segunda-feira, 29 de abril de 2013

FEIRA PAN-AMAZÔNICA – Os perigos do saber

        Com os direitos políticos cassados e singrando a atividade de livreiro, após ter sido obrigado a ser feirante para sustentar a família, Jinkings, até o golpe de 1964 um bancário do Banco da Amazônia (do qual foi demitido pela ditadura militar e a ele reintegrado com a anistia, em 1979), deixava a sala de visita de sua casa na rua dos Mundurucus, onde funcionava então, precariamente, aquela que viria a ser a Livraria Jinkinks, que marcou época em Belém, para se expor publicamente. Sim, porque particularmente no seu caso, vender o saber, uma mercadoria vista sempre com suspeita pelo regime dos generais, implicava riscos imprevisíveis.
        Juntamente com Jinkinks participava da empreitada o advogado e jornalista João Marques, o combativo presidente do Sindicato dos Jornalistas do Pará, em uma época em que não havia espaço para posturas dúbias. O dualismo da época, se pensarmos bem, compele ao reconhecimento da dignidade de João Marques, cujas eventuais contradições políticas não obscurecem o mérito de ter tido a coragem de se manter sempre, como presidente do sindicato da categoria, à disposição de todo e qualquer jornalista molestado por qualquer tipo de violência e/ou constrangimento. Um triste contraponto ao (patético) presente, vamos combinar!

2 comentários :

Francisco Sidou disse...

Bela homenagem, caro Barata, resgatando para as novas gerações o exemplo de vida íntegra e a coragem moral de dois grandes paraenses, com os quais tive o privilégio de conviver. O João Marques, como diretor do Sinjor/PA , na época em que foi seu presidente, por sinal o mais destemido de todos quantos o antecederam ou sucederam. O Jinkings já conhecia de sua livraria "doméstica" nos tempos em que lutava pela sobrevivência, após ter sido demitido injustamente do Banco da Amazônia. Então funcionário do Basa e estudante na UFPA, fazia parte da corrente de solidariedade a Jinkings.Comprar livros em sua livraria era a forma que encontramos de prestigiar sua luta contra os atos arbitrários dos que queriam deixá-lo à míngua, apenas porque assumia, com destemor, posições contrárias ao regime de arbítrio que então se instalara, desgraçadamente, em nosso País. O destemido João Marques jamais deixou de dar assistência jurídica gratuita a colegas jornalistas vítimas de perseguições políticas ou de falta de respeito ao exercício da profissão de jornalista. Ambos fazem muita falta, Barata, nesses tempos muito estranhos em que vivemos, onde a liberdade de expressão costuma ser castrada com vantagens adicionais nas folhas de pagamentos em estatais ou entidades sindicais chapas brancas.

Anônimo disse...

Barata;

Peço que me ajude a inserir nesse histórico um acontecimento que me assustou à época, morador um quarteirão distante (da R. dos Tamoios). Os tiros disparados contra a fachada da livraria.