Roberto Corrêa: TV e alianças no centro do embate eleitoral. |
O desempenho na TV, cujos
tempos destinados aos candidatos serão iguais, e as alianças costuradas deverão
ser decisivos no confronto travado entre o prefeito Zenaldo Coutinho, do PSDB,
com o deputado federal Edmilson Rodrigues, do PSOL, no segundo turno da eleição
para a Prefeitura de Belém. Essa é a convicção do professor Roberto Corrêa, 71,
respeitado não só pela sólida formação acadêmica, mas também pela experiência
acumulada em sua extensa militância política, dividida entre o PCB do passado,
que privilegiava a via eleitoral mesmo em tempos de ditadura militar, e o PMDB da resistência democrática, que tornou-se governo. Graduado em ciências econômicas pela
UFPA, a Universidade Federal do Pará, com mestrado e doutorado em ciências
políticas pelo IUPERJ, o Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de
Janeiro, Roberto Corrêa foi servidor de carreira do Basa, o Banco da Amazônia
S/A, e professor da UFPA. Hoje aposentado, ele mantém-se, porém, em atividade, como
pesquisador na área de ciências políticas.
A despeito do desgaste da classe política,
imposto pela sucessão de escândalos e das revelações escancaradas na esteira da
Operação Lava Jatos, Roberto Corrêa acredita que, para além do desempenho dos
candidatos, a migração de votos será um componente importante na definição do
segundo turno da eleição em Belém. “A transferência de votos pode ser chamada
de ficção, mas não é de todo desprezível, porque o atual sistema eleitoral
estimula isso”, pondera. Sobre a destinação dos votos dos principais candidatos
que ficaram de fora do segundo turno, ele arrisca um prognóstico. “Os votos de
Úrsula Vidal, que em tese são de parcela mais esclarecida do eleitorado, tendem
– veja bem, eu digo tendem! – a ir em direção a Edmilson Rodrigues. Já o
destino dos votos dados ao Éder Mauro, que expressam uma espécie de
conservadorismo paroquial, deverão ir para Zenaldo. Os votos do PMDB vão
depender dos acertos que ocorrem em Brasília”, arrisca, em breve entrevista
concedida ao Blog
do Barata.
O que poderia explicar a inesperada vitória do tucano Zenaldo Coutinho,
já no primeiro turno, a despeito do seu pífio desempenho como prefeito de
Belém?
Penúria de
campanha misturada com tempo de televisão e competência midiática do candidato,
isso sem considerar outros fatores, que me lembram o poeta Ruy Barata, quando
dizia que a chave do cofre ajuda e muito...Zenaldo e sua equipe apostaram nos
indecisos que, na proximidade do dia da eleição, tendem a se definir. Por outro
lado, Edmilson não foi estratégico nas resposta que deveria ter dado a Zenaldo
[no derradeiro debate entre os candidatos], terminando por escorregar numa
casca de banana. Refiro-me a pergunta formulada por Zenaldo sobre o salário de
deputado federal face a suposta autoimagem de modéstia que teria sido pregada
em campanha por Edmilson. Casca de banana em que Edmilson mais uma vez
escorrega. Lembro que na campanha passada, no último debate do segundo turno,
casca de banana semelhante foi jogada, com Edmilson escorregando. Debate é
coisa séria quando a disputa encontra-se polarizada.
Para além das utilização das máquinas administrativas estadual e
municipal, da propaganda enganosa e das obras eleitoreiras, o que pode explicar
as sucessivas vitórias, ocorridas em Belém, de candidatos estigmatizados pelos
seus antecedentes e/ou pelo desempenho pífio como gestor? Belém é a capital do
atraso político?
É difícil
responder essa pergunta sem me referir à vantagem que um candidato leva por ser
o executor de políticas que, mesmo passíveis de pesadas criticas, têm por
virtude o fato de que todo o governante é príncipe para uns e tiranos para
outros. Essa é a frase com que Machiavel, lá no alvorecer da segunda metade do
século XVI, nominava as características de qualquer príncipe, isto é,
governante. O prefeito, por estar perto do povão, tem a vantagem de exercitar
esse papel com maestria e, convenhamos, Zenaldo tem essa virtude.
Por todo o Brasil, viu-se o fracasso, nas eleições deste último domingo,
dos candidatos alinhados contra o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
Esse fenômeno também poderia justificar a inesperada derrota, no primeiro
turno, de Edmilson Rodrigues, na contramão, inclusive, das pesquisas de
intenção de voto?
O PT, sim, pagou
caro por isso, com redução de 70% do número de prefeituras que detinha. O PSOL
e outros partidos de esquerda, não. Ao contrário. O voto de esquerda continua
existindo e se fortalece a medida que os ajustes necessários a recolocar a
economia nos trilhos atinge os mais necessitados, que são os eleitores potenciais
da esquerda, com está provado na maioria das democracias, sobretudo as
europeias.
Como o senhor avalia o fenômeno Úrsula Vidal, a candidata da Rede, uma
neófita na política, mas que superou até o ex-reitor Carlos Maneschy, o
candidato do PMDB, que teve o apoio do senador Jader Barbalho, a mais longeva
liderança da história política do Pará, e do ministro Helder Barbalho, da
Integração Nacional?
Maneschy chegou
tarde ao ringue da disputa eleitoral. Assim mesmo teve um crescimento de 350%,
saindo de 2% para chegar a 10% no dia da eleição. Úrsula Vidal inaugurou uma
nova forma de abordar as questões políticas, fazendo uma excelente apresentação
de suas intenções de governo, empolgando os mais exigentes. Úrsula apresentou temas
que não foram tratados pelos demais
candidatos. Foi, sem sombra de dúvida, a candidatura mais surpreendente no último
debate.
Qual
o provável destino dos votos dos candidatos excluídos do segundo turno?
Os votos de Úrsula Vidal, que em tese são
de parcela mais esclarecida do eleitorado, tendem – veja bem, eu digo tendem! –
a ir em direção a Edmilson Rodrigues. Já o destino dos votos dados ao Éder
Mauro, que expressam uma espécie de conservadorismo paroquial, deverão ir para
Zenaldo. Os votos do PMDB vão depender dos acertos que ocorrem em Brasília.
É
possível supor a transferência automática de votos, em um cenário de profundo
desgaste da classe política, com a sucessão de escândalos e as revelações
feitas pela Operação Lava Jato?
A transferência de votos pode ser chamada
de ficção, mas não é de todo desprezível, porque o atual sistema eleitoral
estimula isso. Tanto Éder Mauro, como Úrsula Vidal, como Maneschy, serão
importantíssimos no segundo turno, quando o tempo de TV será igual. Os arranjos
certamente estão se dando.
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