terça-feira, 7 de junho de 2016

JARBAS – O adeus do golpista renitente, que jamais permitiu-se a autocrítica pelos horrores da ditadura

Jarbas: golpista renitente, que não permitiu-se a concessão da autocrítica.

Dos mortos só se fala para dizer o bem, consagra um adágio latino. Em se tratando de Jarbas Gonçalves Passarinho, porém, é inimaginável sobre ele falar em tom inodoro, pelo próprio perfil polêmico que ostentou ao longo da vida, como um personagem que encarnou as contradições de seu tempo, no seu caso potencializada por dividir-se entre os embates travados no planalto e na planície. Para além da probidade pessoal, dele fica a lembrança, para a história, de um golpista renitente, que jamais permitiu-se a autocrítica pelos horrores impostos pela ditadura militar a qual serviu e que pateticamente louvou no episódio da edição do sinistro Ato Institucional nº 5, que mergulhou o Brasil na noite negra do obscurantismo. "Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência", proclamou na ocasião Jarbas, um dos signatário do famigerado AI-5, dirigindo-se ao general-presidente Arthur da Costa e Silva, que acabaria apeado do poder, na esteira da invalidez provocada por uma trombose. A justificativa que posteriormente ofereceu, de que tratava-se de uma opção entre a ditatura militar e a ameaça comunista, soa a escárnio e ofende a inteligência de quem conhece minimamente a história e a correlação de forças entre o aparelho repressor e os grupos da esquerda armada, flagrantemente desfavorável aos que defendiam a guerrilha no combate ao regime de exceção.

O general-presidente Costa e Silva, recorde-se, foi substituído por uma junta militar, um triunvirato de militares etiquetados de “três patetas” pelo saudoso doutor Ulysses Guimarães, atuante deputado que foi anticandidato a presidente, pelo MDB, do qual é sucedâneo o PMDB, para marcar posição contra o regime dos generais. A junta militar que substituiu Costa e Silva foi sucedida pelo general-presidente Emílio Garrastazu Médici, o nome que se confunde com os anos de chumbo, período que consagrou o terrorismo como político de Estado, com seu corolário de prisões arbitrárias, torturas e mortes de quem se opunha à ditadura militar, independentemente de matiz ideológico. Um período de institucionalização do arbítrio, com a supressão das liberdades democráticas. A fadiga do regime dos generais abriu caminho para a abertura “lenta, gradual e segura” promovida pelo general-presidente Ernesto Geisel, pavimentando a redemocratização, no rastro de embates nos quais pontificou o doutor Ulysses Guimarães, consagrado como O Senhor Diretas, ao mobilizar o país em defesa de eleições diretas para presidente. Com a proposta da emenda constitucional restabelecendo eleições diretas rejeitada pela Câmara dos Deputados – apesar do apoio de 84% da população brasileira, segundo pesquisa feita na época pelo Ibope -, doutor Ulysses encampou a proposta de ida ao colégio eleitoral, que sepultou a ditadura militar, ao consagrar Tancredo Neves como sucessor do quinto e último general-presidente, João Figueiredo.

2 comentários :

MARCIO VASCONCELOS disse...

Parabéns pela aula da História Paraense envolvendo o nome do Governador Jarbas Passarinho

Marcos Paulo disse...

Barata é um dos maiores jornalistas desse estado. Não há como contradizer, goste ou não.