Paraense, nascido em Castanhal, Silvio Kanner é engenheiro agrônomo, formado pela UFRA, a Universidade Federal Rural da Amazônia. Há 12 anos funcionário do Basa, o Banco da Amazônia S/A, no qual é técnico cientifico 3 e atua como analista de projetos, ele ostenta uma respeitável militância sindical, com destaque para o status de presidente da AEBA, a Associação dos Empregados do Banco da Amazônia. E quanto questionado sobre qual a garantia de que não repetirá os equívocos de seus adversários, na possibilidade de uma vitória, ele cita justamente sua administração como presidente da AEBA. “A garantia é nossa gestão na AEBA. Nossos compromissos foram todos cumpridos e a receita para isso é fazer uma gestão democrática. O sindicato é da categoria, é dos bancários, essa é a idéia fundamental, essa é nossa proposta basilar. Disso nós não abrimos mão”, assinala, na entrevista ao Blog do Barata, que segue abaixo.
Qual a análise que você faz da situação dos bancários, hoje, no Pará, seja na capital, seja no interior?
A situação dos bancários aparece para a sociedade como algo de muito bom. Há uma imagem de salários elevados, abundancia de direitos é ótimas condições de trabalho. Essa imagem, porém, não corresponde perfeitamente à realidade dos fatos. Essa imagem de superemprego surgiu com o (ex-presidente Fernando) Collor, o pretenso caçador de marajás, e foi passando para os demais presidentes, inclusive o ex-presidente Lula, que inaugurou nos bancos federais as praticas anti-sindicais contra as greves. O Brasil ainda vive a imagem do emprego bancário da década de 1980.
A verdade é que os bancários, assim como os metalúrgicos, foram duramente afetados pela reestruturação produtiva da década de 90. Nessa década, o projeto neoliberal proporcionou um amplo processo de modernização tecnológica que reduziu drasticamente a quantidade de empregos no setor, isso somado às “modernas” técnicas de gestão adotadas, inclusive pelos bancos federais. Essa técnica de gestão por resultados é, na verdade, uma máquina de produzir arrocho salarial, assédio moral, doenças ocupacionais e insegurança. Esses problemas são comuns aos bancários e bancárias tanto da capital quanto do interior, porém no interior os problemas se agravam pela ausência de estruturas sociais de suporte como educação, saúde, saneamento, etc. Sem falar que o problema da insegurança é muito agravado.
Por outro lado, o avanço dessas técnicas de gestão, como todos podem perceber pela sede insaciável de lucro dos bancos, está diretamente relacionado com a passividade e ausência de independência política do sindicalismo bancário. Vejam que os bancários são os empregados das empresas mais lucrativas do país; a cada cinco anos um dos grandes cinco bancos duplica seus ativos, mas em termos salariais estamos muito atrás dos petroleiros, dos servidores federais e dos próprios metalúrgicos que como nós, bancários, foram duramente afetados pela reestruturação produtiva da década de 90, conforme já sublinhei.
O movimento sindical bancário precisa mudar, renovar suas lideranças para, a partir daí, começar a construir uma resistência capaz de promover alterações no plano estratégico dos banqueiros e do governo. A história é feita de mudanças e está na hora de mudar a história dos bancários no Pará.
O que o motiva a disputar a eleição do Sindicato dos Bancários e quais as suas credenciais para assumir esse desafio?
Sou motivado, principalmente, pelo sentimento de que precisamos resistir, reagir ao que nos tem sido imposto pelos banqueiros e pelo governo federal na gestão dos bancos. Acompanho o dia-a-dia dos bancários e bancárias do Pará e conheço cada uma das dificuldades. Tenho mais de dez anos no movimento bancário, já disputei quatro eleições sindicais, a última inclusive nossa chapa saiu vencedora. Tenho certeza que podemos fazer um trabalho infinitamente melhor, pelo simples fato de que não temos compromisso com mais ninguém além de cada bancário e bancária. Não somos amarrados politicamente, somos independentes, experientes e preparados. Conheço as demandas de todos os bancos, conheço todo o estado do Pará, participei de todos os processo de greve da categoria desde 2003, participei de todos os encontros, congressos e conferências da categoria no Pará. Sou motivado, especialmente, pela certeza de que há muita omissão da diretoria do sindicato, produto do atrelamento partidário com o governo e os banqueiros. Por diversos momentos a atual diretoria do sindicato ficou do lado do governo contra os bancários.
Sem o calor de uma estrutura político-partidária que em tese alavanca seus adversários, sua candidatura é para valer, ou você na verdade surge como um anticandidato, para marcar posição diante do aparelhamento do sindicato?
Nossa candidatura não tem como finalidade apenas marcar posição; viemos de um processo de acúmulo de forças que nos legou 47% dos votos nas eleições anteriores. Teremos apoio de outros sindicatos. tanto de bancários como de outras categorias, e organizamos uma chapa para vencer as eleições. Nossa chapa é mais representativa no Banco do Brasil, no Banco da Amazônia e no Banpará, mas temos representatividade também nos bancos particulares e no interior, e temos uma presença histórica da oposição na Caixa Econômica Federal.
Além disso, a diretoria atual, completamente vinculada ao partido do governo, está há 20 anos à frente do sindicato e percebemos, quando estamos nos bancos em campanha, que há claramente um desejo de mudança nessa eleição. Faremos uma campanha forte, porém alegre, baseada em propostas concretas e em posicionamentos sindicais bem fundamentados. Os aventureiros estão na chapa da reeleição; as verdadeiras lideranças da categoria estão na Chapa 2 – Unir os Bancários para Mudar o Sindicato. Não tenho duvidas que sairemos vitoriosos.
“Faremos uma gestão transparente.
Vamos publicar nossas contas no
site do sindicato, acabar com
as diárias gordas para viagens.”
Além do discurso populista, que aparentemente cativa o eleitorado da categoria, a situação bancária vem contando, para se manter no poder, com uma aparente falta de unidade da oposição. O que você pensa fazer para driblar esses dois obstáculos e, assim, tornar concretas suas possibilidades de vitória?
Achamos que a melhor unidade possível é a unidade da categoria. O Brasil vive um momento de consolidação democrática e percebe-se que os brasileiros estão sempre em busca de novas alternativas de mudança nas lideranças. Nossa chapa representa a oposição unificada. Lideranças expressivas do Banco do Brasil, Banpará, Caixa, Banco da Amazônia e de bancos privados estão na nossa chapa. Isso significa uma unificação pela base, pelo que há de mais autentico e vivo na categoria bancária.
Podemos certamente esperar da chapa adversária, que tenta mais uma reeleição, o uso de um discurso populista, mas a categoria sabe que discurso sem resultados é vazio e os resultados faltam para a atual diretoria, que não dá resposta aos problemas da categoria. Além disso, podemos esperar o uso de ataques pessoais e baixarias típicas de campanhas, mas não vamos nos deixar abater. Vamos fazer uma campanha limpa, séria e honesta com a categoria. É isso que nos garantirá a vitória.
São históricas e recorrentes as denúncias de utilização, pela situação, da máquina administrativa nas eleições do Sindicato dos Bancários. O que, de concreto, pode ser feito para impedi-la?
De concreto, somente a participação da categoria pode resolver esse problema. Por isso queremos transformar nossa campanha em uma grande mobilização da categoria, queremos a categoria participe ativamente do processo eleitoral, estamos inclusive diante de uma comissão eleitoral que não garante a imparcialidade do processo, como foi divulgado até pelos jornais de grande circulação.
Quais são os principais compromissos de gestão que embalam sua candidatura?
O primeiro e mais importante é fazer um gestão independente. O atrelamento partidário ao governo é muito danoso às nossas lutas. Isso nos levará a pautar diretamente os governos, nos processos de campanha salarial, o que hoje não feito, pois a atual diretoria atua para blindar o governo federal. Quando o governo é do seu partido, eles o protegem, quando é do partido adversário, eles atacam. Nosso critério não é esse, nosso critério é a luta dos bancários e bancárias independente dos governos, banqueiros e partidos.
Faremos também uma gestão de luta, presente, atuante e qualificada, na defesa da categoria. Onde houver um problema, o sindicato estará lá para resolvê-lo. Faremos uma gestão democrática, dando voz aos bancários em nosso site, permitindo que participem das reuniões com direito a voz, proporcionaremos a participação dos bancários do interior nas decisões da categoria.
Faremos uma gestão transparente. Vamos publicar nossas contas no site do sindicato, acabar com as diárias gordas para viagens. Vamos levar adiante imediatamente bandeiras como as 7 e 8 horas em todos os bancos, abandonada pelo sindicato; montar um sistema de monitoramento da segurança bancária; proporcionar assessoria jurídica descentralizada e para além da Justiça do Trabalho. Vamos criar uma delegacia sindical em Bragança e fortalecer as existentes hoje. Vamos mudar a dinâmica da campanha salarial, com presença do sindicato na base. Assumimos um compromisso com a categoria de mudar a postura do sindicato.
“O atrelamento partidário ao governo
é muito danoso às nossas lutas e
a atual diretoria do sindicato
atua para blindar o governo.”
Quais garantias que você oferece de que, na eventualidade de vitória, não vá incorrer no desvio da partidarização do sindicato, tal qual fizeram os petistas, depois que chegaram ao comando da entidade?
A garantia é nossa gestão na AEBA. Nossos compromissos foram todos cumpridos e a receita para isso é fazer uma gestão democrática. A idéia fundamental é que o sindicato é da categoria, é dos bancários. Disso nós não abrimos mão.
Que mensagem você teria a dirigir ao conjunto dos bancários, nesse primeiro momento do processo eleitoral dos bancários?
Sem luta não pode haver vitória e sem independência não pode haver luta séria. É por isso que eles (da situação) ficaram ao lado da diretoria da Caixa na implantação do REG Replan; por isso fazem acordo em ações judiciais com transito em julgado favorável aos trabalhadores; por isso não enfrentam a diretoria do Basa; por isso apoiaram o governo e a diretoria do Basa no projeto Capaf (Caixa de Previdência Complementar do Banco da Amazônia), que retira direitos dos trabalhadores; por isso assinaram um acordo no Banpará com redução de direitos; por isso demoraram tanto tempo para enfrentar o debate de 7 e 8 hora no Banco do Brasil.
Quero chamar atenção especialmente para os integrantes da Chapa 2. São pessoas sérias, honestas, sempre presentes nos momentos de luta da categoria, com experiência e respeitados nos seus bancos. Acho, sinceramente, que essas pessoas são as melhores para conduzir nossa entidade. Por isso, peço o voto de todos os bancários e bancárias a favor da mudança! No dia 23 de abril vote Chapa 2 – Unir os Bancários para Mudar o Sindicato. A hora da mudança chegou, vamos mudar para melhor! Queremos uma oportunidade da categoria para fazer diferente à frente do Sindicato dos Bancários.
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