Na sua compulsão pela propaganda enganosa, ao fazer uma homenagem ao saudoso Ruy Barata (foto), na esteira da XVII Feira Pan-Amazônica do Livro, a tucanalha, da qual é lídimo representante o governo Simão Jatene, evidenciou o desdém com que trata a cultura. Diante da importância do homenageado no cenário da moderna poesia brasileira - reconhecida pelos mais exigentes críticos literários brasileiros, mas desconhecida do grande público -, a reverência póstuma está aquém, muito aquém, diga-se, da relevância literária daquele que foi um intelectual de exuberante e multifacetado talento. Soa fatalmente inimaginável levar a sério o pretendido resgate trombeteado pela Secult, a Secretaria de Estado de Cultura, sem, pelo menos, a reedição da obra poética de Ruy, que ganhou maior visibilidade, na mídia, como o letrista de versos memoráveis nas belíssimas canções compostas com Paulo André Barata, o filho e parceiro musical.
Advogado, político, professor, jornalista, poeta e compositor, não só pelo conjunto da obra, mas principalmente pela sua poesia, Ruy Barata perdura à espera que lhe seja feita a justiça da história. Reeditar sua obra servirá para tanto, além, é claro, de disseminar seu notável legado literário entre as novas gerações. Uma oportunidade até aqui desperdiçada pelo secretário estadual de Cultura, Paulo Chaves, a quem não faltou tempo para tal. Descontado o hiato de quatro anos do governo Ana Júlia Carepa, entre 2007 e 2010, nos últimos 18 anos, a contar de 1995, Paulo Chaves pontifica na Secult há 14 anos, sem materializar sequer uma política cultural, nela naturalmente incluído o resgate das obras de autores paraenses de reconhecido talento, capaz de torná-los conhecidos das novas gerações. Pela sua importância literária, Ruy Barata merece mais, muito mais, que a estátua de bronze assentada em um dos bancos do jardim do Parque da Residência, o antigo palacete residencial dos governadores, que hoje abriga a sede da Secult.
Será certamente injusto, profundamente injusto, perpetuar a lembrança de Ruy Barata apenas como o boêmio irreverente que também foi, possivelmente para diluir as amarguras provocadas por ter seus direitos políticos cassados pelo golpe militar de 1º de abril de 1964, em consequência da sua militância no PCB, o Partido Comunista Brasileiro. A ditadura militar, além de demiti-lo do seu cartório (então 4º Ofício do Cível e Comércio da Comarca de Belém), impôs a Ruy Barata um golpe para ele particularmente doloroso, ao aposentá-lo compulsoriamente do cargo de professor da Faculdade de Filosofia da UFPA, a Universidade Federal do Pará, com menos de 10% dos seus proventos, privando-lhe de uma paixão visceral, que foi o magistério. Uma paixão retomada com a anistia, mas de cuja privação ficaram marcas dolorosas e indeléveis, o que remete à máxima shakespereana segundo a qual ri das cicatrizes quem não conhece a dor das feridas.
Para Ruy Barata, mais visceral que o magistério, só suas raízes. O que imprime um eloquente significado aos versos de uma de suas canções: “Tudo o que eu amei estava aqui.”
Um comentário :
Texto maravilhoso: de inegável sensibilidade estética. O poeta e Professor Ruy Barata foi o nosso maior construtor de versos e, não só por isso, merece melhor reconhecimento de sua alentada produção literária!
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