Na entrevista concedida ao Diário do Pará, abaixo transcrita, Inri Cristo, ou Inri de Indaial, omite seu confronto com Fernando Lúcio Miranda, o Fernando Arara, que o jornalista Carlos Mendes trata de resgatar. Um caso típico de memória seletiva, porque a ele convém que assim seja.
Cristo, segundo ele mesmo
Não bastasse o nome, Belém é uma cidade conhecida pela sua religiosidade. Seja pelo Círio de Nossa Senhora de Nazaré, procissão católica que leva 2 milhões de fiéis às ruas da capital paraense no segundo mês de outubro. Ou ainda pelas simpatias, mandingas e poções das erveiras do mercado do Ver-o-Peso, um dos maiores cartões postais da região.
Ela foi palco de outro marco místico: a fundação da Suprema Ordem Universal da Santíssima Trindade (Soust), igreja encabeçada por Inri Cristo. Apesar de ser catarinense, o líder religioso que se autointitula a reencarnação de Jesus afirma que nasceu de novo em Belém.
Há 30 anos, na manhã do primeiro domingo de quaresma, ele reuniu uma multidão convocada através de uma entrevista na extinta TV Guajará e invadiu a Igreja da Sé durante uma missa. A ação realizada na tentativa de “expulsar os fariseus vendilhões” como descreve uma reportagem da revista Veja da época, culminou com a quebra de um crucifixo e sua detenção por 15 dias no presídio São José.
Batizada de “Ato Libertário”, a celeuma é tida pelo profeta como o anúncio oficial para o mundo da volta do Messias, que a partir daí deixou de lado o apelido de Inri de Indaiá, em referência à sua cidade natal, para adotar sua atual identidade.
Mesmo tendo deixado Belém poucos meses depois do ocorrido para viver em Curitiba, de onde se mudou em 2006 para o seu atual endereço, o bairro do Gama, em Brasília, a capital paraense é uma recordação constante. No portão alto da chácara que serve de sede da Soust, além de moradia para Inri e seus discípulos, é adornado pela seguinte inscrição: “Reino de Deus instituído na Terra por Inri Cristo em 28/02/1982”.
“Belém é a minha alma. Indescritivelmente, indubitavelmente, inadvertidamente e indissociavelmente. Continuo amando aquela cidade, com todo o meu coração. Quer saber realmente a importância de Belém em minha vida?”, afirma sentado em seu trono, enquanto aponta para a parede do escritório. Uma foto em preto e branco mostra um jovem Inri liderando um mar de pessoas. “Tinha dez mil pessoas comigo na hora da revolução. Essa cidade me acolheu”.
A entrevista ocorreu no dia 18 de setembro, sob o pretexto de relembrar um assunto hoje considerado tabu para o religioso: justamente a criação de sua igreja. “Eu tinha jurado que não ia mais tocar nesse assunto, mexer com isso de novo. Tudo que eu tinha pra falar já está nos livros, no site. Já estou em uma outra fase”, afirma o senhor de 64 anos, já mostrando sinais da idade com alguns proeminentes fios brancos no cabelo e na barba, mas sem perder seu inconfundível sotaque.
De fato, Inri está muito bem, obrigado. Vive em uma confortável propriedade de 20 mil hectares localizada a 35 quilômetros da capital federal. Lá, ele vive ao lado de um grupo de pouco mais de uma dezena de discípulos - ele não confirma os números. Vegetariano e celibatário, o grupo planta parte do que come na fazenda, além de dispor de conveniências como piscina. Mas o que o deixa mais confortável nas terras do planalto central, que considera a “Nova Jerusalém”, é achar que o local é consagrado para o surgimento da nova ordem mundial.
Entretanto, a vontade de se reaproximar do público paraense falou mais alto. “Belém tinha um lado muito provinciano na época. Era uma cidade muito conservadora, mas ao mesmo tempo muito exótica. Eu lamento muito não poder ter ficado lá, já que a mídia não podia falar comigo. É uma das cidades mais sublimes. Só me importam as boas lembranças que eu tenho de lá”, justifica. Algum nobre cristão se habilita a perdoá-lo?
Quando você visitou Belém pela primeira vez?
Em 1981. Já tinha percorrido a França, onde vivi por nove meses. Quando voltei ao Brasil, desembarquei em Salvador (BA), e de lá parti para uma peregrinação por todo o norte e o nordeste do país. Quando eu cheguei a Belém do Pará, os recursos que os franceses me deram estavam quase no fim.
Viajava de ônibus, sem saber o que me esperava, apenas guiado pelas ordens do meu Pai. Ao chegar na rodoviária peguei um táxi e desci no hotel Santa Alice, na Padre Eutíquio, no quarto mais econômico que tinha. Caminhava só com uma sacola e minha túnica: eu lavava minha única peça de roupa à noite, para de manhã estar seca. Lá eu recebi ordens do Senhor para que eu me preparasse, que naquele hotel coisas iriam acontecer. Fui esperar do lado de fora do prédio. Até que uma jovem de uns 20 anos parou. E conversou comigo, conforme o Senhor sabia que ia acontecer. “Escuta, quem é o senhor?”, ela perguntou. Eu fiquei meio assim. “Da onde é que o senhor veio? O senhor não aceitaria me dar uma entrevista? Eu sou estagiária em um jornal e precisava fazer uma matéria”, disse a repórter. Era exatamente isso que meu Pai planejava. Eu precisava me comunicar com o público. Ela entrou no hotel, ligou do telefone da portaria. Dai já veio uma equipe de jornalistas. Depois das minhas aparições no jornal e na tevê, eu tinha que andar escondido no porta-malas do carro. Eu era assediado. As pessoas queriam me tocar, como se eu fosse uma coisa.
Então o que o fez sair da cidade?
Meu pai ordenou que eu continuasse minha peregrinação. Ele pedia pra que eu avaliasse cada catedral, pra escolher qual seria o lugar para praticar o “Ato Libertário”. Fui em todas as capitais brasileiras, sem jamais questionar o Senhor o porquê. Jamais. Em Caxias do Sul aconteceu o ensaio da “revolução”. Eu discursava para 3 mil pessoas em praça pública, próximo à catedral, quando meu Pai disse: “vai lá”. Era missa das 10h, só tinha granfino nessa hora. Aí, meu Deus me ordenou: quebre a estátua [em referência a imagem de Jesus Cristo]. Eu teria consumado o ato se não fosse o fato de que a estátua era de ferro. Foi então que recebi outra ordem do meu Pai para voltar. “A capital do Pará está preparada para a revolução”, disse o Senhor. “Ela tem todo o mistério”, disse o Senhor. Até o nome dela conecta-se contigo. Lá tu tens que renascer misticamente. Pessoas ignorantes troçam que eu deveria saber de tudo, mas não, eu não sei tudo. Apenas meu Pai sabe. Eu só vejo as coisas que ele me revela.
Como se deu o incidente na Igreja da Sé?
Eu caí nas graças do dono da extinta TV Guajará. Me convidaram para falar durante uma hora ao vivo. Era uma sexta-feira. Convoquei o povo para me encontrar no domingo, na praça Dom Pedro II. Foi a coisa mais incrível que aconteceu. Eu cheguei umas 8horas da manhã na praça. Eram dez mil pessoas, de acordo com a polícia. E eles me seguiram até a Igreja da Sé. Daí quando cheguei lá, a porta estava aberta. Entrei. Eu lembro como se fosse agora, nunca vou esquecer o que aconteceu. Estava lá o “padreco” fazendo a cerimônia dele. Quando me viu, cutucou o outro que estava do lado dele. Assim como o papai cutuca o filhinho. “Olhaí, chegou e está fazendo arte”. Cheguei no altar central e subi nele. No momento que eu cheguei alí, o padreco gritou, histericamente: “Não tem homem nessa terra?”.
Mas os homens estavam ali comigo, do meu lado, me carregando. [levanta e imposta a voz, deixando seu sotaque ainda mais carregado e incompreensível] “Saiam daqui seus ladrões mentirosos. Vendilhões de falsos sacramentos. Adoradores de ídolos. Eu sou Cristo!”. Disse: “agora vocês vão ver que não passa de um bonequinho”. E mostrei que aquilo ali era um engodo, uma mentira. E que eu sou de carne e osso.
Como foi o seu período no presídio São José?
Eu fiquei na cela dita de segurança máxima. Dividia o espaço com umas 30 pessoas. Eu me senti muito bem lá. Eu vou lhe dizer uma coisa, eu me senti em casa. Nunca fui hostilizado, nada.
Belém é uma cidade muito católica. Como era a reação das pessoas na época? Elas se sentiam divididas em relação a você?
Sim, muito. Só que os meus seguidores não. Apenas os que estavam em cima do muro. Durante o período que eu estava lá, a sociedade inteira estava dividida. Depois que eu saí, foram apertando o cabresto. Mas durante todos os 15 dias em que eu fiquei na prisão ia gente me visitar, fora o pessoal da imprensa.
O senhor guarda alguma mágoa do que aconteceu?
O que eu fiz em Belém, para mim, foi um dos gestos mais sublimes da minha vida. Foi quando eu libertei o meu povo do jugo, da idolatria e da mentira. Eu dei muitos murros em ponta de faca. Eu discuti com cientistas, com ateus, com padrecos como esse Quevedo. E cheguei à seguinte conclusão: não adianta dar murro em ponta de faca. Sabe quem são os que me amam? Os que amam a liberdade.
4 comentários :
"Eu me senti muito bem lá. Eu vou lhe dizer uma coisa, eu me senti em casa" kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
faxia tem que nao ria tanto: "Eu me senti muito bem lá. Eu vou lhe dizer uma coisa, eu me senti em casa" kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
"Eu fiquei na cela dita de segurança máxima. Dividia o espaço com umas 30 pessoas. Eu me senti muito bem lá" kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
isso que é ato falho!!!!!!kkkkkkkkkkkkkk
pela memória daqueles tempos, Inri rebolou na sucupira e maçanraduba dos 30; vejo na entrevista que as lembranças dele no presidio são as melhores.
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