PM assiste, impassível, espancamento de travesti, na Doca: leniência estimulada pela omissão da oficialidade diante dos desvios de conduta. |
Choca, certamente, mas não surpreende a
leniência dos PMs que assistiram impassíveis o brutal espancamento, na Doca de
Souza Franco, de um travesti, suspeito de assaltar e até agredir taxistas da
Cooperdoca, a Cooperativa de Táxi da Doca. Mal remunerada e
embrutecida pela escala da criminalidade, com a qual convive e às vezes se
confunde, a leniência dos policiais militares apenas reflete a omissão criminosa
da oficialidade da PM diante da violência policial e dos desvios de conduta que
tisnam a imagem da corporação e transformam parcela de PMs em autênticos bandidos
fardados.
Enquanto deleita-se
com privilégios e mordomias só a si reservados e dedica-se com afinco ao
tráfico de influência, a oficialidade da PM segue indiferente ao grosso da
tropa e, para compensar as precárias condições de trabalho e a péssima remuneração, convive placidamente com a bandidagem fardada, como evidenciou a
Chacina de Belém. Para quem não se recorda: a Chacina de Belém deixou
11 mortos, em sua maioria jovens, foi iniciada na noite do dia 4 de novembro de
2014 e se estendeu pela madrugada do dia 5, em uma matança indiscriminada,
concentrada principalmente nos bairros da Terra Firme, Guamá, Jurunas e
Sideral. O estopim para as execuções foi o assassinato, na noite de 4 de
novembro de 2014, do cabo Antônio Marcos Figueiredo, o Pet, que comandava um grupo de extermínio. A matança
chocou a opinião pública e foi corajosamente repercutida na Alepa, a Assembleia
Legislativa do Pará, pelos deputados Edmilson Rodrigues (PSol), hoje deputado
federal, e Carlos Bordalo (PT), reeleito, que integraram a CPI das Milícias.
Perdura até hoje, à espera de uma resposta
convincente, a pergunta que não quer calar: em
se sabendo da rigidez da hierarquia militar e da incansável rede de arapongagem
da corporação, como pretender que o crime organizada introduziu-se na PM, a
ponto de permitir que um cabo fosse chefe de milícia, sem a conivência ou
participação de expressivos setores da sua oficialidade, por ação ou omissão?
Sem a leniência da sua oficialidade, a PM não institucionalizaria a venda de
proteção à qual dedicam-se prosaicamente suas baixas patentes, pare reforçar a
remuneração vil. A venda de proteção, sabe-se, é própria da bandidagem, como
ilustra a existência das milícias.
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