terça-feira, 2 de abril de 2013

ÉTICA – O poema de Elisa Lucinda


        Segue abaixo o poema intitulado Só de Sacanagem, de Elisa Lucinda (foto):

        Só de Sacanagem

Meu coração está aos pulos.
Quantas vezes minha esperança
será posta à prova?
Por quantas provas terá ela que passar?
Tudo isso que está aí no ar:
malas, cuecas que voam
entupidas de dinheiro,
do meu dinheiro, do nosso dinheiro,
que reservamos duramente para educar
os meninos mais pobres que nós, pra cuidar
gratuitamente da saúde deles
e dos seus pais.
Esse dinheiro viaja
na bagagem da impunidade
e eu não posso mais.
Quantas vezes meu amigo, meu rapaz,
minha confiança vai ser posta à prova?
Quantas vezes minha esperança
vai esperar no cais?
É certo que tempos difíceis
existem pra aperfeiçoar o aprendiz.
Mas não é certo que a mentira
dos maus brasileiros
venha quebrar no nosso nariz.
Meu coração está no escuro,
a luz é simples,
regada ao conselho simples
de meu pai, minha mãe, minha avó
e os justos que os precederam:
”Não roubarás,
devolva o lápis do coleguinha,
esse apontador não é seu, minha filha”.
Ao invés disso,
tanta coisa nojenta e torpe
tenho tido que escutar.
Até habeas corpus preventivo
Coisa da qual nunca tinha ouvido falar
E sobre a qual minha pobre lógica ainda insiste
Esse é o tipo de benefício que só ao culpado interessará.
Pois bem, se mexeram comigo,
com a velha e fiel fé do meu povo sofrido,
então agora eu vou sacanear:
mais honesta ainda eu vou ficar.
Só de sacanagem.
Dirão: deixa de ser boba. Desde Cabral
que aqui todo mundo rouba.
Eu vou dizer: não importa.
Será esse o meu carnaval.
Vou confiar mais e outra vez.
Eu, meu irmão, meu filho
e meus amigos vamos pagar limpo
a quem a gente deve
e receber limpo do nosso freguês.
Com o tempo a gente consegue
ser livre, ético e o escambau.
Dirão: é inútil, todo mundo aqui é corrupto,
desde o primeiro homem
que veio de Portugal.
E eu direi: não admito.
Minha esperança é imortal.
E eu repito: ouviram? Imortal.
Sei que não dá pra mudar o começo.
Mas, se a gente quiser,
vai dar pra mudar o final.

7 comentários :

Anônimo disse...

Eu tenho dúvida de que a gente vai conseguir. Gostaria de ser mais otimista como a poeta, mas é tanto roubo nesse país, que bate a descrença. Esse povão aí, que é a pópria Panelona, faz parte da elite Asalpiana. Aqueles que sempre se deram bem na foto. Mas como sempre há um porém, tem gente nessa lista que é só doença gravíssima, tem filhos dientes, drogaditos e por aí vai. Papai do céu sabe o que eles fazem e fizeram no verão passado.

Anônimo disse...

Obrigado ELISA LUCINDA, você me fez descer lágrimas de emoção por pensar que devo ser assim desde sempre, acho que sou, pelo menos tento ser. E você agora levantou meu astral com tudo. Somos muito devagar para agir quando se trata da ética. Temos que ser mais intransigentes, mais duros, mais sacanas quando nos deparamos com a menor forma de corrupção, seja uma furada de fila ou uma injustiça descarada qualquer.
Peço licença para publicar esse poema redes sociais afora.
Obrigado ao Barata também.
Fernando.

Anônimo disse...

Fernando,
Tenho certeza que como Elisa, você, eu e a maioria, somos assim: éticos. Infelizmente os que são minoria, fazem um estrago muito grande nesse país.
Sofia

Anônimo disse...

Quem ama de verdade sua família, amigos e a Deus, não pode pensar nem agir diferente. Os que se locupletam nesse lamaçal de corrupção ainda estão longe do verdadeiro sentido da vida, que é amar o bem e não os bens. São infelizes, solitários e vazios, muito embora (na maioria das vezes), aparentem o contrário.

Anônimo disse...

Barata faz um Post sobre Lixo Urbano e Hospitalar, pois o MPE só vê o problema ao redor de Belém.

O MPE devia ir em São João de Pirabas, pois lá o Prefeito reeleito através de um Esquema Criminoso Eleitoral (assunto para depois), hoje o assunto é Lixo e Ele manda jogar o Lixo Urbano, Entulhos e o Lixo Hospitalar num só local, Ramal da Vila do Pacamorema e o pior próximo ao Mangue, vou te mandar umas Fotos desta área e da Sede do Clube do Independência que teve uma área desmatada, mas por enquanto prefiro o anonimato.

Anônimo disse...

A Ética perdura através da história da humanidade, mas como os não éticos teem vantagens imediatas os fracos aderem a eles e causam danos aos vulneráveis. Nem se tocam quanto à sua vulnerabilidade. A maior riqueza do ser humano é respeitar aos demais. Ainda bem que hoje temos maior divulgação dos atos nefastos daqueles corruptos que se locupletam com os recursos públicos, que usam dos orgãos públicos para privilegiar seus familiares atuais e passados, comparsas e relações clandestinas.É questão de tempo, SÓ TEMPO.

Unknown disse...

Gosto muito de vc Elisa, a primeira vez que te vi foi no Teatro Nacional em Brasília no “Não falem mal da rotina”, até comprei seu livro. Depois outras vezes , até no cinema, te vi e hoje, escutei sua poesia “Só de sacanagem “ obrigada!