Tempos sombrios eram também aqueles, de 1981. Naquela altura, a linha-dura do regime militar fustigava o governo do general-presidente João Figueiredo, resistindo à abertura política e ameaçando, com seus atos terroristas e manifestações de intolerâncias, a redemocratização do país. Aqui, o governo Alacid Nunes, cujo secretário de Cultura, Olavo Lyra Maia, era um personagem intelectualmente opaco, cujo casamento transformou em comerciante e que em suas origens havia sido representante de laboratório, mostrava-se um terreno infértil para a idéia de dar apoio oficial a feiras de livros.
Foi sob esse cenário que um grupo de livreiros, à frente Raimundo Antônio Jinkings e Neyro Rodarte, decidiu realizar a primeira Feira do Livro de Belém, que acabaria empastelada pela Polícia Federal, então a serviço da repressão da ditadura militar. Feita sem nenhum apoio oficial e montada em plena praça da República, a feira seria realizada em um fim de semana, utilizando barracas de campanha ironicamente cedidas pelo Exército. Essa inusitada parceria com o Exército talvez encontre explicação na participação de Neyro Rodarte, politicamente um liberal, no melhor sentido do termo, que seduz pela elegância, no trajar e nos modos, exibindo uma lanheza incomum por esses agrestes trópicos.
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