Zenaldo Coutinho com Simão Jatene: vitória que mira muito menos em... |
...menos em Belém e mais, muito mais, na disputa com Helder e Jader. |
Pelo jaez e antecedentes de seu padrinho, o
governador Simão Jatene, uma falácia pernóstica, e pelo próprio perfil do
candidato, um vagabundo profissional e um gestor inepto, a vitória de Zenaldo
Coutinho no primeiro turno da eleição para a Prefeitura de Belém representa uma
demonstração de força do PSDB, que prioriza a disputa com o PMDB, em detrimento
dos interesses de Belém. Mais que isso, evidencia as dificuldades que aguardam
o senador Jader Barbalho para tornar bem-sucedido o projeto de fazer de Helder Barbalho,
seu filho e herdeiro político, o governador do estado, na esteira do prestígio do
pai, a mais longeva liderança da história política do Pará. Uma liderança de
carisma colossal, capaz de sobreviver a sucessivas vicissitudes, a principal
das quais o estigma de corrupto que a ele aderiu, a partir da súbita evolução
patrimonial, capaz de torná-lo um próspero empresário, sem jamais ter tido um
único emprego na vida, toda ela dedicada à política. Um figurino reproduzido
com diferenças de grau, mas não de nível, nesse aspecto, por Zenaldo Coutinho,
o meliante travestido de prefeito, e Helder Barbalho, o arrogante empedernido, que
o prestígio do pai tornou ministro em governos politicamente díspares, apesar
do currículo da mais absoluta irrelevância. Obviamente, nenhum deles se
assemelha, nem de longe, ao fenômeno de resiliência política representado por
Jader, que a despeito de tudo se constitui no único parlamentar das bancadas do
Pará, tanto na Câmara como no Senado, efetivamente respeitado no Congresso
Nacional como um interlocutor a ser necessariamente ouvido – para o bem ou para
o mal.
Para além da clara utilização das máquinas
administrativas estadual e municipal, da propaganda enganosa veiculada
massivamente, do assistencialismo eleitoreiro da tucanalha - a banda podre do PSDB, a uma distância abissal das
lideranças que estão na gênese do partido, na qual pontificam personagens da expressão
de André Franco Monto, Mário Covas e do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso
-, a derrota de Edmilson Rodrigues certamente requer uma reflexão. Refazendo-se
da perplexidade que o revés nas urnas causou, talvez convenha ao entorno do candidato
do PSOL, e a ele próprio, refletir se o inesperado tropeço deste último domingo
não aponta para um sinal de fadiga de uma narrativa atropelada pela realidade, de
uma postura que mantém as esquerdas entre um muro que já ruiu e o futuro que o
eleitorado reclama, até intuitivamente. O desafio, hoje, é certamente garantir o
máximo de liberdade com um mínimo possível de desigualdade, sem tomar a
eventual vitória eleitoral como um certificado de propriedade do eleitorado. Soa
repulsivamente sectário estigmatizar o contraditório, tomar críticas como
agravos, confundir adversários com inimigos, pretender dividir a sociedade entre
“nós” e “eles”, um viés que assemelha as esquerdas ao fascismo ao qual
pretensamente se opõem. Não há vilania da intenção de tirar a limpo matos de uma
autoridade pública, até porque isso é um direito inalienável da sociedade. E
quem recalcitra em assim entender fatalmente arca com o ônus da intolerância. Não
por acaso, para citar apenas uma evidência desse descompasso entre retórica e
realidade, a maioria dos candidatos que opuseram-se ao impeachment da
ex-presidente petista Dilma Rousseff naufragaram nas urnas nessas eleições
municipais, sinal de que o discurso sobre o suposto golpe não encontrou eco no
conjunto da sociedade.
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