quarta-feira, 7 de agosto de 2013

MÍDIAS ALTERNATIVAS – A entrevista

        Segue abaixo, na íntegra, a entrevista concedida a Lidyane Albim, do projeto de pesquisa Mídias Alternativas na Amazônia, coordenado por Célia Trindade Amorim, professora da Faculdade de Comunicação da UFPA.

        COMPROMISSO COM A LIVRE INFORMAÇÃO

        Quando você iniciou o trabalho neste blog? O que o motivou a fazer parte da imprensa alternativa?

        Inicialmente denominado Pauta Livre e posteriormente, mais exatamente pouco mais de um ano depois, com a atual e definitiva denominação, o Blog do Barata surgiu em meados de 2005. O blog foi inspirado pelo projeto que acalentava, como jornalista, de disponibilizar um veículo de informação cotidiano livre das amarras que fazem da grande imprensa paraense refém dos poderosos de plantão, na esteira de conveniências políticas, comerciais e pessoais dos nossos barões da comunicação e dos seus prepostos. Quando, por questão de princípios e por problemas de saúde, dei por encerrado meu ciclo nos jornalões, surgiu a idéia do blog, por sugestão da minha mulher, Laura Rosa Almeida, assistente social e intelectualmente inquieta, solidária companheira, presença marcante na minha vida, com sua elegante discrição, em mais de uma década de vida em comum. A idéia do blog também teve o decisivo estímulo de Ieda Jucá, também jornalista e uma querida e leal amiga, a quem tenho como uma das pessoas mais éticas que já conheci.

       COMO É FEITO O BLOG

        Você o escreve com a ajuda de outras pessoas? Em caso afirmativo, quem são os colaboradores?

        Redijo o Blog do Barata, habitualmente, solitariamente, amparado nas minhas fontes e apurações, acompanhadas, sempre que possível, da leitura dos nossos dois principais jornais diários, O Liberal e o Diário do Pará, importantes como bússolas que sinalizam como vão as promíscuas relações entre os donos do poder no Estado. Eventualmente, tenho a companhia de colaboradores, que costumo identificar, exceção feita quando a omissão, sobre a autoria, é necessária para preservar o circunstancial colaborador de retaliações, tal qual ocorre com as fontes de determinadas informações. Nesses casos, mantenho no anonimato o eventual colaborador, sem deixar de debitar a autoria do texto a um colaborador anônimo. Jamais assumo o texto de outrem, embora, judicialmente, responda por ele. Como legalmente respondo pelos comentários publicados.
        Aliás, já fui condenado, por um esbirro togado, a pagar uma indenização, hoje estima em R$ 47 mil, a uma opaca advogada, Vivian Paes de Freitas – na época namorada, hoje mulher do deputado Cássio Andrade, do PSB -, não pela denúncia que fiz, mas pelos comentários ensejados pela postagem. Revelei, no blog, que por influência do ilustre namorado a jovem havia sido alojada na Sead, a Secretaria de Estado de Administração, na qual se notabilizou por uma postura desidiosa, atestada inclusive por seu superior hierárquico, o respeitável advogado Cadmo Bastos Melo Júnior. Na época, que corresponde ao governo Ana Júlia Carepa, a Sead tornou-se feudo do PSB, no Pará comandado por Ademir Andrade, então vereador de Belém e que reduziu a secretaria a uma espécie de comitê eleitoral dele e do ilustre rebento, Cássio Andrade. Ademir Andrade, recorde-se, chegou até a ser preso e algemado pela Polícia Federal, acusado de comandar uma quadrilha que fraudava licitações na CDP, a Companhia das Docas do Pará, quando foi presidente da empresa. O papel que coube a Vivian Lis Paes de Freitas foi tão patético, mas tão patético, que em juízo ela alegou ter ficado tão deprimida, diante das críticas veiculadas no blog, que fora necessário fazer terapia com um psicólogo. Indagada sobre o endereço do consultório do suposto psicólogo, não soube informar. A versão talvez fosse plausível se ela tivesse ficado deprimida por precisar do aval de alguém do jaez de Ademir Andrade para obter o emprego na Sead.
        Mais patética ainda, no meu aprendizado sobre a iniqüidade togada, foi a ignomínia comandada pelo juiz Marco Antônio Lobo Castelo Branco, um autêntico cretino togado, que desembocou na minha condenação, por supostos danos morais, em ação movida pelo advogado Hamilton Ribamar Gualberto, um assassino impune, condenado a sete anos e meio de prisão, por participar do espancamento e morte de um sexagenário doente e indefeso, arbitrariamente detido por um delegado ainda sob os efeitos de uma bebedeira. Pelo crime, Gualberto foi demitido da polícia a bem do serviço público, condenado pela Justiça, sem jamais ter cumprido um só dia de prisão, no rastro do tráfico de influência, uma nódoa infame que desmoraliza o Judiciário paraense. Por rememorar os antecedentes de Gualberto, ao denunciar que este mandara cancelar os cheques com os quais pagara seu débito no Clube do Remo, para poder votar na eleição do conselho deliberativo da agremiação, fui graciosamente condenado a pagar uma indenização, por supostos danos morais, postulada pelo assassino impune em R$ 10 mil, ou R$ 12 mil, não recordo-me agora, sem que tivesse uma só linha do que escrevi desmentida. Na denúncia, diga-se, publiquei o fac-símile dos cheques. O fac-símile da condenação de Gualberto, já publicara anteriormente, em 1995, quando editor de um caderno de esportes que circulava nas edições de segunda-feira do Diário do Pará, o que resultou na minha demissão sumária, por determinação expressa do superintendente do jornal, Laércio Barbalho. Já falecido, Laércio Barbalho, que teve os seus direitos políticos cassados por corrupção, em 1964, fez fama como um arrematado moleque, por sua truculência e falta de escrúpulos. Ele é pai do senador e ex-governador Jader Barbalho, o morubixaba do PMDB no Pará e cujo nome é indelevelmente associado a suspeitas de corrupção.
        Recordando o que já revelei no blog, Marco Antônio Lobo Castelo Branco é o mesmo magistrado que, como um palhaço togado, concedeu a graciosa, ilegal e imoral liminar, por ele próprio posteriormente cassada no rastro da indignação provocada na opinião pública, permitindo à filha da ex-vice-governadora Valéria Vinagre Pires Franco e do ex-deputado federal Vic Pires Franco ser matriculada – sem prestar vestibular - no curso de medicina da UEPA, a Universidade do Estado do Pará. Não há registro do juiz ter sido advertido, pelo Tribunal de Justiça do Pará, pela palhaçada que protagonizou no imbróglio envolvendo Izabela Vinagre Pires Franco. Marco Antônio Lobo Castelo Branco, convém recordar ainda, vem a ser o juiz que privou os indosos de gratuidade nos cinemas de Belém. O que faz dele um daqueles magistrados que dispensam apresentação, tantas e tamanhas são as lambanças protagonizadas impunemente.

       COMPROMISSO COM O PLURALISMO

        Qual a importância de escrever um blog sobre a realidade da Amazônia?

        Permitir o contraditório é, creio, a importância visceral do Blog do Barata e de qualquer blog, ou veículo de comunicação, que seja efetivamente plural. Elogio em boca própria é vitupério, como bem sabemos, mas esta é a virtude maior que identifico neste blog ao qual me dedico, e do qual não me arrependo, a despeito das vicissitudes dele decorrentes. Quebrar o pacto do silêncio, celebrado entre os poderosos de plantão, impõe ônus, às vezes penosos, principalmente quando se estendem aos seus e/ou aos que lhe são caros, esta uma possibilidade tanto mais presente em atmosferas provincianas, como a sob a qual vivemos, aqui no Pará. Agora, convém coragem moral para não virar as costas para a máxima célebre, segundo a qual a liberdade é, sobretudo e fundamentalmente, a liberdade de quem discorda de nós. Sempre na perspectiva, valendo-me de outra máxima inesquecível, de que as interpretações são livres, mas os fatos são sagrados.

       A CENSURA DA MÁFIA TOGADA

        Por quanto tempo o blog ficará censurado?

        A depender dos nossos magistrados, sine die. O que é emblemático do Judiciário que temos no Pará. Nosso TJE, o Tribunal de Justiça do Estado, respeitadas as devidas exceções, é constituído por autênticas prostitutas togadas, reféns do corporativismo e de conveniências espúrias, que vendem a consciência para ascender profissionalmente, de preferência sem os percalços da antiguidade.
        Penalizar os circunstanciais excessos, no exercício da liberdade de expressão, parece-me absolutamente lícito. Ilegal, imoral, execrável, é a censura prévia togada, que agride a própria Constituição. A censura prévia togada é uma aberração que proíbe-me, a priori, de tratar ou fazer referências sobre aqueles que obtiveram na Justiça o interdito proibitório da canalha de toga, que agride o princípio da liberdade de imprensa e o direito constitucional de informação.
        A fixação das penas pecuniárias, pela Justiça do Pará, se constitui em outra das mais gritantes aberrações do nosso Judiciário, em se tratando das ações movidas contra jornalistas por supostos danos morais. A própria lei estabelece que a fixação da pena pecuniária deve levar em consideração a situação financeira não só da vítima, mas também do réu. A despeito disso, na ação que move contra mim, o juiz Marco Antônio Lobo Castelo Branco, postula uma indenização de R$ 300 mil – justo ele, que, como magistrado, deveria cultivar o respeito à lei e não desconhecê-la, para protagonizar um achaque com tinturas de chantagem. Ser condenado a pagar R$ 47 mil a Vivian Paes de Freitas, a obscura advogada que hoje é mulher do deputado Cássio Andrade, do PSB, um obscuro parlamentar, mas que ostenta um alto padrão de vida, na esteira da riqueza do pai, soa a escárnio a quem, como eu, divide as despesas da casa com a mulher e cuja renda mensal, atualmente, não chega a R$ 2 mil reais.
        Ao fim e ao cabo, isto é Pará!


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