Outras situações constrangedoras são quando as redes sociais tentam desqualificar o seu trabalho. Eu passei por isso quando enviaram um e-mail em meu nome para desembargadores” – Chico Otávio.
“Foi minha primeira reportagem para a Folha. Eu era redator e que queria me tornar repórter e me mandaram ir ao hospital que o Jânio Quadros estava internado. Eu era muito foca, 22 anos, entrei sem me identificar como jornalista e fui até o quarto que ele estava, cheguei perto e falei 'uma palavrinha' e ele respondeu 'vá à merda'. Depois disso, ele chamou os seguranças que me retiram do hospital, mas voltei e falei que queria saber se ele estava bem. No final das contas consegui conversar um pouco com o Jânio" - Kennedy Alencar.
Pior tipo de entrevistado
“É a celebridade que acha maior do que é, 'as estrelinhas'. O ruim é que tem gente que quando precisa aparecer na mídia corre atrás de nós. E quando não precisam destratam" – Fabíola Reipert.
“Eu não gosto de celebridades, até de políticos eu tento fugir. Prefiro criar novos personagens, entrevistar pessoas que são desconhecidas" – Ricardo Kotscho.
“É aquele imbuído de autoridade, que quer mostrar e impor isso na entrevista. E isso acontece em várias esferas, não somente na política" – Jotabê Medeiros.
“Não existe pior entrevistado, existe pior momento para entrevistar. O pior momento é quando o repórter tem que fazer cobertura de tragédia e entrevistar a família que perdeu alguém” – Roseann Kennedy.
“Eu sou fã do Luis Fernando Veríssimo, mas ele não é um bom entrevistado. Foi a minha entrevista mais difícil, porque ele é monossilábico, tímido. Não é por má vontade, é o jeito dele. Eu achei que ia ser uma super entrevista, mas não foi” – Chico Otávio.
“O pior tipo de entrevistado é aquele que fala pouco, que se fecha, que tem desconfiança do repórter. E ainda mais na área que cubro, bastidores da política, tem muita gente que não gosta de ouvir perguntas" – Kennedy Alencar.
Pontos a melhorar na profissão
“Melhorar as organizações de eventos, como o São Paulo Fashion Week. Tratam a imprensa como se fosse animal, ameaçam. A imprensa é tratada como intrusa, mas é necessária e merece respeito" – Fabíola Reipert.
“O que precisa mudar é que os repórteres estão indo pouco para a rua. Eles estão ficando muito tempo em frente ao computador, na redação. E na rua, você sai para fazer uma matéria e 'tropeça' em outra" – Ricardo Kotscho.
“Precisa ser dada maior cobertura ao repórter. O profissional precisa ter mais 'costas quentes'. O repórter é o elo mais fraco da matéria e precisa ser defendido pelos próprios veículos de comunicação. O repórter sofre muita pressão, um exemplo recente é o que aconteceu no jornal baiano (A Tarde)" – Jotabê Medeiros.
“Acredito que existam muito bons repórteres no Brasil, o que precisam fazer é manter a qualidade e não deixar a liberdade de expressão cair”- Roseann Kennedy.
“Mais aposta dos editores nas reportagens, mais espaço no mercado, melhores condições de trabalho” – Chico Otávio.
“Precisa investir na formação e dar oportunidades para quem realmente deseja ser repórter. Acho que a qualidade dos repórteres tem melhorado cada vez mais" – Kennedy Alencar.
Um comentário :
é Barata, ta feia coisa.
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