RODOLFO
NOBRE *
A assembleia geral dos professores da rede
pública estadual de ensino convocada para esta última sexta-feira, dia 29, na
Escola Estadual Cordeiro de Farias, terminou com gosto de fel para a direção do
Sintepp. Em resposta ao (des)acordo imposto pelos psdbistas e avalizado pela
direção sindical, a base da categoria não compareceu em massa, como seria em
tese presumível. Certamente para não ter que sentir, mais ainda, as dores do
parto do bebê de Rosemary. Com sapiência de um monge, se poupou desse desgaste
desnecessário. Trata-se de uma situação ilustrativa da falta de credibilidade
da direção do sindicato, cuja legitimidade foi irremediavelmente posta em
xeque.
Sem apoio da base da categoria, que já não
acredita mais nas versões do Sintepp, seja pela postura conivente com o governo
Jatene, seja pelos fortes indícios de corrupção presentes em denúncia anônima
protocolada no Ministério Público do Pará, a direção do sindicato revelou-se
isolada, desconectada da categoria. Percebendo essa lacuna, a oposição, que até
então estava em estado catatônico, resolveu agir com rigor, exigindo
transparência dos diretores e não endossou, sob nenhuma hipótese, a assinatura
do tratado de rendição no qual, em verdade, se constituiu o arremedo de acordo.
Fui citado nominalmente pelo secretário-geral,
Mauro Borges, e pelo coordenador-geral, Beto Andrade, que me acusaram de ser o
responsável pelas denúncias junto ao MP/PA. A propósito, quero me pronunciar
publicamente contra essa postura irresponsável, leviana, típica de quem, diante
de críticas irrespondíveis, busca estigmatizar quem ousa questionar. Com o
agravante, no caso, de optar pela adjetivação pejorativa, em lugar de rebater
com argumentos sólidos os questionamentos e as suspeitas formuladas, que
comprometem a credibilidade e, por extensão, a legitimidade da direção do
Sintepp. A assessoria jurídica do Sintepp deveria instruir melhor seus dirigentes
de que em uma denúncia de caráter
anônimo não há como personificar ninguém, pois se trata de uma ação civil
pública incondicionada. Infelizmente, parece-me, que a assessoria jurídica só
tem mesmo é claudicado, aparentemente empenhada em fazer o papel de advogado do
diabo.
O representante do jurídico do Sintepp
afirmou, na assembleia, ser o acordo de difícil compreensão e de alta
complexidade jurídica, acrescentando – pasmem! – que inclusive a ele falta a
clara compreensão das implicações do que foi acordado. Se assim é, pergunta-se:
se os dirigentes e a assessoria jurídica ainda não têm o domínio dos termos do
acordo, por que assinaram essa cilada? Para que serve, afinal, a assessoria
jurídica do Sintepp, ao que se saiba regiamente paga para cumprir o papel que
dela se espera?
Ao invés de promover o debate sério e
aprofundado sobre os termos e condições do acordo, os diretores do sindicato se
ativeram em tentar justificar suas vidas financeiras e acusar fakes (perfis
falsos de Facebook) como covardes algozes da direção do Sintepp,
secundarizando, com um rasteiro disse-me-disse, o prioritário: o debate em
torno do nocivo acordo. Não bastasse isto, o coordenador-geral, Beto Andrade, ratificou
o que já era público: em fevereiro ainda ocorrerão descontos nos contracheques
dos(as) professores(as). Até aqui, segundo as estimativas, chegariam a seis mil
os professores(as) atingidos pelos descontos, que deveriam passar a incidir
sobre o retroativo a ser recebido do piso salarial de 2015. É pouco ou quer
mais?
Para agravar o drama dos professores,
provocado pela postura servil da direção do Sintepp, o governo provavelmente
irá retirar um dia de falta da ficha funcional à medida que as aulas forem
sendo repostas, mas pagará o valor de uma hora-extra, ou seja, não receberemos
o valor total dos descontos que já sofremos. Exemplo: um professor que sofreu
descontos de 46 dias letivos, poderá repor 24 dias e por cada dia receberá
apenas uma hora de trabalho e não o valor integral pelo dia trabalhado. Logo,
quem foi descontado em cerca de 9 mil reais (e há professores que amargam esse
nível de descontos), receberá, no máximo, 500 reais. Um absurdo sem tamanho.
Para fechar o enredo macabro, os outros 22 dias que ainda faltam repor ficarão
como faltas nas fichas funcionais e nunca serão retiradas.
O deboche, em tudo isso, é que a direção do
Sintepp não convocou a assembleia geral para submeter à votação da categoria o
arremedo de acordo, cujos termos mais se assemelham a um tratado de rendição.
Apenas e tão-somente limitou-se a dar conhecimento formal do acordo à
categoria, cumprindo, aliás, exigência imposta pelo governo ao qual
subservientemente se curvou. Assim, cai o pano da ópera bufa, com a categoria
vendo seus direitos esfacelados, em decorrência dos equívocos políticos crassos
da direção do Sintepp e do bisonho desempenho da assessoria jurídica do
sindicato, em uma comédia de gosto duvidoso, na qual cintilam as ambições
pessoais dos dirigentes sindicais. Os professores? Os professores são apenas um
detalhe, parecem racionar os dirigentes do Sintepp, parodiando a ex-ministra do
governo Collor, de triste lembrança.
E o fecho dessa ópera bufa não poderia ser
mais cômico. A direção do Sintepp, com a credibilidade sepultada e a
legitimidade comprometida, ainda permite-se convocar os
professores para a campanha salarial de 2016 e – pasmem novamente! – uma nova
greve!!!
Cabe, certamente, a singela pergunta:
greve? Para que mesmo?
*
Rodolfo Nobre é professor da rede estadual de ensino, formado em matemática
pela UEPA, a Universidade do Estado do Pará, com mestrado em educação
matemática pela UFPA, a Universidade Federal do Pará, além de ser diplomando em
direito pela Faculdade Estácio do Pará.
3 comentários :
Beto Andrade e Mauro Borges têm motivo$$$$ mil para assim procederem. Poderiam tornar público quanto é que pagam para os advogados do SINTEPP??? Para podermos ver como são tratados os que nos defendem, só isso????
Quando os "direitores" do sindicato estão curtindo nas beiras das praias gastando o dinheiro da categoria, eles acionam o capataz que mete a porrada em professor pra defende-los nas horas vagas.
Parabéns a esse professor. Sou professora também e ele ataca com precisão o problema que atinge a nós. Descredito do sindicato, imobilismo das lutas e negação de direitos.
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