Jarbas: golpista renitente, que não permitiu-se a concessão da autocrítica. |
Dos mortos só se fala para dizer o bem,
consagra um adágio latino. Em se tratando de Jarbas Gonçalves Passarinho,
porém, é inimaginável sobre ele falar em tom inodoro, pelo próprio perfil
polêmico que ostentou ao longo da vida, como um personagem que encarnou as
contradições de seu tempo, no seu caso potencializada por dividir-se entre os
embates travados no planalto e na planície. Para além da probidade pessoal,
dele fica a lembrança, para a história, de um golpista renitente, que jamais
permitiu-se a autocrítica pelos horrores impostos pela ditadura militar a qual
serviu e que pateticamente louvou no episódio da edição do sinistro Ato
Institucional nº 5, que mergulhou o Brasil na noite negra do obscurantismo. "Às favas, senhor presidente, neste momento, todos
os escrúpulos de consciência", proclamou na ocasião Jarbas, um dos
signatário do famigerado AI-5, dirigindo-se ao general-presidente Arthur da
Costa e Silva, que acabaria apeado do poder, na esteira da invalidez provocada
por uma trombose. A justificativa que posteriormente ofereceu, de que
tratava-se de uma opção entre a ditatura militar e a ameaça comunista, soa a
escárnio e ofende a inteligência de quem conhece minimamente a história e a
correlação de forças entre o aparelho repressor e os grupos da esquerda armada,
flagrantemente desfavorável aos que defendiam a guerrilha no combate ao regime
de exceção.
O
general-presidente Costa e Silva, recorde-se, foi substituído por uma junta
militar, um triunvirato de militares etiquetados de “três patetas” pelo saudoso
doutor Ulysses Guimarães, atuante deputado que foi anticandidato a presidente,
pelo MDB, do qual é sucedâneo o PMDB, para marcar posição contra o regime dos
generais. A junta militar que substituiu Costa e Silva foi sucedida pelo
general-presidente Emílio Garrastazu Médici, o nome que se confunde com os anos
de chumbo, período que consagrou o terrorismo como político de Estado, com seu
corolário de prisões arbitrárias, torturas e mortes de quem se opunha à
ditadura militar, independentemente de matiz ideológico. Um período de
institucionalização do arbítrio, com a supressão das liberdades democráticas. A
fadiga do regime dos generais abriu caminho para a abertura “lenta, gradual e
segura” promovida pelo general-presidente Ernesto Geisel, pavimentando a redemocratização,
no rastro de embates nos quais pontificou o doutor Ulysses Guimarães, consagrado
como O Senhor Diretas, ao mobilizar o país em defesa de eleições diretas para
presidente. Com a proposta da emenda constitucional restabelecendo eleições diretas
rejeitada pela Câmara dos Deputados – apesar do apoio de 84% da população
brasileira, segundo pesquisa feita na época pelo Ibope -, doutor Ulysses
encampou a proposta de ida ao colégio eleitoral, que sepultou a ditadura
militar, ao consagrar Tancredo Neves como sucessor do quinto e último
general-presidente, João Figueiredo.
2 comentários :
Parabéns pela aula da História Paraense envolvendo o nome do Governador Jarbas Passarinho
Barata é um dos maiores jornalistas desse estado. Não há como contradizer, goste ou não.
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