Segue
abaixo, na íntegra, a entrevista concedida a Lidyane
Albim, do projeto de pesquisa Mídias Alternativas na Amazônia,
coordenado por Célia Trindade Amorim, professora da Faculdade de Comunicação da
UFPA.
COMPROMISSO COM A LIVRE INFORMAÇÃO
Quando você iniciou o
trabalho neste blog? O que o motivou a fazer parte da imprensa alternativa?
Inicialmente denominado Pauta
Livre e posteriormente, mais exatamente pouco mais de um ano depois, com a
atual e definitiva denominação, o Blog do
Barata surgiu em meados de 2005. O blog foi inspirado pelo projeto que
acalentava, como jornalista, de disponibilizar um veículo de informação
cotidiano livre das amarras que fazem da grande imprensa paraense refém dos
poderosos de plantão, na esteira de conveniências políticas, comerciais e
pessoais dos nossos barões da comunicação e dos seus prepostos. Quando, por
questão de princípios e por problemas de saúde, dei por encerrado meu ciclo nos
jornalões, surgiu a idéia do blog, por sugestão da minha mulher, Laura Rosa
Almeida, assistente social e intelectualmente inquieta, solidária companheira,
presença marcante na minha vida, com sua elegante discrição, em mais de uma
década de vida em comum. A idéia do blog também teve o decisivo estímulo de
Ieda Jucá, também jornalista e uma querida e leal amiga, a quem tenho como uma
das pessoas mais éticas que já conheci.
COMO É
FEITO O BLOG
Você o escreve com a
ajuda de outras pessoas? Em caso afirmativo, quem são os colaboradores?
Redijo o Blog do Barata,
habitualmente, solitariamente, amparado nas minhas fontes e apurações,
acompanhadas, sempre que possível, da leitura dos nossos dois principais
jornais diários, O Liberal e o Diário do Pará, importantes como
bússolas que sinalizam como vão as promíscuas relações entre os donos do poder
no Estado. Eventualmente, tenho a companhia de colaboradores, que costumo
identificar, exceção feita quando a omissão, sobre a autoria, é necessária para
preservar o circunstancial colaborador de retaliações, tal qual ocorre com as
fontes de determinadas informações. Nesses casos, mantenho no anonimato o
eventual colaborador, sem deixar de debitar a autoria do texto a um colaborador
anônimo. Jamais assumo o texto de outrem, embora, judicialmente, responda por
ele. Como legalmente respondo pelos comentários publicados.
Aliás, já fui condenado, por um esbirro togado, a pagar uma
indenização, hoje estima em R$ 47 mil, a uma opaca advogada, Vivian Paes de
Freitas – na época namorada, hoje mulher do deputado Cássio Andrade, do PSB -,
não pela denúncia que fiz, mas pelos comentários ensejados pela postagem.
Revelei, no blog, que por influência do ilustre namorado a jovem havia sido
alojada na Sead, a Secretaria de Estado de Administração, na qual se
notabilizou por uma postura desidiosa, atestada inclusive por seu superior
hierárquico, o respeitável advogado Cadmo Bastos Melo Júnior. Na época, que
corresponde ao governo Ana Júlia Carepa, a Sead tornou-se feudo do PSB, no Pará
comandado por Ademir Andrade, então vereador de Belém e que reduziu a secretaria a uma espécie de comitê
eleitoral dele e do ilustre rebento, Cássio Andrade. Ademir Andrade, recorde-se,
chegou até a ser preso e algemado pela Polícia Federal, acusado de comandar uma
quadrilha que fraudava licitações na CDP, a Companhia das Docas do Pará, quando
foi presidente da empresa. O papel que coube a Vivian Lis Paes de Freitas foi
tão patético, mas tão patético, que em juízo ela alegou ter ficado tão
deprimida, diante das críticas veiculadas no blog, que fora necessário fazer
terapia com um psicólogo. Indagada sobre o endereço do consultório do suposto
psicólogo, não soube informar. A versão talvez fosse plausível se ela tivesse
ficado deprimida por precisar do aval de alguém do jaez de Ademir Andrade para
obter o emprego na Sead.
Mais patética ainda, no meu aprendizado
sobre a iniqüidade togada, foi a ignomínia comandada pelo juiz Marco Antônio
Lobo Castelo Branco, um autêntico cretino togado, que desembocou na minha
condenação, por supostos danos morais, em ação movida pelo advogado Hamilton
Ribamar Gualberto, um assassino impune, condenado a sete anos e meio de prisão,
por participar do espancamento e morte de um sexagenário doente e indefeso,
arbitrariamente detido por um delegado ainda sob os efeitos de uma bebedeira.
Pelo crime, Gualberto foi demitido da polícia a bem do serviço público,
condenado pela Justiça, sem jamais ter cumprido um só dia de prisão, no rastro
do tráfico de influência, uma nódoa infame que desmoraliza o Judiciário
paraense. Por rememorar os antecedentes de Gualberto, ao denunciar que este
mandara cancelar os cheques com os quais pagara seu débito no Clube do Remo,
para poder votar na eleição do conselho deliberativo da agremiação, fui
graciosamente condenado a pagar uma indenização, por supostos danos morais,
postulada pelo assassino impune em R$ 10 mil, ou R$ 12 mil, não recordo-me
agora, sem que tivesse uma só linha do que escrevi desmentida. Na denúncia,
diga-se, publiquei o fac-símile dos cheques. O fac-símile da condenação de
Gualberto, já publicara anteriormente, em 1995, quando editor de um caderno de
esportes que circulava nas edições de segunda-feira do Diário do Pará, o que resultou na minha demissão sumária, por
determinação expressa do superintendente do jornal, Laércio Barbalho. Já falecido,
Laércio Barbalho, que teve os seus direitos políticos cassados por corrupção,
em 1964, fez fama como um arrematado moleque, por sua truculência e falta de
escrúpulos. Ele é pai do senador e ex-governador Jader Barbalho, o morubixaba
do PMDB no Pará e cujo nome é indelevelmente associado a suspeitas de
corrupção.
Recordando o que já revelei no blog, Marco Antônio Lobo Castelo Branco é o mesmo magistrado que, como um
palhaço togado, concedeu a graciosa, ilegal e imoral liminar, por ele próprio
posteriormente cassada no rastro da indignação provocada na opinião pública,
permitindo à filha da ex-vice-governadora Valéria Vinagre Pires Franco e do
ex-deputado federal Vic Pires Franco ser matriculada – sem prestar vestibular -
no curso de medicina da UEPA, a Universidade do Estado do Pará. Não há registro
do juiz ter sido advertido, pelo Tribunal de Justiça do Pará, pela palhaçada
que protagonizou no imbróglio envolvendo Izabela Vinagre Pires Franco. Marco
Antônio Lobo Castelo Branco, convém recordar ainda, vem a ser o juiz que privou
os indosos de gratuidade nos cinemas de Belém. O que faz dele um daqueles
magistrados que dispensam apresentação, tantas e tamanhas são as lambanças
protagonizadas impunemente.
COMPROMISSO
COM O PLURALISMO
Qual a importância de
escrever um blog sobre a realidade da Amazônia?
Permitir o contraditório é, creio, a importância visceral do Blog do Barata e de qualquer blog, ou
veículo de comunicação, que seja efetivamente plural. Elogio em boca própria é
vitupério, como bem sabemos, mas esta é a virtude maior que identifico neste
blog ao qual me dedico, e do qual não me arrependo, a despeito das vicissitudes
dele decorrentes. Quebrar o pacto do silêncio, celebrado entre os poderosos de
plantão, impõe ônus, às vezes penosos, principalmente quando se estendem aos
seus e/ou aos que lhe são caros, esta uma possibilidade tanto mais presente em
atmosferas provincianas, como a sob a qual vivemos, aqui no Pará. Agora, convém
coragem moral para não virar as costas para a máxima célebre, segundo a qual a
liberdade é, sobretudo e fundamentalmente, a liberdade de quem discorda de nós.
Sempre na perspectiva, valendo-me de outra máxima inesquecível, de que as
interpretações são livres, mas os fatos são sagrados.
A
CENSURA DA MÁFIA TOGADA
Por quanto tempo o
blog ficará censurado?
A
depender dos nossos magistrados, sine die.
O que é emblemático do Judiciário que temos no Pará. Nosso TJE, o Tribunal de
Justiça do Estado, respeitadas as devidas exceções, é constituído por
autênticas prostitutas togadas, reféns do corporativismo e de conveniências
espúrias, que vendem a consciência para ascender profissionalmente, de preferência
sem os percalços da antiguidade.
Penalizar
os circunstanciais excessos, no exercício da liberdade de expressão, parece-me
absolutamente lícito. Ilegal, imoral, execrável, é a censura prévia togada, que
agride a própria Constituição. A censura prévia togada é uma aberração que
proíbe-me, a priori, de tratar ou fazer referências sobre aqueles que obtiveram
na Justiça o interdito proibitório da canalha de toga, que agride o princípio
da liberdade de imprensa e o direito constitucional de informação.
A
fixação das penas pecuniárias, pela Justiça do Pará, se constitui em outra das
mais gritantes aberrações do nosso Judiciário, em se tratando das ações movidas
contra jornalistas por supostos danos morais. A própria lei estabelece que a
fixação da pena pecuniária deve levar em consideração a situação financeira não
só da vítima, mas também do réu. A despeito disso, na ação que move contra mim,
o juiz Marco Antônio Lobo Castelo Branco, postula uma indenização de R$ 300 mil
– justo ele, que, como magistrado, deveria cultivar o respeito à lei e não
desconhecê-la, para protagonizar um achaque com tinturas de chantagem. Ser
condenado a pagar R$ 47 mil a Vivian Paes de
Freitas, a obscura advogada que hoje é mulher do deputado Cássio Andrade, do
PSB, um obscuro parlamentar, mas que ostenta um alto padrão de vida, na esteira
da riqueza do pai, soa a escárnio a quem, como eu, divide as despesas da casa
com a mulher e cuja renda mensal, atualmente, não chega a R$ 2 mil reais.
Ao
fim e ao cabo, isto é Pará!
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